Jornal do Commercio

Etanol sobe junto com a gasolina. Por quê?

- EDILSON VIEIRA edvieira@jc.com.br

Quem está pensando em aderir ao etanol para escapar dos aumentos sucessivos da gasolina, é bom fazer umas contas antes. Ao mesmo tempo que a gasolina subiu 34% este ano, o etanol acompanhou as altas e já custa, em média, R$ 4 o litro no Grande Recife. Apesar de não ser um derivado do petróleo, ou ser considerad­o uma commodity (produto com preço determinad­o pelo mercado internacio­nal), o etanol sempre acompanha os aumentos da gasolina.

O presidente do Sindcombus­tíveis-PE, que congrega donos de postos de combustíve­is no Estado, Alfredo Pinheiro Ramos, diz que essa relação é determinad­a pelo mercado. Não há um preço base na produção, como acontece com a Petrobras que determina o preço nas refinarias. “Toda vez que a gasolina sobe o etanol acompanha e fica naquela margem entre 65% e 70% do preço da gasolina. É a lei do mercado. É bom lembrar que isso acontece também porque a gasolina C, vendida nos postos, tem 27% de álcool anidro.Se uma sobe, a outra acompanha”.

Outros fatores influencia­m o preço do etanol. Se o mercado externo do açúcar está com preço em alta, as usinas vão

ÁLCOOL

Sindcombus­tíveis diz que o próprio mercado eleva os preços

preferir produzir açúcar, isso pode encarecer o preço do álcool combustíve­l. Até a primeira quinzena de janeiro as usinas de Pernambuco tinham produzido 743,07 mil toneladas de açúcar, cerca de 10,17% a mais em relação ao mesmo período da safra anterior. Já a expectativ­a de produção de etanol para a safra de 2020/2021 é de redução entre 4% e 5%.

Com a redução na produção, e o fim da safra e da moagem da cana em Pernambuco agora em março, a tendência é de haver elevação no preço do etanol. Mas há outros fatores que pesam na composição do preço. Alfredo Ramos cita o estado de São Paulo, onde o preço médio do litro do etanol chega a ser R$1 mais barato.

“O custo de produção em São Paulo é menor, porque lá a lavoura é mecanizada. Além disso, o ICMS paulista sobre o etanol é de 13% e aqui é de 25%”, explica. Atualmente, o etanol responde por 30% a 35% das vendas dos postos em Pernambuco, assinalou o presidente do Sindcombus­tíveis.

ECONOMIA

O motorista de aplicativo Alexandre Santos, na maior parte do tempo, usa gás natural veicular no automóvel, para “sobrar algum lucro e levar pra casa”, diz ele, que paga cerca de R$ 3 pelo metro cúbico do gás. Mas, como a autonomia do GNV não é suficiente para rodar o dia inteiro sem parar para abastecer, Alexandre conta que tem de recorrer à gasolina, mesmo o produto estando acima dos R$ 5 por litro. “Não boto etanol porque acho que não compensa”, afirmou.

Para o consultor automotivo Alexandre Costa, da Alpha Consultori­a, é possível economizar utilizando o etanol em substituiç­ão a gasolina. Mas é preciso ficar atento a alguns detalhes. “O poder calorífico do etanol é menor e faz o carro gastar mais energia, digamos assim, para se locomover, o que aumenta o consumo”. O consultor lembra que, por gastar mais, muita gente acha que o etanol é “mais fraco”, e tenta compensar acelerando mais o carro. “É justamente o contrário. O motor ganha mais potência com etanol, então exige menos esforço.”

Alexandre Costa diz ainda que a velha fórmula de que o etanol deve custar até 70% do preço da gasolina para valer a pena já está ultrapassa­da. “Esse cálculo foi feito em 2003. Hoje, quase 20 anos depois, os motores evoluíram muito e rendem mais com qualquer combustíve­l”. Alexandre acredita que a régua da paridade pode ser ampliada para 73% ou até 75%, dependendo do veículo.

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