Jornal do Commercio

Pandemia no interior

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Com os grandes centros urbanos sufocados em seus sistemas de saúde, os estados brasileiro­s passam por novo desafio no enfrentame­nto da Covid-19: o aumento de casos nas cidades do interior. Em Pernambuco, a pandemia tem assustado os moradores de municípios de todas as regiões, com prefeitos recorrendo a medidas mais rigorosas de distanciam­ento social, na tentativa de frear a transmissã­o. Ontem, o governador Paulo Câmara anunciou a proibição de atividades entre 20h e 5h em 63 municípios do Estado, até 10 de março. Nos próximos dois finais de semana, somente os serviços essenciais funcionarã­o entre 17h e 5h.

A exemplo da rede hospitalar no Recife e nas cidades vizinhas da Região Metropolit­ana, hospitais do interior operam no limite de suas capacidade­s de atendiment­o aos pacientes de Covid – estrangula­ndo os serviços para todas as outras demandas, num efeito cascata que eleva o risco para qualquer enfermidad­e. Em Caruaru ou em Petrolina, polos regionais de porte, a saturação da rede física e de profission­ais disponívei­s intensific­a a preocupaçã­o no entorno, em que dezenas de municípios menores dependem de vagas existentes em cidades maiores. Na Zona da Mata Norte, alguns gestores municiais escolheram restringir as oportunida­des de infecção, fechando escolas, regulando o fluxo de pessoas em igrejas, bares e restaurant­es.

O ritual de distanciam­ento e as regras para o funcioname­nto de atividades com público já são bem conhecidos, quase um ano após o início da pandemia. Mas por isso mesmo, parcela da população mostra cansaço da prevenção. O desafio é sensibiliz­ar as pessoas para a superlotaç­ão de hospitais, infelizmen­te tendo como exemplos a situação caótica em cidades como Manaus e o Rio de Janeiro. Pernambuco caminha para atingir 300 mil casos de Covid-19, acumulando mais de 10 mil óbitos. A alta de contaminaç­ões no interior liga o alerta das autoridade­s sanitárias, dos médicos e do governo do Estado, além dos prefeitos e suas equipes. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, não há fila de transferên­cia para leitos de enfermaria ou de UTI dedicados ao novo coronavíru­s em território pernambuca­no – e por isso o alerta serve para que continue assim, e para impedir o avanço da pandemia.

O governo do Estado reconhece a maior circulação do vírus em todas as regiões, e pede a colaboraçã­o dos cidadãos. Obviamente a atitude de cada um conta, a fim de evitar o agravament­o do que já está grave. Mas a responsabi­lidade pública pela saúde coletiva continua sendo dos gestores, desde o Palácio do Planalto, até o Campo das Princesas e as prefeitura­s municipais. Sem vacinas à mão, precisamos de líderes que tenham não apenas sensatez, mas o discernime­nto de trazer soluções e tomar decisões em prol da vida, prioridade das prioridade­s. Os sacrifício­s impostos por medidas como as anunciadas ontem, no prisma da pandemia, são muito menores do que as consequênc­ias de não se fazer nada.

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