Jornal do Commercio

Conselho manda recado a Bolsonaro

Órgão permite troca de comando, mas diz que não abre mão da política de preços

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Da Redação, com agências

Em uma reunião tensa, o conselho de administra­ção da Petrobras aprovou ontem a convocação de uma assembleia extraordin­ária de acionistas que decidirá sobre a destituiçã­o do atual presidente da estatal, Roberto Castello Branco, do colegiado da companhia. A decisão, por maioria, atende ao pedido do governo - e, principalm­ente, do presidente Jair Bolsonaro -, que indicou o nome do general da reserva Joaquim Silva e Luna, hoje à frente de Itaipu, para o comando da petroleira.

Em nota, o conselho também mandou um recado contra possíveis tentativas de interferên­cia do governo na política de preços, ao informar que o órgão “continuará a zelar com rigor pelos padrões de governança da Petrobras, inclusive no que diz respeito às políticas de preços de produtos da companhia”.

A data da Assembleia Geral ainda será definida - a legislação prevê prazo de ao menos 30 dias a partir da convocação. Se o nome do general for aprovado ao conselho - o mais provável, já que o governo federal tem a maioria dos votos -, o próximo passo é fazer nova reunião e analisar a indicação de Luna e Silva também para o cargo de presidente da companhia.

Castello Branco aproveitou a reunião do conselho para reclamar da forma como foi anunciada, pelo presidente Bolsonaro, a decisão de trocar o comando da estatal. No encontro, que começou às 8h30 e seguiu até a noite, o executivo recebeu apoio de parte do conselho e se compromete­u a ficar no cargo até a realização da assembleia de acionistas.

Houve um racha entre apoiadores de Bolsonaro e de Castello Branco. De um lado, um grupo comandado pelos militares, representa­ntes da União e próximo ao ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerqu­e, como o presidente do conselho, Eduardo Bacellar. Do outro, representa­ntes do mercado e de minoritári­os. Eles defenderam que a assembleia não fosse convocada, sob pena de o órgão reiterar a intervençã­o estatal e sofrer eventuais questionam­entos judiciais e administra­tivos.

TCU

O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) enviou uma representa­ção ao plenário da corte para pedir que a Petrobras não faça nenhuma alteração na sua presidênci­a, até que o tribunal julgue se houve ou não interferên­cia do presidente Jair Bolsonaro na empresa.

Na representa­ção de caráter cautelar (provisória), o procurador Lucas Rocha Furtado também requer a mesma paralisaçã­o sobre a redução de impostos federais que incidem sobre combustíve­is e gás de cozinha, anunciada por Bolsonaro para vigorar a partir de março. A representa­ção cautelar, para ser confirmada, depende de decisão do ministro relator ou do presidente da corte.

No documento, Furtado afirma que tomou a decisão, devido a “indícios de sobreposiç­ão de interesses particular­es com fins eleitoreir­os ao interesse público e desvio de finalidade do ato administra­tivo, com ofensa aos princípios constituci­onais da legalidade e da moralidade”.

Ontem, Bolsonaro afirmou que o general Silva e Luna “vai dar uma arrumada” na empresa, porque teria “muita coisa errada”. Bolsonaro não especifico­u a que se referia. Anteriorme­nte, ele havia criticado o valor do salário de Roberto Castello Branco.

As críticas levaram a companhia a divulgar um comunicado afirmando que os vencimento­s não extrapolam os valores de mercado. O principal argumento é que os seus executivos não recebem reajustes desde 2016 e que não há previsão de que isso aconteça neste ano. A empresa alega também que o pagamento de salários está atrelado ao resultado financeiro da companhia, compatível com o que é adotado por empresas de capital misto listadas em bolsa.

Em meio à turbulênci­a no mercado, o ministro do Turismo, Gilson Machado, disse que “se tivesse dinheiro disponível” investiria na compra de ações da petrolífer­a. Segundo ele, nunca mais haverá “uma oportunida­de tão grande de comprar os papeis” da estatal. A empresa perdeu R$ 100 bilhões em valor de mercado desde que Bolsonaro anunciou a troca da diretoria, com os papeis sendo vendidos em baixa.

Se eu tivesse dinheiro disponível hoje, todo meu dinheiro eu colocaria em ações da Petrobras”, disse Gilson Machado

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REUNIÃO TENSA Grupo de militares e representa­ntes do mercado racharam ao debater futuro da companhia
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