Jornal do Commercio

123 mortes sem culpados?

- RAPHAEL GUERRA rguerra@tvjornal.com.br JC,

Se a dor de quem perdeu um parente para a violência já é indescrití­vel, o sentimento provocado pela impunidade só faz aumentá-la. Para 123 famílias, a justiça talvez nunca seja feita. Ao menos é que o mostram as estatístic­as da Polícia Civil de Pernambuco. No ano passado, 2.467 investigaç­ões de Crimes Violentos Letais Intenciona­is (CVLIs) foram concluídas. No entanto, 123 desses inquéritos foram encerrados pela polícia sem apontar os responsáve­is pelas mortes violentas.

Para o presidente da Associação de Delegados de Polícia do Estado de Pernambuco (Adeppe), Bruno Bezerra, esse resultado é consequênc­ia da falta de investimen­tos do governo estadual na Polícia Civil. “Possuímos um efetivo muito baixo, delegacias de polícia com estrutura física precária, falta de equipament­os, de cursos de capacitaçã­o, de investimen­to em inteligênc­ia”, afirmou.

O déficit histórico de delegados para tantas investigaç­ões será diminuído até o final do ano, quando 50 aprovados em concurso passarão pelo curso de formação, a partir de abril. No ano que vem, segundo promessa do governo estadual, mais 50 serão formados.

O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) se posicionou sobre as investigaç­ões concluídas sem a identifica­ção dos possíveis autores dos CVLIs. Em nota, o MPPE disse que “tem todo o cuidado de fiscalizar os casos que chegam sem autoria definida. Quando a Polícia Civil encaminha o inquérito policial para o Ministério Público sem constar a autoria, caso o promotor de Justiça avalie que a investigaç­ão ainda pode ser prolongada, que ainda há fontes a serem ouvidas, fatos a serem apurados, ele irá diligencia­r e pedir para que a polícia continue buscando essa informação”.

O MPPE enviou à Justiça 1.053 denúncias (com autoria) referentes aos CVLIs registrado­s no ano passado. O órgão pontuou que “os inquéritos, especialme­nte os relativos a homicídios, só são arquivados quando o promotor verifica que foram esgotadas as investigaç­ões e não tem como encontrar o autor do crime”.

Além dos casos encerrados sem apontar a autoria, a Polícia Civil ainda precisa concluir 38% das investigaç­ões referentes às 3.757 mortes violentas contabiliz­adas no ano passado no Estado.

Um dos casos que está sem resposta é o do catador de materiais reciclávei­s Jeovah Claudino Rodrigues, de 62 anos. A

SEM SOLUÇÃO vítima foi morta com cerca de cinco tiros na Estrada do Arraial, Zona Norte do Recife, na manhã do dia 11 de novembro de 2020. Imagens de câmeras mostraram o momento em que Jeovah caminhava pela rua, puxando a carroça, quando um homem sai do carro, se aproxima e dispara os tiros. Até hoje, o suspeito não foi preso. A Polícia Civil confirmou que o caso segue em investigaç­ão. “O delegado Ian Campos está conduzindo o inquérito policial”, informou a nota.

Procurada, a assessoria da Secretaria de Defesa Social (SDS) não comentou as 123 investigaç­ões que foram concluídas sem identifica­r os autores dos crimes. Na nota enviada ao destacou que, a cada ano, está aumentando a taxa de resolução dos inquéritos de CVLIs. “Em 2017, por exemplo, essa taxa foi de 39,2%. O índice foi progredind­o até chegar ao patamar do ano passado (62%), muito superior à média nacional para o período”, informou.

“O trabalho de fortalecim­ento das polícias Civil e Científica, com expansão de unidades e renovação da tecnologia para identifica­ção de suspeitos (a exemplo do banco de DNA), tem o objetivo de ampliar a conclusão de inquéritos e reduzir a impunidade”, disse a SDS.

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Homicídio de catador de reciclávei­s na Estrada do Arraial, no Recife, continua em investigaç­ão
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