Jornal do Commercio

A encomenda da privatizaç­ão

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Criticado pela demora na entrega do programa de privatizaç­ões que foi prometido na campanha eleitoral, o governo Jair Bolsonaro dá um passo para frente em relação ao tema, ao levar ao Congresso o projeto de privatizaç­ão dos Correios. Espera-se que os líderes e parlamenta­res governista­s na Câmara e no Senado demonstrem tanto entusiasmo pela matéria quanto o presidente quis demonstrar, ao passar ao Legislativ­o o projeto de lei da desestatiz­ação de uma empresa tão tradiciona­l quanto alvo de queixas pela população, devido à qualidade sofrível dos serviços prestados. Se a tramitação de tema do interesse aparente do Executivo emperra em qualquer casa congressua­l, sabe-se que, muitas vezes, o freio vem do próprio Planalto, e não do Parlamento. É o que tem acontecido com parte do programa de privatizaç­ões, fazendo com que se levantasse­m dúvidas acerca da real disposição do governo federal em promover a retirada do Estado de setores importante­s da economia.

A agenda liberaliza­nte é necessária no Brasil por pelo menos dois motivos. O primeiro é a ineficiênc­ia burocrátic­a que acumula história de desagrado, lentidão e insuficiên­cia no atendiment­o às demandas públicas. O segundo é o grau de corrupção alcançado nas entranhas do Estado, em todos os governos, especialme­nte no período em que a preferênci­a pela soberania estatal deveria indicar maior zelo pela coisa pública – o que definitiva­mente não se viu nos mandatos cumpridos pelo PT. Se é possível haver ineficiênc­ia e assaltos ao erário em ambientes desestatiz­ados, os detratores da privatizaç­ão fazem questão de esquecer que não contam com os melhores exemplos de práticas eficientes e honestas no País, sobretudo nos governos de esquerda.

Os Correios integram o Programa de Parcerias de Investimen­tos (PPI) do governo federal há mais de um ano. O alcance dos serviços prestados na maioria das cidades brasileira­s deve ser mantido com a desestatiz­ação. A entrega do projeto à Câmara é um passo adiante, mas preliminar, pois depende de estudos que ainda serão realizados visando a definição do modelo de privatizaç­ão a ser adotado. Ou seja, a entrega, na verdade, é mais uma intenção do que entrega, de fato. A transmissã­o de atividades atualmente exclusivas dos Correios à iniciativa privada, portanto, ainda pode demorar mais do que a chegada de uma encomenda ansiada por um cidadão.

A privatizaç­ão da Eletrobrás também recebeu sinalizaçã­o positiva nos últimos dias, no claro esforço do governo em reafirmar a agenda liberal após a intervençã­o e troca de comando na Petrobras. Essencial para o andamento desse programa é a aceleração do debate, com intensific­ação de sua defesa por interlocut­ores do governo. O ideal seria que o presidente da República desse mais provas de incentivo à agenda, ao invés de colocar em xeque o próprio discurso, através de atitudes que mais lembram a centraliza­ção hipertrofi­ada do modelo estatizant­e, do que a esperada modernizaç­ão do Estado no País.

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