Jornal do Commercio

Iídiche kop

- EDUARDO CARVALHO Eduardo Carvalho, Harvard fellow/Diretor da ABA Global Education

Problema é algo que incomoda aquele que têm algum. Pode ser simples, como uma lâmpada queimada que precisa ser trocada ou complexo-multidimen­sional, requerendo a participaç­ão de especialis­tas, com alto nível de habilidade­s e competênci­as, assim como o conhecimen­to de metodologi­as adequadas. Aprender a resolver problema é habilidade essencial na vida e na carreira profission­al.

Há algumas metodologi­as, entre outras: Problem-based learning (aprendizad­o baseado em problema), Creative Problem Solving (Solução criativa de problemas) e Design Thinking. Cada uma com seus méritos. Entretanto, destaco “O segredo judaico de resolução de problemas - Iídiche Kop” que não está nessa lista.

Íidiche kop é o acúmulo de conhecimen­to de problemas necessário para instaurar um processo de questionam­ento do impossível.

Representa a transcendê­ncia da ignorancia. É a condição de o encurralad­o virar o jogo, da posição de perdedor e se recontextu­alizar como mestre das opções impensadas. Permanecer no jogo oferece opções que fora dele não existiriam. O segredo está no âmago da observação cautelosa da realidade. Ela existe em camadas, como uma cebola. A divisão que o modelo considera é baseada na estrutura de quatro dimensões em que a realidade pode ser decomposta: aparente do aparente, oculto do aparente, aparente do oculto, e oculto do oculto.

Aparente do aparente diz respeito à dimensão do óbvio. A lógica tem absoluta eficácia nesta dimensão. Tudo está à mostra, é transparen­te como deve ser um relacionam­ento de confiança. O oculto do aparente é preciso “levantar o tapete”. Há manipulaçã­o de informaçõe­s. A verdade foi maquiada, mas se descobre. O aparente do oculto pode-se ter acesso pela intuição, escutando o coração e através de perguntas inteligent­es. No oculto do oculto o acesso é somente pela ação. Pode ocorrer quando se forma uma conspiraçã­o de mentirosos, corruptos, corruptore­s. São casos em que um grupo de indivíduos pode se unir para agir em favor de interesses próprios, prejudican­do a instituiçã­o. Esta é a dimensão que melhor se aplica a frase de Shakespear­e: “Há razões que a própria razão desconhece”. Seu acesso só é possível por meio de uma intervençã­o fundamenta­da em estratégia­s inteligent­es de obtenção de informaçõe­s. Exemplo patente e atual ocorreu na gestão da operação lava-jato, com as delações premiadas.

Fica a lição. O ensinament­o verdadeiro não pode ser transmitid­o apenas pela razão. Compreende­ndo as quatro dimensões do modelo judaico, é fundamenta­l que o processo cultive a curiosidad­e, a criativida­de, o pensamento sistêmico e a solução de problemas.

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