Carnaval, não! Quaresma, sim!
Agraça de Deus nos permitirá vivenciarmos mais uma Quaresma. No último dia 17, iniciamos, com a celebração da quarta-feira de Cinzas, a nossa caminhada para a Páscoa. Também, como acontece há mais de sessenta anos, aqui no Brasil, abrimos a Campanha da Fraternidade 2021. A chamada geral que o Senhor Jesus nos fez, através da Igreja, foi: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (cf. Mc 1,15).
Ai de quem pensar que já está convertido, pois, enquanto estivermos no caminho, estaremos precisando de conversão, movimento lógico e natural da fé cristã. Não é um estado adquirido e sim um ato permanente, um processo. A Igreja nos ensina, iluminada pela Palavra, que este é um tempo favorável. Um tempo de luta contra tudo o que é contrário à vontade de Deus. Crer no Evangelho significa abrir-se para Deus. Se cada cristão deixar Deus entrar na sua vida, então, tudo nele mudará, acontecendo a passagem da tristeza à alegria, da desesperança à fé, do medo à fortaleza, da escravidão à liberdade, do egoísmo ao amor.
A Quaresma é um retiro de quarenta dias, onde fazemos a experiência do deserto, momento de nos esvaziarmos de tudo que não seja de Deus, travando uma luta para alcançar o desapego, a austeridade, a solidariedade; enfrentando, corajosamente, a solidão e a tentação; fortalecendo-nos, assim, para tomar decisão. Como mãe, conhecendo as fraquezas do seus filhos e filhas e recordando as palavras de Jesus, a Igreja nos receita três remédios, para tomarmos, em dosagem mais forte, durante este tempo de caminhada e de deserto: a esmola que nos ajuda a abrir-nos às necessidades dos irmãos e irmãs; a oração que nos faz entrar em comunhão e familiaridade com Deus, enquanto escuta da Palavra; e o jejum que nos dá uma disciplina na vida, para melhor seguirmos os mandamentos divinos, dando-nos força para renunciar, para dizer não a tudo aquilo que não faz parte do projeto de Deus para sua obra, criada com tanto carinho.
A Campanha da Fraternidade, iniciada em 1964, é mais um projeto de evangelização da CNBB (Conferência Nacional do Bispos do Brasil), para ajudar na vivência da Quaresma de cada ano. Este ano, como já aconteceu em 2000, 2005, 2010 e 2016, é uma CFE (Campanha da Fraternidade Ecumênica), trazendo como Tema: Fraternidade e diálogo: compromisso de amor. E como Lema: “Cristo é a nossa paz, do que era dividido fez uma unidade”. (Ef 2,14a). É ecumênica porque, além da Igreja Católica, outras Igrejas Cristãs, em especial as que fazem parte do CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs), escolheram o tema e o lema, prepararam o material, em especial o texto base, programaram celebrações para o durante e também para o depois da Campanha. E, o mais importante, querem vivenciar como Igrejas
Cristãs os objetivos da CFE 2021, oriundos do tema e do lema escolhidos, estimulando a encontrar caminhos de comunhão e fraternidade à luz do Evangelho. Foi decidido como tema geral: convidar as comunidades de fé e pessoas de boa vontade a pensarem, avaliarem e identificarem caminhos para superar as polarizações e violências através do diálogo amoroso, testemunhando a unidade na diversidade. Vale, ainda, destacar alguns pontos dos objetivos específicos: contribuir para superar as desigualdades; promover a cultura do amor, como forma de superar a cultura do ódio; fortalecer a convivência ecumênica e inter religiosa; estimular o diálogo e a convivência fraterna como experiências humanas irrenunciáveis, em meio a crenças, ideologias e concepções em um mundo cada vez mais plural.
z Mons. José Albérico Bezerra de Almeida é Cura da Catedral Metropolitana - Sé de Olinda