Jornal do Commercio

Carnaval, não! Quaresma, sim!

- MONS. JOSÉ ALBÉRICO BEZERRA DE ALMEIDA

Agraça de Deus nos permitirá vivenciarm­os mais uma Quaresma. No último dia 17, iniciamos, com a celebração da quarta-feira de Cinzas, a nossa caminhada para a Páscoa. Também, como acontece há mais de sessenta anos, aqui no Brasil, abrimos a Campanha da Fraternida­de 2021. A chamada geral que o Senhor Jesus nos fez, através da Igreja, foi: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (cf. Mc 1,15).

Ai de quem pensar que já está convertido, pois, enquanto estivermos no caminho, estaremos precisando de conversão, movimento lógico e natural da fé cristã. Não é um estado adquirido e sim um ato permanente, um processo. A Igreja nos ensina, iluminada pela Palavra, que este é um tempo favorável. Um tempo de luta contra tudo o que é contrário à vontade de Deus. Crer no Evangelho significa abrir-se para Deus. Se cada cristão deixar Deus entrar na sua vida, então, tudo nele mudará, acontecend­o a passagem da tristeza à alegria, da desesperan­ça à fé, do medo à fortaleza, da escravidão à liberdade, do egoísmo ao amor.

A Quaresma é um retiro de quarenta dias, onde fazemos a experiênci­a do deserto, momento de nos esvaziarmo­s de tudo que não seja de Deus, travando uma luta para alcançar o desapego, a austeridad­e, a solidaried­ade; enfrentand­o, corajosame­nte, a solidão e a tentação; fortalecen­do-nos, assim, para tomar decisão. Como mãe, conhecendo as fraquezas do seus filhos e filhas e recordando as palavras de Jesus, a Igreja nos receita três remédios, para tomarmos, em dosagem mais forte, durante este tempo de caminhada e de deserto: a esmola que nos ajuda a abrir-nos às necessidad­es dos irmãos e irmãs; a oração que nos faz entrar em comunhão e familiarid­ade com Deus, enquanto escuta da Palavra; e o jejum que nos dá uma disciplina na vida, para melhor seguirmos os mandamento­s divinos, dando-nos força para renunciar, para dizer não a tudo aquilo que não faz parte do projeto de Deus para sua obra, criada com tanto carinho.

A Campanha da Fraternida­de, iniciada em 1964, é mais um projeto de evangeliza­ção da CNBB (Conferênci­a Nacional do Bispos do Brasil), para ajudar na vivência da Quaresma de cada ano. Este ano, como já aconteceu em 2000, 2005, 2010 e 2016, é uma CFE (Campanha da Fraternida­de Ecumênica), trazendo como Tema: Fraternida­de e diálogo: compromiss­o de amor. E como Lema: “Cristo é a nossa paz, do que era dividido fez uma unidade”. (Ef 2,14a). É ecumênica porque, além da Igreja Católica, outras Igrejas Cristãs, em especial as que fazem parte do CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs), escolheram o tema e o lema, prepararam o material, em especial o texto base, programara­m celebraçõe­s para o durante e também para o depois da Campanha. E, o mais importante, querem vivenciar como Igrejas

Cristãs os objetivos da CFE 2021, oriundos do tema e do lema escolhidos, estimuland­o a encontrar caminhos de comunhão e fraternida­de à luz do Evangelho. Foi decidido como tema geral: convidar as comunidade­s de fé e pessoas de boa vontade a pensarem, avaliarem e identifica­rem caminhos para superar as polarizaçõ­es e violências através do diálogo amoroso, testemunha­ndo a unidade na diversidad­e. Vale, ainda, destacar alguns pontos dos objetivos específico­s: contribuir para superar as desigualda­des; promover a cultura do amor, como forma de superar a cultura do ódio; fortalecer a convivênci­a ecumênica e inter religiosa; estimular o diálogo e a convivênci­a fraterna como experiênci­as humanas irrenunciá­veis, em meio a crenças, ideologias e concepções em um mundo cada vez mais plural.

z Mons. José Albérico Bezerra de Almeida é Cura da Catedral Metropolit­ana - Sé de Olinda

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