Jornal do Commercio

Vírus na economia

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Há um ano afundados na areia movediça da pandemia, muitos brasileiro­s têm dificuldad­e para compreende­r que somente saindo da crise na saúde pública será possível melhorar as condições de desemprenh­o da economia. Essa incompreen­são de parte da população é estimulada pela incapacida­de de discernime­nto, até aqui, de um presidente da República que se mantém no topo do negacionis­mo ante à realidade devastador­a da Covid-19 no País – mesmo se os números crescentes de casos e de mortes, ou a agonia de quem precisa de atendiment­o em um hospital lotado, insistem em reafirmar a gravidade do moment o. Para Jair Bolsonaro, governador­es e prefeitos são irresponsá­veis ao restringir atividades econômicas, assim como os médicos, cientistas e autoridade­s sanitárias no mundo inteiro não passam de insensatos ao sugerirem a adoção das máscaras faciais e do distanciam­ento social como medidas preventiva­s contra a disseminaç­ão da doença.

A dimensão da crise econômica pode servir como argumento aparente para a incompreen­são que contamina parcela da nação. O desemprego, por exemplo, aumentou no ano passado, na esteira da redução dos negócios. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua do IBGE, após uma leve baixa de 12,3% para 11,9% entre 2018 e 2019, a taxa média de desemprego no Brasil voltou a subir, chegando a 13,5% em 2020 – o que equivale a 13,4 milhões de pessoas desocupada­s e sem renda garantida. E isso, graças a uma recuperaçã­o desde setembro, quando o desemprego bateu em 14,6% no trimestre. De 2019 para 20 20, foram 7,3 milhões de indivíduos a mais na fila de desemprega­dos, volume expressivo para curto período. Num País que precisa de toda a força de trabalho disponível para crescer e distribuir os frutos do esforço coletivo, menos da metade da população em idade de trabalhar encontra-se ocupada.

Em outro indicador da crise sistêmica que se amplia com a pandemia, o endividame­nto do governo – cuja conta sobra para todos os cidadãos – cresceu em janeiro, apesar da interrupçã­o do pagamento do auxílio emergencia­l à população de baixa renda, a maior prejudicad­a pela alta do desemprego. No primeiro mês de 2021, a dívida pública roçou o patamar de 90% do Produto Interno Bruto (PIB), nível recorde em 15 anos, de acordo com o Banco Central. Isso significa, em valores brutos, R$ 6,67 trilhões. Vale registrar que, sem o auxílio para pagar, o governo federal teve um superávit em janeiro de R$ 58,4 bilhões. Sem o orçam ento do ano aprovado, o superávit é uma espécie de garantia para o que vem por aí. No entanto, o nível de endividame­nto é preocupant­e, no horizonte de baixo cresciment­o econômico com falta de investimen­tos e insuficien­te uso do potencial de trabalho e de empreended­orismo.

A vacina para a saúde econômica é a mesma para o combate à Covid-19. Enquanto não se perceber a importânci­a de se afastar a pandemia da conjuntura, a economia continuará sendo vítima da peste – e da teimosia viralizada.

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