Jornal do Commercio

Cerveja artesanal de mel sai do laboratóri­o

- MARCELO APRÍGIO maprigio@sjcc.com.br

Nem só da exportação de frutas vive o Vale do São Francisco, no Sertão pernambuca­no. Foi de lá que alunos e professore­s do Instituto Federal do Sertão Pernambuca­no (IF Sertão-PE) criaram uma cerveja própria, que tem atraído olhares de diversas partes do Brasil. Batizada comercialm­ente de “Royal Honey Beer”, a bebida foi desenvolvi­da no laboratóri­o da própria instituiçã­o por uma equipe de pesquisado­res coordenada pelo professor Marcos dos Santos Lima.

O diferencia­l do produto pernambuca­no está na fórmula, que conta com um ingredient­e encontrado apenas no Sertão: o mel produzido por abelhas que polinizam as flores da caatinga. “A ‘Royal Honey Beer’ (@royalhoney­beer) é um produto novo, criado para valorizar o mel orgânico silvestre que já é produzido nos sertões pernambuca­no e baiano, e exportado para a Europa”, afirma o professor Marcos Lima. Segundo ele, a ideia da cerveja, de estilo American IPA, deu tão certo que a cervejaria PROA já registrou o produto no Ministério da Agricultur­a, Pecuária e Abastecime­nto (Mapa) para a empresa Rei do Mel, sediada em Remanso, na Bahia.

De acordo com o proprietár­io da fábrica da bebida artesanal,

Adição do mel das abelhas da caatinga criou um diferencia­l

Carlos Pires, a inserção do mel sertanejo na produção da cerveja é um estímulo aos pequenos produtores da região, que foram fortemente impactados com a queda da venda do produto no mercado internacio­nal, por causa da pandemia de covid-19. “O produto, que logo de início teve uma excelente receptivid­ade em eventos, tem grande potencial e é muito bem desenvolvi­do. Vai, inclusive, poder ajudar os pequenos apicultore­s do Vale”, diz Pires, frisando que a bebida, de fato, “é muito saborosa”.

O resultado foi comemorado pela aluna do curso de Tecnologia em Alimentos e uma das bolsistas do projeto Emilly Thayná. “Foi uma experiênci­a de grande responsabi­lidade, mas gratifican­te por pensar, produzir e participar de cada etapa da receita e ver que tudo saiu conforme planejado e ainda com aceitação pelo público”, conta ela.

O projeto, que é multidisci­plinar e envolve cerca de 21 alunos dos ensinos médio, técnico e superior dos cursos das áreas de Alimentos, Computação, Química, Física e Eletrotécn­ica do câmpus Petrolina do IF Sertão-PE, é voltado para o atendiment­o de demandas do setor microcerve­jeiro e deve seguir até agosto deste ano testando novas fórmulas para o produto.

Inclusive, a paixão por cervejas artesanais no Sertão tem impulsiona­do o mercado, que apresenta tendência de expansão. Desde de 2017, por exemplo, centenas de pessoas se reúnem anualmente no Festival de Cerveja Artesanal do Vale do São Francisco, que na última edição contava com nada menos que 29 rótulos de 22 estilos diferentes de cervejas.

NOVOS INGREDIENT­ES Desde julho de 2019, os cervejeiro­s podem adicionar matérias-primas de origem animal na composição do produto, como leite, chocolate com leite e mel, o que permitiu o início do projeto no IF Sertão-PE. A permissão foi dada por meio de um decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O documento, porém, não alterou o limite mínimo de utilização de malte de cevada e outros cereais na cerveja. Todos os critérios relativos à composição, à rotulagem e à classifica­ção do produto continuam estabeleci­dos na Instrução Normativa (IN) 54/2001.

Assim, os chamados “adjuntos cervejeiro­s”, que são as matérias-primas que substituem o malte ou o extrato de malte na elaboração da bebida, continuam limitados. Seu emprego não pode ser, em conjunto, superior a 45% em relação ao extrato primitivo.

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