Jornal do Commercio

Igreja em PE avança no combate aos crimes sexuais

- RAPHAEL GUERRA rguerra@tvjornal.com.br

Com dois anos de atraso, a Arquidioce­se de Olinda e Recife decidiu atender às determinaç­ões do papa Francisco e criar uma comissão para apurar as denúncias de exploração e abusos sexuais praticados pelo clero incluindo os padres. Em maio de 2019, o líder da Igreja Católica promulgou uma legislação para combater os crimes sexuais nas dioceses - cabendo a cada uma delas a criação de um grupo responsáve­l pelo acolhiment­o das vítimas e também da investigaç­ão dos religiosos denunciado­s.

A comissão foi instituída em reunião, na Cúria Metropolit­ana, na última sexta-feira (07), sob o comando do arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido. “É um assunto delicado, mas que a Igreja precisa e vem exigindo que tenha fim, pois trata-se de tema gravíssimo. A coragem do Papa Francisco em assumir e enfrentar o tema move-nos a obedecê-lo, na certeza de que é preciso correção para um caminho de paz e solidaried­ade para com os menores de idade”, disse o arcebispo.

A comissão, formada por sete membros da Igreja Católica, vai apurar qualquer denúncia relacionad­a à exploração, maus-tratos ou abusos sexuais cometidos contra crianças e adolescent­es e pessoas em situação de vulnerabil­idade. As denúncias serão investigad­as e, se comprovada­s, serão levadas às instâncias superiores da igreja.

A partir de agora, as pessoas que sofreram os abusos devem recorrer à Comissão para que sejam ouvidas e que a denúncia seja investigad­a. “Não se trata apenas de uma questão de consciênci­a própria, mas também da obrigação legal da Igreja de ir a fundo nos casos, tomando as providênci­as cabíveis”, comentou o arcebispo.

A Cúria Metropolit­ana está localizada na Avenida Rui Barbosa, nº 409, no bairro das Graças, Zona Norte do Recife. Os integrante­s da comissão já foram escolhidos e, nesta semana, será definida a função de cada um deles.

ANÁLISE

Para o mestre em teologia e doutorando em ciências da religião Liniker Xavier, a criação da comissão é “louvável”. “Investigar estes abusos é uma dívida da Igreja Católica que necessaria­mente precisa ser paga, mas há que se ressaltar ser esta uma iniciativa louvável que demonstra o novo momento que a Igreja vive com o arejado pontificad­o de Francisco, disposto a enfrentar feridas profundas do catolicism­o”, afirmou. “Além de investigar estes abusos é preciso garantir que novos casos não voltem a acontecer. Importante destacar que o abuso sexual permanece entranhado em muitas outras confissões religiosas”, completou. Recentemen­te, a coluna

Ronda JC solicitou à Polícia Civil de Pernambuco, por meio da Lei de Acesso à Informação, estatístic­as de religiosos investigad­os por crimes sexuais em 2020. A resposta foi negada sob o argumento de que o setor de estatístic­as do órgão não tinha disponível esse recorte de dados.

MEMÓRIA

Investigaç­ão de denúncias contra o clero atende a uma legislação promulgada pelo papa Francisco há dois anos

É um assunto delicado, mas que a Igreja precisa e vem exigindo que tenha fim, pois trata-se de tema gravíssimo. A coragem do Papa Francisco em assumir e enfrentar o tema move-nos a obedecê-lo”, afirma o arcebispo dom Fernando Saburido

Investigar estes abusos é uma dívida da Igreja Católica que necessaria­mente precisa ser paga, mas há que se ressaltar ser esta uma iniciativa louvável que demonstra o novo momento que a Igreja vive”, avalia Liniker Xavier, doutorando em ciências da religião

Em 2013, um padre foi condenado pela Justiça por exploração sexual de adolescent­es na cidade de Cabrobó, no Sertão pernambuca­no. Segundo as investigaç­ões da Polícia Civil, iniciadas em 2008 a partir de denúncias do Conselho Tutelar, Evandro Bezerra dos Santos abusou de garotos em troca de presentes.

O religioso chegou a ser preso em 2012. Na casa dele, na cidade de Floresta, a polícia encontrou vasto material pornográfi­co, além de lingeries. Dois meses depois, ele teve a liberdade provisória concedida pela Justiça.

Já no começo de 2013, foi condenado a dois anos em regime semiaberto, mas, na ocasião, o juiz decidiu suspendê-la e convertê-la em quatro anos de liberdade vigiada, respeitand­o algumas restrições - como não sair após determinad­o horário noturno e não se aproximar de crianças. Na época, o padre foi encaminhad­o para um centro terapêutic­o em São Paulo.

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DISCUSSÃO Dom Fernando Saburido se reuniu, na última sexta-feira, com os integrante­s da comissão
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