Diretor da Pfizer, na CPI, reforça tese de gabinete paralelo
Executivo da farmacêutica disse que Carlos Bolsonaro participou de tratativas de vacinas
Da Agência Estado
Odepoimento prestado à CPI da covid pelo presidente da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, reforçou a suspeita de senadores de que o presidente Jair Bolsonaro recorria a um gabinete paralelo de aconselhamento para tomar decisões sobre a condução da crise do coronavírus. Ao destacar ontem as nove ofertas de doses da vacina encaminhadas pela Pfizer, Murillo disse que o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), o assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Filipe Martins, e o ex-secretário de Comunicação Social da Presidência, Fábio Wajngarten, participaram de reunião, no ano passado, para tratar da compra de imunizantes.
O núcleo de consultoria de Bolsonaro, defensor de tratamento precoce com cloroquina - medicamento sem eficácia comprovada - e crítico do lockdown atuou de forma paralela ao Ministério da Saúde, que só firmou contrato com a Pfizer em março. Então presidente da empresa no Brasil à época das negociações, Murillo calculou ter feito nove propostas diferentes ao Brasil, em cinco datas, mas só a décima foi aceita.
Durante três meses - de agosto a novembro -, os contatos da farmacêutica foram ignorados pelo governo brasileiro. O CEO da Pfizer, Albert Bourla, chegou a enviar uma carta a Bolsonaro e a várias autoridades brasileiras no dia 12 de setembro, mas não obteve resposta.
Ao ser questionado pelo presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), o executivo afirmou que, se o primeiro contrato
Brasil ignorou empresa e perdeu 4 milhões de doses do imunizante
com a Pfizer tivesse sido aceito, em agosto do ano passado, o País teria um total de 18 milhões de doses até junho, 4 milhões a mais do que o previsto no atual contrato. Somente em agosto, a Pfizer apresentou duas ofertas, uma de 30 milhões de doses e outra de 70 milhões.
A existência de um gabinete paralelo ao Ministério da Saúde no aconselhamento do presidente já havia sido apontada pelos ex-ministros Nelson Teich e Luiz Henrique Mandetta em depoimentos à CPI, na semana passada. Além de Carlos Bolsonaro e Filipe Martins, são conselheiros de Bolsonaro nessa área o deputado e ex-ministro da Cidadania Osmar Terra (MDB-RS), a médica Nise Yamaguchi, defensora da cloroquina, e o tenente Luciano Dias Azevedo, pós-graduado em Medicina.
‘PALHAÇADA’
Em visita a Maceió (AL), ontem, Bolsonaro chamou Renan de “falastrão”. Na terra do senador, o presidente citou o depoimento de Murillo à CPI. “Acabou a palhaçada, acabou a narrativa sobre a compra ou não da vacina Pfizer no ano passado. Fechamos o contrato, há pouco com a Pfizer: em vez de ser o total de 70 milhões, fechamos em 100 milhões”, afirmou.
“É o tempo todo o pessoal enchendo ‘Cadê a vacina?’. Eu já respondi ano passado. Até perdi a paciência, porque são vidas humanas em jogo. Tirando os países que produzem, o Brasil está em primeiro lugar. Hoje é o quarto país que mais vacina no mundo”, afirmou. Bolsonaro disse que não podia assinar contrato com a Pfizer no ano passado porque havia “muita incerteza jurídica”.
Pelo Twitter, Carlos saiu em defesa do pai. “A todo custo tentam impedir um filho de ficar próximo do pai. Por que se sentem tão incomodados? Sei que existem pessoas que não gostam dos seus e outros “forçam” você a não gostar do seu”, escreveu. Procurado, Filipe Martins não se manifestou.