Jornal do Commercio

AGU pede habeas corpus ao STF

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A Advocacia-Geral da União (AGU) acionou ontem o Supremo Tribunal Federal (STF) para blindar o exministro da Saúde Eduardo Pazuello em depoimento à CPI da covid, garantir o direito ao silêncio e inclusive barrar qualquer possibilid­ade de prisão durante a fala aos senadores. O depoimento de Pazuello aos senadores, considerad­o crucial para os trabalhos da comissão, está marcado para a próxima quarta-feira (19).

Ao deixar o cargo, o general ligou sua demissão a um complô de políticos interessad­os em verba pública e “pixulé”. Na avaliação de senadores, Pazuello sabe de escândalos que podem compromete­r o governo.

Ao entrar com um habeas corpus preventivo no STF, a AGU apontou risco de “constrangi­mentos” a Pazuello, no sentido de se “buscar uma confissão de culpa”, o que seria imprópria e inadequada no Estado Democrátic­o de Direito.

A equipe jurídica do governo apresentou três pedidos: o direito ao silêncio, para Pazuello não produzir provas contra si mesmo e somente responder às perguntas que se refiram a fatos objetivos, livrando-o “da emissão de juízos de valor ou opiniões pessoais”; o direito de se fazer acompanhar de advogado; e o direito de não sofrer quaisquer ameaças ou constrangi­mentos físicos ou morais, como a prisão.

Em uma petição de 25 páginas, a AGU aponta que o receio de Pazuello sofrer constrangi­mentos pode ser confirmado por conta do depoimento do exsecretár­io de Comunicaçã­o Social da Presidênci­a Fabio Wajngarten. Há dois dias, ele quase foi preso depois de ser pego mentindo durante o depoimento.

De acordo com técnicos do STF, o habeas corpus deve ser distribuíd­o livremente entre os integrante­s da Corte. Ficam de fora do sorteio o presidente do STF, Luiz Fux, que não recebe esse tipo de processo, e o decano do STF, Marco Aurélio Mello, por força de uma emenda regimental que o impede de ganhar novos processos nos 60 dias anteriores à aposentado­ria.

Esta é a primeira vez que a AGU desloca uma equipe para orientar o depoimento de um ex-ministro, segundo a reportagem apurou com servidores do órgão e quatro ex-titulares da pasta. Na CPI do Cachoeira, criada em 2012 para investigar as relações entre parlamenta­res e o contravent­or Carlinhos Cachoeira, foram escalados advogados da União para acompanhar os trabalhos dos parlamenta­res, mas a situação era diferente.

Em um movimento inédito, Pazuello passou a ser assessorad­o pela AGU para traçar sua estratégia de defesa na CPI. O general da ativa já se reuniu ao menos duas vezes com advogados da equipe da AGU que estão coletando documentos sobre aquisição de respirador­es e fabricação de cloroquina para subsidiá-lo na CPI.

Pazuello devia ter deposto durante a primeira semana da CPI, mas o Exército, do qual ele ainda é general da ativa, enviou um ofício aos senadores informando que ele havia tido contato com dois militares que testaram positivo para a covid-19 e, por isso, precisaria ficar em isolamento por duas semanas. O episódio ocorreu apenas alguns dias depois do ex-ministro circular sem máscara por um shopping de Manaus, no Amazonas, o que elevou ainda mais os ânimos da CPI.

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EX-MINISTRO Suporte jurídico da AGU a Pazuello é inédito no órgão

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