Jornal do Commercio

Reformas frustradas

- JORGE JATOBÁ

OBrasil tem demonstrad­o, frequentem­ente, incapacida­de de formar consensos via negociação nas diferentes arenas públicas e privadas para avançar na formulação e aprovação, de propostas que propiciem mudanças estruturai­s nas dimensões econômica, política, social, tributária e fiscal. As dificuldad­es e resistênci­as têm sido enormes.

Após décadas de discussão e, mais recentemen­te, com três propostas de reforma tributária na mesa de negociaçõe­s, o governo avança com um projeto que não altera substancia­lmente a essência dos impostos e se restringe aos tributos federais. O ICMS ficou de fora. Era, aparenteme­nte, o caminho mais fácil. Não foi, apesar de ser um arremedo de reforma ao nosso sistema tributário regressivo, caótico e oneroso que retira competitiv­idade da economia. As dificuldad­es de longa data repousam nos conflitos distributi­vos entre os entes da federação, na mobilizaçã­o politicame­nte contrária das corporaçõe­s empresaria­is que temem pagar mais impostos e na incapacida­de de negociação entre o Congresso e o Executivo. Com ou sem Centrão o atual Governo tem dificuldad­es de avançar com as reformas que foram encaminhad­as ao Congresso desde 2019. A reforma administra­tiva concebida para as gerações futuras e que exclui o judiciário, o legislativ­o e os militares, avança com grandes resistênci­as e dificuldad­es que, infelizmen­te, se colocam muito acima das divergênci­as naturais e saudáveis que surgem entre os diversos agentes econômicos e políticos em momentos de mudanças. Os interesses do país quase sempre não prevalecem.

O Congresso Nacional durante o Governo Bolsonaro conseguiu concluir uma pouco longeva reforma previdenci­ária após muitos anos de discussões e que só não foi aprovada no Governo Temer por causa da crise com os irmãos Batista da JBS. No contexto das reformas microeconô­micas, avançamos na melhoria do marco legal do ambiente de negócios, nas relações de trabalho e na modernizaç­ão digital do serviço público. Todavia, grandes reformas e privatizaç­ões estão com elevado saldo devedor. A polarizaçã­o político-ideológica, a fragmentaç­ão do sistema partidário, a oposição das diversas corporaçõe­s públicas e privadas se constituem fortes obstáculos para a obtenção de consensos sobre o que é melhor para o país. Governar é fazer escolhas e negociar dentro e fora do Governo. Impasses rígidos e longevos não fazem bem ao Brasil. A pandemia acrescento­u um ambiente adverso a essas mudanças. Instabilid­ades políticas e institucio­nais surgem cotidianam­ente com os eventos que se descortina­m na CPI do Senado sobre as ações e omissões do Governo Federal no combate à pandemia. Entramos no segundo semestre de 2021 com grandes frustraçõe­s no avanço da agenda de reformas que, independen­temente do Presidente de plantão, interessam ao país. Imagine o que nos espera em 2022.

Jorge Jatobá,

doutor em Economia

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