Jornal do Commercio

O amor pelo SUS e a pandemia

- PRISCILA LAPA E SANDRO PRADO

OSistema Único de Saúde (SUS) completará 31 anos de existência no mês de setembro de 2021. É por meio dele que o Estado brasileiro garante o direito constituci­onal de acesso à saúde pública a todo cidadão brasileiro, sem distinção de renda ou ideologia. Goste ou não do sistema, qualquer indivíduo pode utilizá-lo. O SUS é considerad­o um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde pública do mundo e tem como pilares básicos a Universali­dade (Direito de todos e dever do Estado); a Integralid­ade (atendiment­o resolutivo a toda área da saúde) e a Equidade (atendiment­o a pacientes de acordo com as necessidad­es individuai­s com justiça e igualdade).

A Pesquisa Nacional de Saúde, realizada pelo IBGE, em 2019, aponta que 71,5% dos brasileiro­s (mais de 150 milhões de pessoas) não possuem qualquer serviço de saúde suplementa­r, como planos médico-hospitalar­es ou odontológi­cos. Isso antes da pandemia. Com a perda de renda por parcelas de trabalhado­res, é possível que o acesso à saúde privada esteja ainda mais reduzido.

O orçamento da União previsto para 2021 é de R$ 125,8 bilhões.

...o sistema público de saúde está no centro da agenda nacional e nunca foram vistas tantas manifestaç­ões de apoio

Em 2020, a União aplicou R$ 161 bilhões e, em 2019, quando não havia pandemia, R$ 122,2 bilhões. A redução de recursos destinados ao SUS, em um momento tão necessário, gerou indignação em diversos segmentos da sociedade. A pandemia trouxe o sistema público de saúde para o centro da agenda nacional e nunca foram vistas tantas manifestaç­ões de apoio ao SUS pelos brasileiro­s.

Países como os Estados Unidos da América do Norte (EUA) não oferecem sistema público de saúde aos seus cidadãos. Dentro da ótica do livre mercado (neoliberal­ismo), por lá se entende que a saúde é uma responsabi­lidade de cada indivíduo, ou seja, cada pessoa deve custear as suas despesas com saúde, atuando o Estado apenas como regulador. A média de um plano de saúde nos EUA é de R$ 2 mil e o custo para se chamar uma ambulância é de cerca de R$ 7 mil.

O astrólogo Olavo de Carvalho – guru do bolsonaris­mo e mentor da extrema direita no país – veio ao Brasil para tratar da “doença do carrapato”. Estava internado nos EUA onde tinha que custear todo o tratamento. Segundo sua filha, aproveitar­ia do Sistema Universal de Saúde brasileiro para fazer o tratamento gratuito também de outros males que o acomete, como problemas cardíacos, diabetes e doenças no pulmão e rins.

Internado às pressas no Instituto do Coração (InCor), pertencent­e ao Hospital das Clínicas da Universida­de de São Paulo (USP), não pagará nenhum honorário. Em seus escritos e lives sempre achincalho­u o SUS e as Universida­des Públicas brasileira­s dizendo serem “pontos de distribuiç­ão de drogas e locais de suruba”. Pois é, parece que o digital influencer Olavo de Carvalho agora ama o SUS. Tomara que sirva de lição em um país de tantas contradiçõ­es.

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