Desmantelo ambiental
As enchentes na Alemanha, a onda de calor na Espanha e os incêndios florestais nos Estados Unidos são exemplos, para os cientistas, do agravamento da situação gerada pelas mudanças climáticas decorrentes do aumento da temperatura média da Terra.
Agravamento para a espécie humana, claro – o planeta já atravessou bilhões de anos de adaptações, incluindo eras glaciais que modificaram a geologia e a biosfera. O alerta de ameaça ambiental incide sobre o atual modo de vida da civilização global, baseado há mais de um século no consumo dos recursos naturais e na poluição da atmosfera.
A força das águas que destruiu vilarejos, matou pelos menos 150 pessoas e deixou centenas desaparecidas na Alemanha parece ter sido um evento singular em séculos. Políticos alemães que negavam as alterações climáticas, diante da catástrofe consumada, mudaram de opinião e já clamam por medidas emergenciais para conter as extremas manifestações do clima. Mas não foi por falta de aviso. Há algumas décadas os ambientalistas repetem que o efeito estufa na atmosfera iria provocar chuvas cada vez torrenciais, assim como períodos de calor agudo.
E esses são apenas os efeitos previsíveis de que se fala há muito tempo. Assim como o impacto das chuvas sobre os níveis dos rios na Alemanha não era esperado, o que vem pela frente em termos de resposta climática ao novo ambiente que vai se formando na Terra é, em grande parte, uma incógnita.
Esse novo ambiente planetário ganha um elemento de peso, quando a Amazônia vai se tornando agente emissor de gases poluentes, ao invés de absorvê-los. Como o JC mostrou ontem, estudo recente na revista Nature aponta que, de meio século para cá, o aumento de emissões de CO2 pela floresta amazônica aumentou em cerca de 50%. O desmatamento pelas queimadas, além de eliminar a vegetação que absorve o gás poluente, ainda solta mais CO2, através do fogo.
A redução da capacidade de absorção da floresta amazônica é considerada fator crucial para a evolução das mudanças climáticas, ao lado do derretimento em curso das calotas polares e do degelo das grandes extensões territoriais de solo congelado, o permafrost.
O aquecimento de 1,2 graus Celsius na temperatura do planeta desde a era industrial leva aos extremos na variação climática que surgem com clareza no enfrentamento de ondas de calor como a atual no hemisfério norte. Pesquisadores espanhóis projetam que essas ondas poderão dobrar de intensidade até 2050 na Península Ibérica. Segundo o estudo, o calor inclemente abrangerá uma área mais extensa, atingindo uma população maior na região.
As secas e ondas de calor triplicaram na Europa nos últimos 60 anos. E continuam aumentando. Nos Estados Unidos, a devastação dos incêndios florestais e também o calor nas cidades indicam a característica global das mudanças climáticas. O desafio, agora, é unir esforços em todos os países, para diminuir os danos presentes e futuros do desmantelo ambiental promovido pelo ser humano.