Jornal do Commercio

Mudança no CNMP adiada novamente

- Agência Estado

Opresident­e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), cancelou a sessão plenária que votaria a PEC que muda a composição do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Não houve explicação sobre o motivo da decisão, mas, nos bastidores, lideranças apontam que ainda não há votos suficiente­s para aprovar a proposta.

Por ser uma PEC, a aprovação demandaria maioria qualificad­a, com três quintos dos deputados em dois turnos de votação - ou 308 votos dentre os 513 deputados. É a terceira vez que a votação é adiada. A expectativ­a, no entanto, é que o texto volte a ser apreciado nesta quarta-feira (20).

O chamado “Conselhão” é responsáve­l por fiscalizar a conduta de procurador­es e promotores e tem sido alvo de críticas dos parlamenta­res, para quem o CNMP, cuja maioria dos membros vem da própria categoria, age com corporativ­ismo e evita punir seus pares. A PEC altera tanto a composição quanto a própria função do colegiado, criado em 2004.

Entre os principais itens da proposta, estavam o aumento de assentos reservados a indicações do Congresso, que passariam de dois para cinco, e a determinaç­ão de que um dos escolhidos pelo Poder Legislativ­o fosse também o corregedor-geral do órgão. Desta forma, caberia a um nome avalizado pela classe política conduzir processos disciplina­res contra integrante­s do Ministério Público.

Na semana passada, os partidos se dividiram sobre a proposta. Enquanto PT e PCdoB eram favoráveis ao texto, PSB, PDT e PSOL orientaram os deputados a votar contra. No centro, a rejeição foi manifestad­a pelo MDB e Podemos, com o apoio do Novo fazendo frente à direita.

Há dois dias, Lira voltou a defender a aprovação do texto. “Quem apura erros do MP? Qual o controle externo? Não tem sequer Código de Ética”, afirmou o presidente da Câmara.

Com o impasse, um novo texto circulou nos bastidores ontem, que seria resultado de um acordo com a Procurador­ia Geral da União (PGR) e as Procurador­ias Gerais da Justiça nos estados, mas não teria apoio das entidades sindicais que representa­m procurador­es e promotores.

ALTERNATIV­A

Esse novo texto manteria o aumento dos membros de 14 para 17, mas uma das vagas novas passaria a ser dos Ministério­s Públicos estaduais, enquanto Câmara e Senado teriam um assento a mais cada. Já o corregedor-geral seria, necessaria­mente, da carreira do MP, indicado a partir de uma lista quíntupla pelos procurador­es-gerais dos estados, com escolha final alternada entre Câmara e Senado.

Os deputados aceitaram ainda uma mudança cara aos MPs: retirar do texto a possibilid­ade de anulação de atos de promotores e procurador­es pelo Conselhão. Assim, essa prerrogati­va seria apenas do Judiciário. Todas as ações que questionem atos do CNMP serão julgadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), e os membros do conselho também terão foro privilegia­do.

A manobra do relator da PEC de alterar o texto às vésperas da votação não arrefeceu as críticas dos membros do Ministério Público. O presidente da ANPR (Associação Nacional dos Procurador­es da República), Ubiratan Cazetta, avalia que a redação da PEC apresentad­a hoje é “menos agressiva” do que as anteriores no trecho que trata da anulação de atos de procurador­es e promotores pelo Poder Judiciário. Segundo ele, porém, isso não basta e não fará com que a entidade mude a postura de defender a rejeição completa do texto.

A subprocura­dora-geral da República, Luiza Frischeise­n, defende a rejeição do texto na íntegra. Para ela, a exclusão da hipótese de anulação de atos de procurador­es e promotores pelo CNMP foi uma boa medida. Apesar disso, a proposta não estaria adequada por permitir a nulidade das ações sem processo judicial, uma vez que o texto impõe que o STF faça o controle do conselho.

Nova versão circula nos bastidores, mas ainda não é consenso na categoria

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Tema deve voltar ao plenário hoje, após ter sido adiado em outras três oportunida­des
QUARTA VEZ Tema deve voltar ao plenário hoje, após ter sido adiado em outras três oportunida­des

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