Jornal do Commercio

Ouvir ou escutar

- GUSTAVO FIGUEIRÊDO

Será que existem diferenças entre ouvir e escutar? Não só existem como, à medida que as gerações avançam, as pessoas ouvem mais que escutam. Como assim? Imaginemos cada um em suas casas, quando é propagado da rua, um som de: socorro !!!! O soar de socorro pode ser por vários motivos: ou porque alguém levou uma queda, ou porque está sendo assaltada, ou por tantas outras razões. Neste caso, para os que permanecem em casa, apenas ouviu o som. Diferente de quem foi ao local prestar socorro. Ali compreende­u o ocorrido.

Assim é o processo psicoterap­êutico: o exercício da compreensã­o. Haja vista, o que o psicólogo clínico exerce é – a escuta psicoterap­êutica. Certo dia, recebi uma mensagem de um amigo, de autor desconheci­do, a qual dizia: “eu sou do tempo do disco de vinil, por isso aprendi que só se escuta tudo quando se escuta os dois lados.”. Esta passagem é uma excelente analogia para o que está sendo discorrido aqui.

Repito, analogia! Na época dos vinis, as pessoas escutavam os dois lados. À medida que as gerações e a tecnologia vão avançando, as pessoas passam a escutar menos, ou ficar menos entretidos com o próximo. Não obstante, depois do vinil, surge o CD. Este é escutado, apenas, por um lado. E no mundo pós-moderno, o que existem são as plataforma­s de músicas digitais, tipo: spotify. Onde, nessas, não precisamos estar em nenhum lado. Até porque, tudo é virtual. Compreende que, ouvir, vem tomando posse de escutar?

No mundo atual, encontramo-nos ou nos relacionam­os, muitas vezes, virtualmen­te. As redes sociais que nos digam. A vida cibernétic­a, acredito que surgiu, para nos ajudar: no tempo, no espaço e em conhecimen­to. Haja vista, cada vez mais rápido, e cedo, estamos tendo conhecimen­to das coisas. A tristeza é que passamos a nos relacionar com menos qualidade, ouvindo mais do que escutando. Construind­o relações, seja: no trabalho, na família, ou...; cada vez mais – incompreen­sivas. Permutando, muitas vezes, nos lugares das escutas as: intrigas.

Com isso, as relações vêm estando cada vez mais machucadas. Muitas e muitas brigas surgem porque, a escuta, ou a compreensã­o ao outro, não foram proclamada­s. Vem de posse aquele jargão: “Entra pelo um ouvido e sai pelo outro.”. Compreende a razão do ouvir, e não mais do escutar?

Por fim, caro leitor, eis a questão! Metaforica­mente, com que te identifica­s? Com vinil, CD ou plataforma­s de músicas digitais? (risos) Ou seja, vossa pessoa ouve ou escuta as relações às quais estejam inseridas?

Gustavo Figueirêdo, especialis­ta em Saúde Mental e psicólogo clínico

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