Museus de Viena recorrem ao OnlyFans
Nem obras milenares, conhecidas por toda a humanidade, escapam da vigilância dos algoritmos das redes sociais quando se trata de nudez. O Facebook, por exemplo, chegou a derrubar uma foto de Vênus de Willendorf, uma estátua criada há quase 20 mil anos a.C. para representar a fertilidade feminina. A imagem havia sido postada na conta do Museu de História Natural de Viena. Episódios como esse fizeram as instituições de artes de Viena, capital da Áustria, criarem um protesto inusitado: museus e galerias estão postando imagens de parte de seus acervos na plataforma de conteúdos por assinatura OnlyFans.
Na plataforma, a pessoa paga uma assinatura para ter acesso ao conteúdo de determinado criador. Em tese, o OnlyFans serve a todo tipo de conteúdo, mas, pela restrição de idade diante das possibilidade de produção de conteúdo, sendo um serviço +18, e também por seu caráter de exibição sob pagamento, popularizou-se como um site/aplicativo para produtores de conteúdos sensuais e/ou sexuais.
Mas, em se tratando da experiência dos museus de Viena, o fato é que, agora, por cerca de U$ 4,99 por mês, os assinantes podem acessar peças pintadas e estátuas de instituições renomadas como o Museu Leopold e a Galeria Albertina. A atitude foi tomada pelo Conselho de
Turismo da capital austríaca.
Os museus de Viena sofreram uma série de censuras até desembarcarem no OnlyFans. Em julho, a conta da Galeria Albertina no TikTok foi bloqueada após exibir uma obra com mulheres nuas de Nobuyoshi Araki. Em setembro, foi a vez do Museu Leopold, que teve uma campanha de aniversário considerada como “potencialmente pornográfica” pelo Facebook por conta da ilustração de Art Nouveau Koloman Moser.
Segundo Helena Hartlauer, chefe de relações de mídia do Conselho de Turismo, a ideia de ocupar o OnlyFans com arte vai além de uma “jogada de marketing”. Os envolvidos querem iniciar um debate sobre os problemas que as mídias sociais trazem consigo. “Nós também queríamos fazer isso para mostrar solidariedade aos artistas que são censurados. Se você não pode mostrar sua arte nas redes sociais, isso pode realmente ser um obstáculo para seus esforços de comunicação e até mesmo para a sua carreira”, disse Helena, em entrevista ao ARTnews.
A discussão toca no ponto de que “nudez” não necessariamente traz consigo uma conotação sexual, o que não é percebido pelas redes e seus algoritmos. “Essas plataformas não são nem um pouco transparentes”, continuou Helena Hartlauer. Ainda ao ARTnews, a artista Clarity Haynes publicou artigo para relatar as tentativas frustradas para postar autorretratos nus da fotógrafa Laura Aguilar.