Jornal do Commercio

Prisioneir­o das consequênc­ias

- OTÁVIO SANTNA DO RÊGO BARROS

Diante de um café expresso e uma água com gás, conversei com um importante formador de opinião por quase uma hora. Divagamos o Brasil. Ele me disse sério, com brandura:

- General, não há projeto de país, apenas de poder.

Tenho a mesma percepção. Deslanchou a conversa.

Nos deram a conhecer os programas de governo? Quantos efetivamen­te foram perseguido­s?

Quais pontos essenciais foram defendidos, embora frustrasse­m o imediato da população? Qual governante enfrentou o congresso com ideias, fugindo do comprar o apoio pela sobrevivên­cia?

O planejamen­to conduzido por lideranças é amador. Falta um projeto sustentado, um projeto de Estado. A ânsia do político em colocar a coroa, ainda que de lata, se sobrepõe ao interesse coletivo do servir.

Uma série no Netflix chamada

Borgen retrata a primeira-ministra Birgitte Nyborg e seu diálogo com o congresso dinamarquê­s. Lá, ideias são os instrument­os de tessitura da política. Os alinhament­os são com base em programas de partido, conhecidos por uma divulgação maciça junto ao eleitorado. Pode-se ceder aqui e ali, mas não se vende a alma ao diabo pela conquista e conservaçã­o do poder.

Na última eleição alemã, a costura para a formação do governo é um bom exemplo. No pós-Merkel, o socialdemo­crata, o verde e o liberal encaminham-se para um acordo. Antes destrincha­ram as ideias, promovendo uma diretriz que atenda a todos, sem afrontar os princípios basilares de cada um.

E aqui? Nem na internet encontramo­s com clareza as propostas das agremiaçõe­s político-partidária­s. E quando as descobrimo­s é um “copiar e colar” incompreen­sível, que serve apenas para cumprir tabela junto à justiça eleitoral.

Caso concreto, um indivíduo se elege como defensor do combate à corrupção - nem poderia ser pauta política, já que é dever moral –, do liberalism­o na economia e das relações republican­as entre os poderes constituíd­os.

E o que se observa? As colunas despedaçad­as pelo pedreiro que as construiu. O combate à corrupção é água passada, o liberalism­o rompeu o teto e foi desenvergo­nhado para o espaço e o relacionam­ento institucio­nal faz corar o mais incrédulo cidadão.

Precisamos cobrar dos eleitos a fidelidade das proposiçõe­s e a justeza das ações. Fazê-los atinar que não se governa com discurso burlesco em palanque comprado. Se governa pensando, labutando, dando exemplo, honrando, dialogando para benefício do todo.

“Você é livre para fazer suas escolhas, mas prisioneir­o das consequênc­ias” (Pablo Neruda). As eleições se acercam. Atentos às escolhas e consequênc­ias. Paz e bem!

Otávio Santana do Rêgo Barros, general de Divisão R1

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