Aula presencial 100%
Com 51% dos brasileiros totalmente imunizados com duas doses da vacina e a redução de casos de Covid_19, o país está retomando a rotina presencial em diversas atividades seguindo os protocolos sanitários específicos. De fundamental importância para o futuro das crianças e jovens brasileiros, a volta às aulas 100% presenciais, no entanto, ainda patina na busca de consensos. Que o isolamento social e o ensino remoto aumentaram a defasagem educacional, ampliaram as perdas e o abandono escolar ninguém tem dúvida. Mesmo assim, o Brasil é o país que ficou mais tempo com as aulas presenciais suspensas e preso a debates polêmicos, tabus, amarras ideológicas e, claro com preocupações de segurança sanitária.
Depois de mais de um ano de pandemia, já sabemos minimamente como lidar com a questão sanitária. Seguir os protocolos, vacinação, monitorar a situação epidemiológica para casos de contaminação.
Começamos o segundo semestre deste ano com governos estaduais e prefeituras anunciando a retomada gradual das atividades escolares em caráter presencial. Esta semana acompanhei diversos debates sobre o retorno das aulas presenciais e pude ver boas notícias e diversas preocupações. Pelo menos 18 estados e o DF tem retomado aulas presenciais.
Após mais de um ano com escolas fechadas, sem o pulsar do ambiente escolar, sem o contato físico, sem o afeto, sem a presença do professor, a decisão do retorno escolar em si deve ser comemorada. No entanto, quando a gente observa o conjunto dos dados, o cenário é preocupante. A volta às aulas 100% presenciais ainda não ganhou escala no Brasil. É obrigatória apenas em nove estados. Nos demais, está sendo adotada em diversos modelos: híbrido (parte presenciais e parte à distância), facultativo, gradual, rodízio, obrigatório só para parte dos estudantes. De acordo com a capacidade de cada rede.
Em tempos difíceis não há soluções fáceis. Mas, a própria diversidade de formato e de ritmo de adoção desse retorno expõe o tamanho do problema e as desigualdades que as redes educacionais enfrentam. Num país das dimensões do Brasil, recuperar o tempo e o aprendizado perdidos num sistema que tem uma defasagem histórica não é fácil. Os desafios são enormes para não comprometer ainda mais o futuro de milhares de jovens brasileiros. Não dá para esperar.
A escola faz falta e precisa reabrir plenamente. No entanto, temos que discutir qual escola estamos reabrindo. A mesma, fechada há mais de um ano? Ou uma que tenha aprendido com as perdas da pandemia, que escute as demandas de professores, alunos, seja mais próxima da família, conectada com o futuro e preparada para novos formatos de ensino?
Mendonça Filho, exministro da Educação, consultor da Fundação Lemann.