Legalidade ou balbúrdia
Quando as redes sociais de uma candidatura eleitoral são invadidas por hackers e saem do ar, derrubadas por perfis falsos, todos de bom senso se questionam: em que mundo estamos?
Quando, outrossim, na persecução penal, se inverte a presunção de inocência, se força a confissão, se diz que os fins justificam os meios, tudo para fixar a culpabilidade do investigado, pouco importando as provas, todos de bom senso se questionam: em que mundo estamos?
Uma sociedade sem um mínimo de respeito à liturgia da legalidade é a porta de acesso da barbárie e autofagicamente se destruirá, sufocada na própria arrogância cega. A história não costuma perdoar os que escolhem atalhos para alçar o poder. Ela os regurgita.
Eleições pautadas em mentiras e no ódio não são um processo limpo por que não são um processo justo. Arranca-se do eleitor a oportunidade de conhecer as propostas de cada candidato para transformar o processo em si em um bonde sem freios ladeira abaixo.
Ética não é apenas a retórica aprazível. Ética é prática também. Faces da mesma moeda. Cito a propósito de um editorial do jornal O Globo de setembro de 2018 a síntese do que pensei, dessa vez, em compartilhar.
Ali foi escrito o seguinte: “Nossos votos não podem ser conduzidos pelo apelo aético de muitos que aí estão, que se apresentam com propostas mirabolantes, absolutamente irreais, num populismo louco, retratando completo despreparo para a gestão pública, fatos que os mais esclarecidos detectam, mas, lastimavelmente, imperceptível para uma camada menos esclarecida da população, aquela que não tem acesso às informações e é culturalmente desabastecida, fragilizada pelo péssimo sistema educacional que lhes é disponibilizado pelo Estado. Ficam, pois, refens de uma esperança que, bem se sabe, jamais se materializará em realidade. Exigir ética para o exercício do mandato nada mais é do que conduzir nossos desejos para uma sociedade melhor”.
Se de fato queremos avançar, não nos percamos pelo caminho. Não sejamos como os ratinhos seduzidos pela doçura da melodia tocada pelo flautista de Hamelin.
Ética não é apenas a retórica aprazível. Ética é prática também. Faces da mesma moeda
Gustavo Henrique de Brito Alves Freire, advogado