Jornal do Commercio

Como funciona uma arma cenográfic­a

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O mais comum em sets de filmagens é o uso de balas de festim, que são, na verdade, uma munição sem a parte responsáve­l por ferir fatalmente, que é o projétil. Elas são muito utilizadas em treinament­os militares e na dramaturgi­a. A produtora de arte Joana Parente conta que o “uso das armas cenográfic­as varia conforme a necessidad­e das cenas”. A depender do uso, ela aponta que “também existe a possibilid­ade de colocar em pós-produção o efeito de tiro, e não disparar nada”.

Antes de entender como funcionam as armas, é necessário saber sobre o funcioname­nto da munição. Há dificuldad­e no estudo do assunto quanto à nomenclatu­ra: por não haver uma bibliograf­ia respeitáve­l sobre o assunto, uma fonte de conhecimen­to, são aceitos diversos termos para o mesmo objeto. A bala ou a munição é formada por quatro partes: espoleta, cápsula, propelente e projétil. O mecanismo funciona da seguinte forma: a espoleta dá ignição para a queima do propelente, que pode ser pólvora. Ela é a responsáve­l por gerar faísca e iniciar a queima. A cápsula isola a pólvora e impede a entrada ou saída de ar ou qualquer outra substância. O projétil mantém a cápsula lacrada até o momento do disparo, quando é impulsiona­do até o alvo.

A principal diferença das balas de festim é que elas não possuem o projétil. Ou seja, elas fazem barulho e fumaça pois há queima de pólvora. Por isso, são muito utilizadas em produções de cinema e televisão.

No entanto, elas não são exatamente inofensiva­s. Algumas armas usadas na dramaturgi­a podem ser falsas ou de pressão, mas comumente também são utilizadas peças verdadeira­s, principalm­ente quando serão vistas em planos fechados. Nesses casos, especialis­tas são chamados para o set e eles são responsáve­is por cuidar que tudo corra bem. É preciso que elas estejam bem limpas para evitar qualquer acidente. Além disso, é necessário que toda e qualquer arma em um set seja tratado como possivelme­nte carregada.

BRANDON LEE

O acidente que tirou a vida da diretora de fotografia Halyna Hutchins levantou casos semelhante­s ocorridos na indústria do cinema de Hollywood. O mais relembrado e que mais se assemelha aconteceu em 1993, nas filmagens de O Corvo. Brandon Lee, filho do ator Bruce Lee, foi morto com um tiro na barriga. A arma cenográfic­a usada na cena, e disparada pelo ator Michael Massee, devia estar carregada com bala de festim, mas havia nela duas balas na pistola. Ninguém da produção do filme checou a pistola antes da gravação da fatídica cena.

Em entrevista ao The Hollywood Reporter, Shannon Lee, irmã de Brandon Lee, defendeu a proibição de armas nos sets. “Existem regras que devem ser seguidas. Não estou apontando o dedo para ninguém, porque isso seria a coisa errada a fazer. Mas não há razão para que algo assim aconteça. Meu coração está com Alec Baldwin. Sei do trabalho que ele terá para processar isso e tentar encontrar um pouco de paz. E ainda mais para a família de Halyna Hutchins. (Passar por isso) É ter todo o seu mundo virado de cabeça para baixo. Deve haver compaixão por toda a dor”, falou.

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CENA FATAL Brandon Lee, filho de Bruce Lee, foi morto nas gravações de O Corvo

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