Novo alerta na saúde
Como se não bastassem os problemas estruturais que se agravaram com o longo período de restrição nos atendimentos devido à pandemia de Covid-19, a saúde em Pernambuco recebe um novo alerta de atenção para a demanda de serviços hospitalares para crianças. As unidades de terapia intensiva disponíveis estão ocupadas, e mais de 30 pacientes infantis com doenças respiratórias estavam na fila à espera da UTI, no começo da semana. A superlotação não foi causada por gripe, nem por Covid, mas pela ocorrência de quatro tipos de vírus: adenovírus, rinovírus, metapneumovírus e VSR. No fundo, a superlotação vem da baixa capacidade da rede hospitalar para o atendimento infantil grave, mais um sintoma do sucateamento da saúde em nosso estado.
Até nos hospitais privados a pressão é verificada. A alta exposição das crianças ao contato com outras pessoas, após as restrições tomadas com a pandemia, explica, em parte, a incidência das doenças respiratórias, que são mais frequentes nesse período do ano por aqui, em decorrência das chuvas. A expectativa do presidente do Sindicato dos Médicos de Pernambuco (Simepe), Walber Steffano, é que o surto respiratório que sobrecarrega as emergências pediátricas deve durar pelo menos mais três semanas. Hospitais referenciais no atendimento às crianças já estão com a capacidade máxima de atendimento, como o Imip, o Barão de Lucena e o Helena Moura. “A questão é que os governos sabem que essa demanda aumenta todos os anos, nesse período, e nada muda”, critica o dirigente do Simepe.
A informação oficial da Secretaria
Estadual de Saúde (SES) ao JC foi de que a capacidade de ocupação de leitos de terapia intensiva para bebês e crianças encontrava-se em 89%, mas também foi dito que serão abertos 25 novos leitos de UTI pediátricas nos próximos dias no estado. De acordo com Walber Steffano, além dos novos leitos, é urgente a contratação de fisioterapeutas respiratórios nas emergências e nas unidades de pronto-atendimento, a fim de tratar adequadamente e em tempo hábil os sintomas apresentados pelas crianças, especialmente naquelas menores de 5 anos de idade, que podem precisar de internamento.
Em entrevista na edição de ontem, o diretor do Hospital da Restauração, Miguel Arcanjo, afirmou que o problema de superlotação, sempre visto por lá, não está no HR, mas na rede. Antes de se iniciar o mandato do próximo governador ou governadora, é fundamental que um diagnóstico preciso da rede pública de saúde em Pernambuco seja efetuado, para que se vislumbre o que deve e o que pode ser feito para ampliar a estrutura e melhorar os serviços à população. O novo alerta nas UTIS para crianças é mais um aviso a respeito do que não está funcionando, pondo em risco a vida das pessoas. Quanto mais cedo o tema for objeto de um debate consequente, melhor para a saúde dos pernambucanos, que sofrem com as filas e a falta de atendimento adequado durante o ano inteiro, todos os anos, e não apenas durante os surtos.