Ética, juventude e trabalho
Tivemos neste século profundas modificações que impactaram a todos, desde a dominância do uso de ferramentas digitais até o crescimento, com a pandemia, do chamado teletrabalho. Para as gerações analógicas, as mudanças tem sido mais difíceis ao lidar com paradigmas que não enfrentaram durante sua formação, enquanto os jovens enfrentam desafios, especialmente relacionados com a inserção no mercado de trabalho.
Recentemente, promovemos junto ao Instituto Coca–cola, e a CUFA – Central Única das Favelas uma Live sobre Ética, Juventude e o Mundo do Trabalho com a participação de jovens que têm procurado ingressar no seu primeiro emprego. Ficou claro que a formação profissional, a incorporação da tecnologia, a compreensão de como funciona a estrutura organizacional das empresas, o sentido de responsabilidade e inovação são fatores importantes, mas o comportamento, as regras de convivência passam a ser tanto do mercado junto aos jovens como destes perante as empresas. Os questionamentos demonstram que atitudes, antes não tão consideradas por esses novos profissionais, passaram a ser determinantes.
Enquanto em pesquisa realizada pelo Linkedin as respostas relacionadas ao dinheiro (aumento salarial, ganhar mais que seus amigos) ficaram em um patamar mais baixo.
Pelas empresas há a compreensão de que as práticas relacionadas ao exercício profissional poderão ser ensinadas, mas a compreensão do que é certo devem ser encarados como uma postura que antecede às competências para o trabalho. Aliás, essa compreensão sobre valores éticos ficou demonstrada na pesquisa nacional realizada pelo Etco/datafolha sobre a percepção da ética pelos jovens com os quesitos sendo apontados quando pensam no que significa ser ético. Tal visão é corroborada pela pesquisa da consultoria Eureca, indicando que os jovens consideram que as métricas ESG devem ser respeitadas pelas empresas.
Essa realidade se, de um lado, demonstra um sentido de progresso nas expectativas, de outro, me desperta preocupação, pois percebemos, não só no Brasil, mas em todo o mundo, que as lideranças, especialmente na esfera política, não demonstram estar alinhadas com esse momento que se apresenta como disruptivo.
Não à toa o jovem vive um distanciamento do sistema político, o qual não se enxerga representado. Apesar de o questionamento do status quo não ser novidade para a juventude, hoje constato uma desilusão, um desalento com o exercício da política como um efetivo pacto com o interesse público.
A nossa obrigação, como organizações sociais e empresariais é defender uma clara atitude de defesa e prática de valores que fortaleçam nosso propósito e envolvam os mais jovens. Eles apontam o que desejam, precisamos pavimentar o caminho, para auxiliar no alcance do destino comum.