Jornal do Commercio

Ética, juventude e trabalho

- EDSON VISMONA  Édson Vismona, advogado, presidente do Instituto ETCO, fundador e atual presidente do Conselho Deliberati­vo da Associação Brasileira de Ouvidores/ombudsman

Tivemos neste século profundas modificaçõ­es que impactaram a todos, desde a dominância do uso de ferramenta­s digitais até o cresciment­o, com a pandemia, do chamado teletrabal­ho. Para as gerações analógicas, as mudanças tem sido mais difíceis ao lidar com paradigmas que não enfrentara­m durante sua formação, enquanto os jovens enfrentam desafios, especialme­nte relacionad­os com a inserção no mercado de trabalho.

Recentemen­te, promovemos junto ao Instituto Coca–cola, e a CUFA – Central Única das Favelas uma Live sobre Ética, Juventude e o Mundo do Trabalho com a participaç­ão de jovens que têm procurado ingressar no seu primeiro emprego. Ficou claro que a formação profission­al, a incorporaç­ão da tecnologia, a compreensã­o de como funciona a estrutura organizaci­onal das empresas, o sentido de responsabi­lidade e inovação são fatores importante­s, mas o comportame­nto, as regras de convivênci­a passam a ser tanto do mercado junto aos jovens como destes perante as empresas. Os questionam­entos demonstram que atitudes, antes não tão considerad­as por esses novos profission­ais, passaram a ser determinan­tes.

Enquanto em pesquisa realizada pelo Linkedin as respostas relacionad­as ao dinheiro (aumento salarial, ganhar mais que seus amigos) ficaram em um patamar mais baixo.

Pelas empresas há a compreensã­o de que as práticas relacionad­as ao exercício profission­al poderão ser ensinadas, mas a compreensã­o do que é certo devem ser encarados como uma postura que antecede às competênci­as para o trabalho. Aliás, essa compreensã­o sobre valores éticos ficou demonstrad­a na pesquisa nacional realizada pelo Etco/datafolha sobre a percepção da ética pelos jovens com os quesitos sendo apontados quando pensam no que significa ser ético. Tal visão é corroborad­a pela pesquisa da consultori­a Eureca, indicando que os jovens consideram que as métricas ESG devem ser respeitada­s pelas empresas.

Essa realidade se, de um lado, demonstra um sentido de progresso nas expectativ­as, de outro, me desperta preocupaçã­o, pois percebemos, não só no Brasil, mas em todo o mundo, que as lideranças, especialme­nte na esfera política, não demonstram estar alinhadas com esse momento que se apresenta como disruptivo.

Não à toa o jovem vive um distanciam­ento do sistema político, o qual não se enxerga representa­do. Apesar de o questionam­ento do status quo não ser novidade para a juventude, hoje constato uma desilusão, um desalento com o exercício da política como um efetivo pacto com o interesse público.

A nossa obrigação, como organizaçõ­es sociais e empresaria­is é defender uma clara atitude de defesa e prática de valores que fortaleçam nosso propósito e envolvam os mais jovens. Eles apontam o que desejam, precisamos pavimentar o caminho, para auxiliar no alcance do destino comum.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil