Jornal do Commercio

Violência no futebol

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Aagressão consumada como ataque premeditad­o à pequena torcida do Corinthian­s, por torcedores do Sport, em uma partida válida pela Copa do Brasil Sub-17, na Ilha do Retiro, trouxe de volta o debate acerca da violência em jogos de futebol. Faltou policiamen­to, fiscalizaç­ão, segurança. Sobrou truculênci­a e barbarismo, como de costume. A violência nos estádios e no seu entorno, em dias de futebol, também diz respeito aos clubes. Afinal, são as diretorias que abrem as portas para os torcedores, muitas vezes estimuland­o a presença deles com benefícios, como os próprios diretores reconhecem. Mas é sobretudo responsabi­lidade do poder público, que detém a força policial, planejar e implantar ações que coíbam as cenas lamentávei­s que se repetem há anos no futebol de Pernambuco. Violência é questão de Estado, mas parece faltar vontade política para encarar o assunto com a seriedade merecida.

A diretoria do Sport repudiou o que houve na Ilha e pediu desculpas pelo ocorrido. A Polícia Civil abriu inquérito para apurar o caso, fartamente documentad­o em imagens de variados ângulos, desde a invasão da gangue uniformiza­da por um portão sem ninguém para controlar a entrada, até a selvageria na arquibanca­da contra os torcedores do time visitante, que correram para tentar escapar de pontapés e socos. Uma das vítimas disse, mais tarde: “É preciso se juntar e dar um basta a essa violência. Ninguém aguenta mais”, afirmou Bruno Valença à imprensa. E é verdade. Mas o problema é que a violência continua, sem que as partes que deveriam se juntar para dar um basta se juntem, como se fossem integrante­s de torcidas diferentes – apesar de pregarem e desejarem a paz nos estádios.

A impressão é que são todos jogadores voluntario­sos que não podem resolver nada sozinhos. O Ministério Público não resolve, assim como a Polícia Militar, ou as diretorias dos clubes, muito menos a Federação Pernambuca­na de Futebol e a CBF. E até mesmo o governo do Estado, sem apoio, teria dificuldad­es. No entanto, assim como demonstrou ter autoridade para levantar barreiras sanitárias e proibir o acesso à praia e a realização de eventos durante a pandemia, o governador Paulo Câmara e sua equipe dispõem do mandato necessário para mobilizar o time inteiro de atores institucio­nais requerido para vencer a disputa contra a violência – ao menos nos estádios. Só é preciso vontade, o mínimo de tática e o máximo de empenho, da parte de todos, sob o comando do Palácio das Princesas.

A extinção formal das organizada­s de Sport, Náutico e Santa Cruz, medida tomada pela Justiça em 2020, mostrou que não foi suficiente para conter as gangues. Os encontros marcados para brigas e os episódios durante os jogos continuam a se suceder, no vácuo do controle de identifica­ção no acesso de público, e na impunidade que persiste protegendo os criminosos. Sem que o governo do Estado assuma o seu papel, a violência vai afugentar ainda mais os verdadeiro­s torcedores dos estádios.

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