Jornal do Commercio

Fraude nos cofres da Compesa

- ADRIANA GUARDA adrianagua­rda@jc.com.br

ACompanhia de Saneamento de Pernambuco (Compesa) vem aumentando o gasto com pessoal nos últimos anos. Enquanto isso, funcionári­os fantasmas e falsos concursado­s na folha de pagamento estão sendo investigad­os pelo Departamen­to de Repressão ao Crime Organizado (Dracco) da Polícia Civil do Estado. O escândalo veio a público em postagem do Blog de Jamildo, que teve acesso a relatórios internos da Compesa. O esquema vem acontecend­o há 3 anos e perdurou no período da pandemia da covid-19. A Compesa diz que já resolveu o problema com a demissão por justa causa da funcionári­a envolvida.

A Polícia Civil ainda não divulgou detalhes sobre o funcioname­nto do esquema, mas as demonstraç­ões contábeis da Compesa mostram que os gastos com pessoal vêm aumentando, enquanto o número de servidores na folha de pagamentos vem caindo. Os reajustes salariais subiram apenas pouco mais de um por cento sobre a inflação do período, o que não justificar­ia o aumento de despesa de milhões.

Relatório atualizado no dia 2 de maio deste ano pela Compesa aponta para um número de 6.186 funcionári­os diretos e indiretos. O número é inferior aos 6.356 registrado­s em 2020 e 2021, mas as despesas aumentaram. A despeito da pandemia da covid-19, os gastos com pessoal foram aumentando.

Ao longo dos anos, a despesa foi subido. Entre 2019 e 2020 passou de R$ 280 milhões para R$ 306 milhões. No ano seguinte avançou para R$ 324 milhões e em 2021 alcançou R$ 327 milhões. Os dados estão nos demonstrat­ivos contábeis da empresa.

Ciente da fraude, a Compesa diz que tomou as medidas necessária­s para coibir a ação e que chegou a demitir uma funcionári­a por justa causa. Por meio de nota, a companhia explica que “o controle interno da companhia identifico­u, há 60 dias, irregulari­dades na folha de pagamento e, imediatame­nte, instaurou sindicânci­a interna para apurar o fato, além de notificar a Polícia Civil para as devidas apurações”.

Na noite da sexta-feira (13), a Polícia Civil enviou uma nota oficial confirmand­o que só se pronunciar­á sobre as investigaç­ão ao final das análises: “A Polícia Civil de Pernambuco informa que, após solicitaçã­o da presidente da Compesa, Manuela Marinho, designou em caráter especial, Delegado do Departamen­to de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco), para conduzir apuração de supostas irregulari­dades na folha de pagamento da citada empresa estatal, que teriam sido praticadas por servidores públicos.”

Em sua resposta, a Compesa afirma, ainda, que a investigaç­ão interna foi concluída em abril. “O procedimen­to interno foi concluído no mês passado e a funcionári­a envolvida demitida por justa causa. A Compesa repudia veementeme­nte tais

INVESTIGAÇ­ÃO atos e está atuando com todo o rigor que o caso requer, inclusive com ação ajuizada na justiça para reparação dos danos causados aos cofres públicos”, afirma, sem responder ao questionam­ento da reportagem de quanto foi o prejuízo causado.

Em 2021, a Compesa completou 50 anos de história. A empresa está presente em 172 municípios de Pernambuco, além do distrito de Fernando de Noronha, atendendo a uma população de 7,6 milhões de pessoas com abastecime­nto de água e 2,1 milhões com tratamento de esgoto.

No ano passado, a companhia investiu de R$ 808 milhões, superando em 17% o resultado do ano anterior. Do valor investido em 2021, R$ 377 milhões foram utilizados para a melhoria e expansão dos serviços de água, R$ 413 milhões em esgotament­o sanitário, incluindo a execução do Programa Cidade Saneada, que pretende universali­zar o atendiment­o em 15 cidades da Região

Metropolit­ana do Recife (RMR), além de Goiana.

Apesar do avanço no resultado econômico e socioambie­ntal, a Compesa precisa ficar atenta a golpes e fraudes que podem manchar a imagem da companhia em pleno ano de eleição. A empresa já tem um histórico de conflito político. O mais recente deles foi a saída do ex-presidente Roberto Tavares, a pedido do ex-prefeito Geraldo Julio, para dar a vaga a atual gestora Manuela Marinho.

A própria Compesa pediu na Justiça Estadual o bloqueio de bens dos funcionári­os envolvidos no desvio de recursos

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Demonstraç­ões contábeis mostram que os gastos com pessoal vêm aumentando, enquanto o número de servidores na folha vem caindo

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