Jornal do Commercio

“Estamos num novo começo”

- EMANNUEL BENTO ebnascimen­to@jc.com.br JC, ressalta que

No momento mais insólito da pandemia, Lenine encontrou no filho, Bruno Giorgi, a parceria que resultou na turnê Rizoma, que estreou no Rio de Janeiro em janeiro e chega ao Recife hoje, no Teatro Guararapes. A demanda foi tanta que instigou uma dupla sessão, às 18h e às 21h, ambas esgotadas.

“Não uso o termo ‘retomada’, porque é como se estivéssem­os voltando ao que era antes. Estamos, na verdade, num novo começo. É um recomeço”, diz Lenine, ao sobre o retorno aos palcos em turnê.

“É um recomeço para todo mundo: para quem está fazendo música e para a audiência. Talvez por isso mesmo eu tenha feito alguns shows em que senti muito presente essa celebração passional, emocional, de cada um que estava ali, celebrando ao vivo. Tem um significad­o muito maior.”

Rizoma começa quando Lenine e Bruno Giorgi, que além de músico é um elogiado engenheiro de som, começaram a esboçar um álbum. “Eu sou da época em que faziam álbuns”, ressalta o cantor. “Começamos a exercitar isso, mas aí veio a pandemia e o pandemônio.”

A sugestão para trabalhar durante a reclusão veio de Bruno. “Uma das primeiras conversas que tivemos foi montar um espetáculo. Eu e ele temos essa intimidade, não só de pai e filho, mas de alguém que vem produzindo meus trabalhos há algum tempo. E não só para estarmos no palco, mas para trazer a ambiência sonora de cada uma das músicas, das gravações originais que escolhemos para compor o repertório desse show.”

O resultado é um show em que o público poderá ouvir fielmente as ambiências sonoras de cada registro musical feito por Lenine, com fidelidade aos arranjos idealizado­s por cada produtor musical com quem ele trabalhou.

Algumas músicas do repertório são Castanho (Lenine e Carlos Posada); Martelo Bigorna (Lenine); Leve e Suave (Lenine); O Dia em que Faremos Contato (Lenine e Braulio Tavares). Lenine assume o microfone e o violão, enquanto Bruno se reveza entre baixo, bandolim, teclados, voz e sampler.

O título do projeto veio de estudos do recifense na botânica e na filosofia. “No mundo das plantas, é uma palavra sobre o cresciment­o radicular das raízes, algo que não dá para prever. Na filosofia, é uma ideia de que no meio do caos surge a ordem. Tinha tudo a ver com o que eu e Bruno estávamos fazendo. No ‘Rizoma’ busco compreende­r um pouco de toda a minha obra, de todos os discos, de alguma maneira.”

POLÍTICA

Lenine realmente considera que Rizoma nasceu no caos, não à toa separa o momento que vivemos de “pandemia” e “pandemônio’. O segundo termo diz respeito ao clima político do País. “Estamos na

“Eu costumo sempre me posicionar. Apoiei uma geração de pessoas, não só como artista, mas como cidadão”

e-mail idade medieval. Eu não tenho nem adjetivo para dizer sobre o presidente.”

“Acho que a gente, enquanto nação e civilizaçã­o, demos muitos passos para trás. Ele conseguiu fazer o que parecia impossível: abrir o armário de cada ser humano que se sentia frustrado de alguma maneira, fazendo com que tudo de ruim estivesse exposto. Ninguém sente mais vergonha de expor. Tem uma cultura histórica profunda nisso daí.”

Falando em política, o recifense é uma das vozes do jingle da campanha da chapa Lula-alckmin. Sobre isso, decreta: “Estamos querendo fazer com que o fascismo retorne ao fundo do esgoto da história”.

Lenine ainda já fez campanha para deputados como Chico Alencar (PSOL) e Marcelo Freixo (hoje no PSB), ambos do espectro da esquerda.

“Eu costumo sempre me posicionar. Esse é o exercício da cidadania. Apoiei uma geração de pessoas, não só como artista, mas como cidadão. Isso não muda nada para mim. Até porque faço um tipo de canção que tem um cunho de reportagem, de crônica, então não existe essa possibilid­ade de não ser político em tudo o que eu faço. Mas, nas músicas, escolho ser ‘aparditári­o’.”

PROJETOS

Os planos de Lenine e Bruno Giorgi para um álbum, como antes da pandemia, ainda não morreram. “Não temos previsão. O título já mudou, pois muita coisa mudou. A sensação de tempo também mudou. Estou fazendo tudo no tempo da intimidade, da leveza e da delicadeza.”

Apesar do novo projeto ainda não ser tão desenhado, a certeza é de que estará “imbuído pelo sentimento do ‘Rizoma’”. “As pessoas não têm mais 3 minutos para se dedicar a uma novidade. Você tem poucos segundos para reter a atenção desse público saltitante, palpitante, que quer ser arrebatado. Isso fez com que todos apostassem em singles, mas pouco mudou para mim. Nesse sentido, me sinto um pouco anacrônico”, finaliza.

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Embora já tenham trabalhado juntos, é a primeira vez em que Lenine e Giorgi estão só eles no palco
PARCEIROS Embora já tenham trabalhado juntos, é a primeira vez em que Lenine e Giorgi estão só eles no palco

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