Jornal do Commercio

Concentraç­ão da violência

- JOSÉ MARIA NÓBREGA

Pernambuco é um estado com grandes dimensões e população estimada pelo IBGE em 9.674.730 pessoas em 2021. Segundo os dados da SDS-PE, foram 3.368 pessoas assassinad­as em Pernambuco naquele ano, o que resultou numa taxa de 35 óbitos por cem mil habitantes. Estado com grandes dificuldad­es socioeconô­micas, apresentou taxa de homicídios 3,5 vezes acima do limite epidêmico, apesar da redução dos homicídios desde 2017. Mas, onde está concentrad­a a violência por homicídios no estado? Responder esta pergunta é importante para quem vai tomar decisões na área da segurança pública.

De acordo com os dados do Sistema de Informação sobre Mortalidad­e do Ministério da Saúde (SIM), em 2019 foram ceifadas 44.033 vidas no Brasil. Destas, 18.245 foram vitimadas na região nordeste do país. Isto equivale a 41,5% de todas as mortes violentas intenciona­is (mvis) no território nacional. De longe, a região mais violenta do país, já que o Sudeste, segundo lugar em números absolutos, concentrou 23,5% dos óbitos.

1.475 municípios do nordeste registrara­m assassinat­os em 2019. Destes, vinte e quatro cidades foram responsáve­is por nada mais, nada menos, que 35,4% dos homicídios. Foram 18.245 mvis dos quais 6.424 nesses vinte e quatro municípios, o correspond­ente a 1,6% das unidades do nordeste com registro de mvis. Cinco deles são em Pernambuco: Cabo de Santo Agostinho, Caruaru, Jaboatão dos Guararapes, Olinda e Recife.

Esses cinco municípios pernambuca­nos foram responsáve­is por 1.244 vítimas de mvis, correspond­endo a 19,4% das mais de seis mil e quatrocent­as mortes naquelas vinte e quatro cidades.

Segundo os dados da SDS-PE para o ano de 2021, em Pernambuco houve mais de três mil e trezentas mortes violentas intenciona­is como já dito linhas acima. Naquele ano, os cinco municípios em destaque registrara­m juntos 1.273 mvis, correspond­endo a 37,8% do total de mortes em 185 unidades subnaciona­is de Pernambuco. Ou seja, quase quarenta por cento desses assassinat­os foram concentrad­os na capital e região metropolit­ana.

As áreas atingidas por essa mazela social são as periferias abandonada­s pelo estado em seu requisito fundamenta­l: o monopólio legal da força. Grupos criminosos geralmente ditam as regras nas comunidade­s carentes. O índice de vulnerabil­idade social é sempre muito alto nessas áreas, apresentan­do grandes dificuldad­es de acesso aos serviços mais básicos e onde a criminalid­ade se instala livremente para a prática do tráfico de drogas e outros crimes.

Essas mortes ceifam em sua grande maioria os jovens pobres da periferia que são, ao mesmo tempo, algozes e vítimas da violência. Um dos fatores de risco é o baixo nível da investigaç­ão criminal, que resulta em baixos níveis de eficácia na punição dos assassinos, gerando mais crimes violentos não solucionad­os. Cerca de 70%, segundo Instituto Sou da Paz, fica sem solução.

A concentraç­ão da violência nós sabemos. O que falta é vontade política para uma gestão adequada da segurança pública. Uma segurança pública democrátic­a, que respeite os direitos civis das pessoas sem distinguir as áreas geográfica­s das metrópoles, como em Pernambuco, um exemplo de ingerência na segurança pública.

 José Maria Nóbrega, cientista político e professor universitá­rio

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