As chantagens de Putin
Qual a legitimidade de um plebiscito realizado por tropas invasoras num território ocupado, como o que está fazendo agora a Rússia em áreas da Ucrânia? Nenhuma. Dificilmente algum país sério reconhecerá os resultados de uma consulta mano militari, através da qual Vladimir Putin espera que a população dominada aprove a anexação dos territórios à Rússia. Mas Putin não está esperando reconhecimento do resultado do plebiscito.
Como fez com a Criméia, Putin vai declarar, unilateralmente, que a região de Donbass será parte da Rússia e, portanto, a contraofensiva ucraniana seria uma invasão ao território russo e não mais uma batalha pela liberação das áreas ocupados pelo agressor.
Ao mesmo tempo, diante do desespero da derrota militar e do isolamento internacional, o presidente russo recorre, mais uma vez, à chantagem nuclear e ameaça usar todos os meios disponíveis para proteger o território, que seria agora da Rússia. Ele está preparando uma nova grande ofensiva na Ucrânia com a convocação de 300 mil reservistas e decretou que a deserção ou a rendição será condenada com penas de 10 anos de prisão. A repressão às manifestações em Moscou e a fuga de jovens russos para escapar de uma guerra que não escolheram, podem indicar uma nova fase da resistência interna à aventura militar de Putin.
Com a chegada do inverno, a Rússia tenta sufocar os aliados europeus da Ucrânia com o corte do fornecimento de gás natural. O inverno, que ajudou a Rússia a derrotar Napoleão e Hitler, é utilizado como arma para quebrar a unidade da Europa no seu apoio à Ucrânia. Mas agora os invasores são os russos e os europeus estão se preparando para resistir ao frio. Dificilmente cederão à guerra do frio.
Putin está perdendo no campo de batalha e na opinião pública internacional e ainda tem que lidar com a insatisfação interna na Rússia, que crescerá com a escalada da guerra. Mesmo países que vinham mantendo neutralidade no conflito, como China e Índia, não parecem dispostos a conviver mais tempo com os impactos econômicos da invasão russa. O mundo tem pressa. As chances de vitória da Rússia são remotas, mas Putin não tem nenhuma disposição para a retirada. E quanto mais ele empurra a Rússia nesta guerra insana, maior a humilhação diante de uma provável derrota. E aí reside o grande perigo. O novo tzar, encurralado e humilhado, comanda um arsenal nuclear. Da última vez que ameaçou recorrer ao extremo, ressaltou: “Eu não estou blefando”. Será?
Sérgio C. Buarque, economista