Marília e Raquel fazem segundo turno histórico
Com representantes do Solidariedade e do PSDB na disputa, pela primeira vez Estado terá mulher no comando
No dia 1º de janeiro de 2023, uma mulher vai atravessar os arcos de entrada do Palácio do Campo das Princesas, cruzar o tapete vermelho e fazer história. Pela primeira vez, Pernambuco terá uma governadora eleita pelo povo.
Em uma eleição excepcional, o eleitorado não escolheu apenas uma, mas duas mulheres para disputar o governo no 2º turno. Com mais de 1 milhão de votos cada uma, Marília Arraes (Solidariedade) e Raquel Lyra (PSDB) deixaram os candidatos homens para trás. Marília teve 23,9% dos votos e Raquel 20,6%.
Marília, que pelas pesquisas estava na liderança com uma boa vantagem sobre os demais adversários, acabou a apuração com uma distância bem menor. Em alguns momentos, a candidata do PSDB chegou a ultrapassar a adversária.
Raquel já era apontada em segundo lugar nas pesquisas. Um componente inesperado e trágico compôs o dia da candidata. Subitamente, na manhã deste domingo, o marido da candidata, o empresário Fernando Lucena, de 44 anos, sofreu um infarto fulminante e foi sepultado em pleno dia da eleição.
Outro episódio de falecimento nas proximidades da eleição ocorreu recentemente, quando o governador Eduardo Campos (PSB) morreu em um acidente de avião, em 2014. Naquele ano, Paulo Câmara, seu sucessor, venceu a eleição no 1° turno. Ele era técnico do Tribunal de Contas do Estado (TCE), e nunca havia disputado eleições.
VOTO FEMININO
Assim como no Brasil, a maioria do eleitorado pernambucano é feminino. Dos 7 milhões de eleitores, 54% são mulheres e 46% homens. A presença de duas mulheres no 2° turno das eleições não é apenas um momento histórico, mas a possibilidade de ter uma liderança mais alinhada com os muitos problemas do eleitorado feminino.
Pernambuco tem metade da sua população na condição de pobreza ou de extrema pobreza. A pandemia da covid-19 expôs o quanto a mulher brasileira é mais vulnerável. Pesquisas apontam que a fome e a pobreza atingem mais o sexo feminino, o desemprego também é maior entre elas, e o retorno ao trabalho pós-pandemia também foi mais difícil para elas do que para eles.
Marília e Raquel vão se deparar com uma população que convive com muitos problemas sociais e vão precisar apresentar soluções. Além de uma maior identificação com a população, as candidatas a governadora vão contribuir para aumentar a participação das mulheres nos espaços de poder no Brasil.
No momento em que completa 90 anos que as mulheres conquistaram o direito de votar, em 1932, elas brigam para aumentar sua participação na política. Ao longo dos anos, essa mudança tem acontecido, inclusive com instrumentos como cotas, mas ainda há muito espaço para conquistar.
Cada época tem o seu movimento. Se nos anos 1930 as mulheres lutaram para votar, depois brigaram pelo direito de serem votadas e, agora, o papel da geração atual é de ocupar os espaços para modernizar as instituições.
A política é um exercício de futuro. Pela escolha dos eleitores pernambucanos, ele será desenhado por uma mulher.