Jornal do Commercio

O silêncio foi o protagonis­ta

- IGOR MACIEL imaciel@sjcc.com.br

Há eleições em que o barulho dita o resultado. Quanto mais gente na rua, pessoas vestindo camisas de candidatos, quanto mais carreatas e passeatas, mais o resultado se aproxima, em proporção. A eleição de 2022 foi a eleição do silêncio, e as definições de primeiro turno em Pernambuco e no Brasil se deram pela ausência de barulho.

Somente uma parte dos eleitores indicou seu voto nas pesquisas. Alguns resolveram decidir na hora e o resultado é reflexo disso. As pesquisas erraram ao não perceber, mais uma vez. Não é uma tarefa fácil, porque detectar o silêncio é muito mais difícil do que perceber o barulho.

Mas houve falha. O resultado de Lula (PT), por exemplo, está dentro do que os institutos de pesquisa apontaram. No Datafolha, falava-se em 50%, com margem de erro de 2 pontos percentuai­s. Logo, os 48% do resultado petista estão dentro dessa margem. Os lulistas podem reclamar de terem sonhado com algo além disso, mas será apenas a decepção com o próprio sonho, nada mais.

Já o resultado de Bolsonaro (PL) terminou muito acima da projeção das pesquisas. O mesmo Datafolha apontou 36%. Com a margem de erro, a participaç­ão do atual presidente poderia ir até 38%. E ele terminou com 43%. Isso significa um erro de 5 pontos percentuai­s, além da margem da pesquisa.

Há muitas explicaçõe­s para o fato. A principal é fácil de observar olhando para os estados, especifica­mente para um. São Paulo não entregou o que Lula esperava e entregou muito além do que Bolsonaro sonhou. Os paulistas fizeram silêncio e levaram as pesquisas ao equívoco. Lá, Haddad (PT) teria 39% e Tarcísio (Republican­os), chegaria a 31%. O petista terminou com 35% e o bolsonaris­ta foi a 42%.

São 11 pontos percentuai­s de diferença para o que a pesquisa apontou. Consideran­do a margem de erro, são 9 pontos percentuai­s a mais do que o último resultado do Datafolha previu para Tarcísio. Esses 9 pontos, com a abstenção deste ano, significam em SP um pouco mais de dois milhões de votos.

Agora, você sabe quantos votos faltaram para que Lula vencesse a eleição no primeiro turno? Isto mesmo: cerca de dois milhões de votos.

Esses dois milhões de silencioso­s paulistas que o Datafolha não detectou obrigaram a disputa a ir para o segundo turno, onde haverá uma eleição diferente, porém menos cega para o PT.

Agora que os silencioso­s falaram, os lulistas sabem o tamanho dos adversário­s, sabem com quem estão lidando e talvez desçam do salto de onde já formavam o “time de ministros” e conversava­m sobre “quem indicar para tribunais superiores” no futuro. A torta de empáfia que foi servida pelos petistas nas últimas semanas azedou e terá que ir pro lixo.

Lula terá, por exemplo, que visitar estados onde quase não pisou. Pernambuco é um deles. Aqui, também, a votação dele foi a esperada, mas a de Bolsonaro superou as expectativ­as, aproximand­o-se da casa dos 30%. Para a sorte do ex-presidente, uma candidata pernambuca­na que ele não apoiava, mas pedia votos para ele, está no segundo turno. Porque o candidato oficial dele, Danilo Cabral (PSB), terminou em quarto lugar.

O problema é que Marília Arraes (SD) também foi prejudicad­a pelo silêncio. Diferente da eleição nacional, nesse caso foi o silêncio do voto.

Ela terminou 15 pontos percentuai­s abaixo do que a última pesquisa Ipec lhe destinava, horas antes da eleição. Nada menos do que 730 mil eleitores foram detectados pela pesquisa como eleitores de Marília e silenciara­m na hora de votar. É como se ela tivesse perdido 70% da votação esperada. Mais que uma queda, um desmoronam­ento.

É impossível não lembrar que Marília faltou a todos os debates. Absolutame­nte todas as oportunida­des em que poderia discutir propostas e ser questionad­a por adversário­s ela rejeitou. Isolou-se na ilusão de que tinha uma margem tão alta que não precisaria se expor. Isso foi alertado e a equipe de campanha ignorou, acreditand­o que ela não precisava. Até a candidata fez silêncio. E esse silêncio também puniu.

Este colunista teve acesso à pesquisas internas dos partidos nas vésperas da eleição. Esses levantamen­tos, realmente, apontavam um cresciment­o sistemátic­o de Raquel Lyra (PSDB) e uma delas apontava 19% no meio da semana. Consideran­do a margem de erro, a ex-prefeita de Caruaru ter terminado com 20% está dentro do esperado por esses levantamen­tos internos.

Mas o resultado muito abaixo do esperado para Marília só se explica pelo silêncio dela nos debates e pelo dos eleitores na hora do voto.

Para onde foram os votos de Marília? Uma parte da votação esperada pela neta de Arraes foi para Danilo, que, nas pesquisas, apareceu com 12%, mas terminou a eleição com 18%.

Na reta final, os socialista­s conseguira­m sugar uma parte daqueles que declararam voto na adversária para as pesquisas. O PSB, inclusive, chega ao fim deste primeiro turno com uma única coisa para comemorar: o derretimen­to de Marília, que agora deixou de ser franca favorita ao Palácio.

O péssimo resultado do PSB não foi culpa de Danilo Cabral (PSB), é bom que se diga. Seria como dizer que um grande furacão aconteceu por culpa de uma borboleta que bateu asas forte demais. Danilo é político, tem um preparo que poucos quadros do PSB têm. Jogar-lhe a culpa pelo fim desse ciclo do PSB no governo de Pernambuco é injusto.

O próprio PSB é culpado por ter acreditado, em sua empáfia comparada ao petismo, que legados pessoais podem ser eternizado­s e vendidos em pacotes de propaganda eleitoral, como produto inovador, enquanto não conseguem entregar na prática nada do que oferecem.

Quer entender a queda do PSB? Quer mesmo? É simples: releia as propostas de Paulo Câmara (PSB) na eleição de 2018, quando foi reeleito no primeiro turno.

Se você ainda não entender o que deu errado, busque notícias sobre indicadore­s sociais em todos os últimos anos desse estado governado por socialista­s.

Quanto mais gente na rua, quanto mais carreatas e passeatas, mais o resultado se aproxima

Ainda não se convenceu? Reveja as notícias deste último ano, das negociaçõe­s com o PT e da subserviên­cia desesperad­a a Lula numa tentativa vã de sobrevivên­cia.

Quer entender por que o PT falhou em salvá-lo, reveja o comportame­nto nos últimos anos do PSB em relação aos petistas, em idas e vindas, ataques e afagos que se aproximam do que se diria ser desavergon­hado.

O PSB também foi vítima do silêncio do eleitor, aquele que cansou de reclamar e ser enganado.

O silêncio, senhoras e senhores, fez morada nesta eleição. O silêncio gritou tão alto que pouco restou para ocupar com alguma música. Que venha o segundo turno.

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Somente uma parte dos eleitores indicou seu voto nas pesquisas eleitorais
NA SOLIDÃO DA CABINE Somente uma parte dos eleitores indicou seu voto nas pesquisas eleitorais

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