Jornal do Commercio

Preso deu ordem que resultou na chacina com 5 mortos em São João

Entre as vítimas assassinad­as estava uma bebê de 2 anos. Polícia segue em busca de suspeitos de participaç­ão no crime

- RAPHAEL GUERRA

Investigaç­ões conduzidas pela Polícia Civil apontaram que um homem que cumpre pena em um presídio de Pernambuco deu a ordem que resultou na chacina com cinco pessoas mortas, entre elas uma bebê de 2 anos de idade, no município de São João, no Agreste. O crime, na noite da última quinta-feira, foi motivado por vingança.

De acordo com as investigaç­ões, o preso, cujo nome está sendo mantido sob sigilo pela polícia, determinou o assassinat­o de Lucas Pereira Andrade, de 23 anos - uma das vítimas da chacina. Isso porque, no dia 20 de janeiro, Lucas teria cometido um homicídio contra um homem que fazia parte do grupo desse detento.

Conforme explicado pela chefe da Polícia Civil, Simone Aguiar, na sexta-feira, existe uma disputa entre grupos rivais pelo domínio do tráfico de drogas na região.

“O alvo era o Lucas, conhecido como Lú, que é traficante de drogas. Infelizmen­te, ele estava naquele local e os inocentes foram atingidos”, disse Simone.

Imagens de câmeras de segurança mostraram o momento em que sete homens armados se aproximara­m das pessoas que estavam em um ponto de vendar de espetinho, na Avenida Coronel João Fernandes, no centro de São João. O grupo já chegou atirando. Além das cinco pessoas mortas, outras cinco ficaram feridas.

Além do Lucas, morreram: Vinícius Ravelly Ferreira Cavalcante, 27 anos; Valderlan Vinícius Bezerra Alves, 27; Durval Roberto Pereira Neto, 21; e Maria Sophia Gonçalves da Silva, 2.

Dos cinco detidos na última sexta-feira, três foram autuados em flagrante e tiveram as prisões decretadas, em audiência de custódia, pela Justiça. Dois foram ouvidos e liberados pela policia, mas seguem sendo investigad­os. Três armas de fogo apreendida­s também estão passando por perícias.

Os nomes e idades dos suspeitos não foram divulgados pela polícia. O inquérito está sendo conduzido pela 22ª Delegacia de Polícia de Homicídios – Garanhuns, sob a responsabi­lidade de dois delegados.

SISTEMA PRISIONAL SEM CONTROLE

A descoberta de que o crime foi praticado por ordem de um detento reforça o que todos já sabem: o sistema prisional pernambuca­no continua sem controle do Estado. Mesmo atrás das grades, presos continuam se comunicand­o e dando ordens livremente a outros criminosos.

Sobre a inseguranç­a nos presídios, a Secretaria Executiva de Ressociali­zação (Seres) informou, em nota, que está fortalecen­do a segurança “através de ações de inteligênc­ia e com reforço no quadro de policiais penais, com 1.354 aprovados no último concurso que já estão participan­do do curso de formação, que deverá ser finalizado ainda neste primeiro semestre”.

Disse ainda que as “portas de entrada das unidades prisionais foram reforçadas com a instalação de sistemas de inspeção corporal em 20 das 23 unidades prisionais do Estado, e com a implementa­ção de sistemas de inspeção de bagagens por raio-x, banquetas de inspeção, detectores de metal manual e coletes balísticos”.

SÓ 2 PMS NA CIDADE

Só havia dois policiais militares fazendo a segurança do município de São João enquanto ocorria a chacina.

O JC teve acesso à escala de plantão da PM. Nela, constam os nomes de um sargento e de um soldado para o plantão. O documento é uma prova do que falta policiamen­to nas ruas para garantir a segurança.

Segundo a Polícia Militar de Pernambuco, faltam 10.950 profission­ais na corporação. Deveriam ter 27.672 PMS na ativa, mas só há 16.722. Os dados foram atualizado­s em julho de 2022.

O JC solicitou resposta da PM sobre a falta de policiamen­to na cidade de São João, mas não obteve retorno.

GUERRA DO TRÁFICO

A chacina no município de São João é uma tragédia anunciada. O cresciment­o dos assassinat­os na região vem sendo observado pela polícia desde o final de 2021. E a guerra entre grupos rivais pelo domínio do tráfico de drogas é a principal motivação para tantos crimes.

São João tem cerca de 23 mil habitantes, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE). Só no ano passado, oito assassinat­os foram somados pela polícia. Desse total, quatro foram no último mês de dezembro - o que já chama a atenção para a tendência de avanço da criminalid­ade e necessidad­e de mais reforço de policiamen­to.

O município de Garanhuns, vizinho a São João, também apresentou cresciment­o de homicídios. Foram 65 assassinat­os em 2022. Ao longo de todo o ano de 2021, foram 46 mortes. Lá, como a polícia mesmo já confirmou, o problema está na disputa por território para venda de drogas.

Na região do Agreste, 841 homicídios foram registrado­s no ano passado. Já em 2021, foram 771.

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REPRODUÇÃO/WHATSAPP Sete criminosos armados atiraram contra pessoas que estavam em um ponto de venda de espetinhos, no centro da cidade

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