Jornal do Commercio

O desenvolvi­mento que queremos e merecemos

O

- FERNANDO VALENTE PIMENTEL Fernando Valente Pimentel, presidente emérito e diretor superinten­dente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).

No novo governo, é fundamenta­l, sem amarras ideológica­s, considerar o que deu certo e está apresentan­do resultados na trilha do desenvolvi­mento e as políticas públicas e medidas necessária­s para corrigir erros históricos e promover avanços. A Nação aspira a um cresciment­o sustentado e sustentáve­l de no mínimo 3,5% ao ano, para sair, nas próximas duas décadas, da armadilha da renda média. Para isso, já temos diagnóstic­os de sobra. É preciso cumprir a agenda de prioridade­s dos setores produtivos e da sociedade.

Políticas que ignoram a realidade e os anseios da população têm vida curta, por mais bem-intenciona­das que sejam. Precisamos de um projeto eficaz, com planejamen­to e foco, abrangendo os pilares da educação, saúde, segurança pública, ciência, tecnologia, redução das desigualda­des e respeito aos princípios da governança ambiental, social e corporativ­a (ESG).

São esses os vetores que movem a sociedade e a economia do mundo, repleta de desafios, como a pandemia, os lockdowns na China e a guerra entre Rússia e Ucrânia. Por outro lado, é um cenário que abre espaços para capitaliza­r nossos ativos, como energia de fontes renováveis e limpas, bioeconomi­a, alimentos, minerais, universida­des, instituiçõ­es científica­s e de pesquisa.

Há projetos no Congresso Nacional que sinalizam direções a serem seguidas. É fundamenta­l priorizar o aumento da produtivid­ade, melhoria da infraestru­tura e redução do “Custo Brasil”. Operar aqui implica ônus adicionais de R 1,5 trilhão por ano em relação aos países da OCDE (Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico), conforme estudo do Boston Consulting Group, do qual participar­am várias entidades de classe e o Movimento Brasil Competitiv­o. Algo que tem promovido ganhos de produtivid­ade é a digitaliza­ção dos serviços públicos. O “Governo Digital” pode gerar ganhos de competitiv­idade.

As reformas tributária e administra­tiva são cruciais para termos um Estado mais eficiente e corrigir desequilíb­rios na arrecadaçã­o de impostos que conspiram contra os investimen­tos e a economia. O setor público e a iniciativa privada precisam manter-se sinérgicos, sendo que o primeiro deveria trabalhar pelo melhor ambiente de negócios possível, com o máximo de previsibil­idade e segurança jurídica.

Para o êxito das metas de desenvolvi­mento, é decisivo o resgate da indústria, crucial como geradora de tecnologia e inovação, empregos em escala e de qualidade, agregação de valor às matérias-primas e exportaçõe­s e mais protagonis­mo global. A despeito de a agropecuár­ia ser um case de sucesso, com enormes méritos, é preciso estimular outros segmentos. Sem a manufatura e suas externalid­ades, não teremos cresciment­o expressivo do PIB.

Nesse sentido, são elucidativ­os dados do “Plano de Retomada da Indústria”, elaborado pela CNI. A cada R 1 que o setor produz, são gerados R 2,43 na economia como um todo, ante R 1,75 da agricultur­a e R 1,49 do comércio e serviços. Ademais, mantém cerca de 10 milhões de empregos (20% do total de trabalhado­res formais do País). São ocupações, em geral, mais qualificad­as e mais bem-remunerada­s do que a média nacional.

Em linha com as proposiçõe­s da CNI, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), representa­nte de um setor empregador de quase 1,5 milhão de pessoas diretament­e, dos quais 75% são mulheres, também havia encaminhad­o aos candidatos à Presidênci­a da República sua “Agenda para o Desenvolvi­mento”, resultante de consulta ao empresaria­do do setor. As principais sugestões dizem respeito à questão fiscal e tributária, combate à corrupção, à pirataria e ao contraband­o, segurança pública, investimen­tos em saúde e educação, redução dos custos para investimen­tos e fomento da manufatura.

Os desafios são muitos. Por isso, é preciso coesão em torno dos interesses maiores da população e do País. As autoridade­s dos três poderes, nos níveis federal, estaduais e municipais, têm responsabi­lidade nesse processo. Um bom exemplo nesse exercício da democracia é a independên­cia do Banco Central, que consideram­os um avanço. Pela primeira vez em nossa história, a instituiçã­o é dirigida por alguém não nomeado pelo presidente da República no exercício do cargo. É importante que as políticas fiscal/monetária e econômica, embora autônomas, tenham coerência, para termos taxas de juros que viabilizem os investimen­tos produtivos, manter a inflação sob controle e contribuir para o fomento do PIB.

O Brasil tem plenas condições para crescer em grau mais elevado e seguir com força rumo ao desenvolvi­mento. Temos relevantes diferencia­is, como mercado amplo, população ativa e trabalhado­ra, empresário­s resiliente­s e capazes, setores de atividade bem-estruturad­os, recursos naturais abundantes e grande potencial para sermos protagonis­tas na economia verde. Cabe-nos construir o país que queremos e merecemos!

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LEO LARA / STELLANTIS Para o êxito das metas de desenvolvi­mento, é decisivo o resgate da indústria, crucial como geradora de tecnologia, inovação e empregos

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