Jornal do Commercio

A complexida­de do eu ... Difícil retomar o que já se foi...

E o reflexo da imagem se desloca continuame­nte. Restaurar o Eu simboliza o que há de perfeito na humanidade. São tantas as versões que vale a pena aplaudi-las com intensa devoção. Desconheço os meus próprios princípios, mas consigo homenageá-los com vigor

- FÁTIMA QUINTAS fquintas84@terra.com.br Fátima Quintas, da Academia Pernambuca­na de Letras fquintas84@terra.com.br

Os detalhes se acumulam. A vida constitui uma permanente lembrança. E as miudezas transforma­m o aparenteme­nte pequeno em grandiosid­ades que extrapolam o próprio domínio do Eu. Não sou capaz de definir o passado. São tantos os requintes interiores que opto por relembrá-los em uma grandeza que facilita a curta memória. Difícil retomar o que já se foi, ainda que o desejo de assumi-lo se renove a cada instante. Então, a memória se encarrega de construir a cena em plena ousadia. E tudo se perde na vaguidão do ontem. Importa honrar o enredo do que já se foi.

Os fatos se acumulam e o desejo de renová-los ganha contornos específico­s. O espelho à frente se renova indefinida­mente. De um jeito ou de outro, o presente transforma o que já se foi e a herança adquire novas perspectiv­as. Não adianta iludir o pensamento; afinal, nada se equipara ao instante do agora. Vale, sim, retomar os ocultos momentos. Hoje, de um jeito; amanhã, de outro e a sequência, a inspirar novos cenários. Serei única na versão sempre dinâmica? Absolutame­nte, não. Aceitar os paradoxos faz parte da nossa consciênci­a. E, assim, renovamos um presente pleno de passados. Que os conceitos sejam diversos em amplitude. Impossível ignorar a imaginação, longe disso. Renascer a cada instante é um presente dos deuses.

E o reflexo da imagem se desloca continuame­nte. Restaurar o Eu simboliza o que há de perfeito na humanidade. São tantas as versões que vale a pena aplaudi-las com intensa devoção. Desconheço os meus próprios princípios, mas consigo homenageá-los com vigor. Estarei sempre pronta para retomar as verdades ignoradas. Contradiçã­o? Não. Apenas a disposição de aplaudir os paradoxos. Todo caminho é complexo; não adianta rejeitar as miudezas de cada dia. A análise do Eu tem múltiplas perspectiv­as, seguir adiante representa a verdade de cada um. E, assim, os caminhos se multiplica­m em incontávei­s dimensões. O finito e o infinito se acasalam, não convém qualquer esforço explicativ­o. Importa a consciênci­a da fragilidad­e.

Todos se acasalam em imensas perspectiv­as. A plenitude do complexo configura o que há de extremo em cada um. O que hoje se sabe, amanhã já se perdeu. E o passado acolhe o que há de diverso em nossa mente. Não importam os artificiai­s realismos; urge acreditar no impossível; assim, abraçamos o versátil de cada um. E as amplitudes pululam em versões as mais amplas. Quantos milênios guardamos do ontem? Cada um, com a sua inexorável dignidade. Faltam palavras para exprimir o real tanto quanto o irreal. Melhor conviver com o silêncio na sua versátil amplitude. Assim, acatamos o mistério e não ousamos interpretá-lo. Deixaria de ser mistério e o mundo se perderia na sua versão intraduzív­el. Nada melhor do que repetir o poeta: “O que sentimos não é sentido/é o que temos.”

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PIXABAY “Renascer a cada instante é um presente dos deuses”

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