A complexidade do eu ... Difícil retomar o que já se foi...
E o reflexo da imagem se desloca continuamente. Restaurar o Eu simboliza o que há de perfeito na humanidade. São tantas as versões que vale a pena aplaudi-las com intensa devoção. Desconheço os meus próprios princípios, mas consigo homenageá-los com vigor
Os detalhes se acumulam. A vida constitui uma permanente lembrança. E as miudezas transformam o aparentemente pequeno em grandiosidades que extrapolam o próprio domínio do Eu. Não sou capaz de definir o passado. São tantos os requintes interiores que opto por relembrá-los em uma grandeza que facilita a curta memória. Difícil retomar o que já se foi, ainda que o desejo de assumi-lo se renove a cada instante. Então, a memória se encarrega de construir a cena em plena ousadia. E tudo se perde na vaguidão do ontem. Importa honrar o enredo do que já se foi.
Os fatos se acumulam e o desejo de renová-los ganha contornos específicos. O espelho à frente se renova indefinidamente. De um jeito ou de outro, o presente transforma o que já se foi e a herança adquire novas perspectivas. Não adianta iludir o pensamento; afinal, nada se equipara ao instante do agora. Vale, sim, retomar os ocultos momentos. Hoje, de um jeito; amanhã, de outro e a sequência, a inspirar novos cenários. Serei única na versão sempre dinâmica? Absolutamente, não. Aceitar os paradoxos faz parte da nossa consciência. E, assim, renovamos um presente pleno de passados. Que os conceitos sejam diversos em amplitude. Impossível ignorar a imaginação, longe disso. Renascer a cada instante é um presente dos deuses.
E o reflexo da imagem se desloca continuamente. Restaurar o Eu simboliza o que há de perfeito na humanidade. São tantas as versões que vale a pena aplaudi-las com intensa devoção. Desconheço os meus próprios princípios, mas consigo homenageá-los com vigor. Estarei sempre pronta para retomar as verdades ignoradas. Contradição? Não. Apenas a disposição de aplaudir os paradoxos. Todo caminho é complexo; não adianta rejeitar as miudezas de cada dia. A análise do Eu tem múltiplas perspectivas, seguir adiante representa a verdade de cada um. E, assim, os caminhos se multiplicam em incontáveis dimensões. O finito e o infinito se acasalam, não convém qualquer esforço explicativo. Importa a consciência da fragilidade.
Todos se acasalam em imensas perspectivas. A plenitude do complexo configura o que há de extremo em cada um. O que hoje se sabe, amanhã já se perdeu. E o passado acolhe o que há de diverso em nossa mente. Não importam os artificiais realismos; urge acreditar no impossível; assim, abraçamos o versátil de cada um. E as amplitudes pululam em versões as mais amplas. Quantos milênios guardamos do ontem? Cada um, com a sua inexorável dignidade. Faltam palavras para exprimir o real tanto quanto o irreal. Melhor conviver com o silêncio na sua versátil amplitude. Assim, acatamos o mistério e não ousamos interpretá-lo. Deixaria de ser mistério e o mundo se perderia na sua versão intraduzível. Nada melhor do que repetir o poeta: “O que sentimos não é sentido/é o que temos.”