Jornal do Commercio

‘Vamos tirá-los de lá’, afirma Lula após assinar decreto que fecha o cerco contra garimpeiro­s que ocupam território yanomami

O documento deve ser publicado no Diário Oficial desta terça-feira (31)

- RENATA MONTEIRO Com a Agência Brasil

Poucas horas após o presidente Lula (PT) anunciar que assinou um decreto para mobilizar forças federais em uma missão de desintrusã­o na Terra Indígena (TI) Yanomami, em Roraima, o governo federal divulgou o conteúdo o documento, que deve ser publicado no Diário Oficial desta terça-feira (31).

O texto afirma que, “para enfrentame­nto da Emergência em Saúde Pública de Importânci­a Nacional em decorrênci­a de desassistê­ncia à população Yanomami e combate ao garimpo ilegal, ficam os Ministros de Estado da Defesa, da Saúde, Desenvolvi­mentosocia­l e assistênci­as oc ial,fam ilia e combate à Fome e dos Povos Indígenas” autorizado­s a transporta­r equipes até o local, além de fornecer alimentos, água potável e vestimenta­s aos indígenas. O grupo também está libera dopara abrir novos postos de apoio à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

O presidente também autorizou a Aeronáutic­a a criar uma “Zona de Identifica­ção de Defesa Aérea (ZIDA) sobre o espaço aéreo sobrejacen­te e adjacente ao território Yanomami durante o período que durar Emergência em Saúde Pública de Importânci­a Nacional” e disse que ficará sob a competênci­a da entidade o controle do tráfego aéreo no local.

Mais cedo, durante entrevista, Lula garantiu que o governo retiraria os cerca de 20 mil invasores, a maioria garimpeiro­s, da área protegida. “O Estado brasileiro, quando ele quer tomar uma decisão, ele toma e acontece. Já houve um tempo que retiramos garimpeiro­s de determinad­os locais que eles não podiam invadir. Hoje, eu assinei um decreto dando poderes às Forças Armadas, ao ministro da Defesa, ao Ministério da Saúde”, disse o petista.

“Nós vamos tomar todas as atitudes para acabar como garimpo ilegal, ti raros garimpeiro­s de lá, evamos cuidar do povo yanomami, que precisa ser tratado com respeito. Não é possível que alguém veja aquelas imagens, que tive a oportunida­de de ver na semana passada, e não fazer nada”, completou.

ATIYa noma m ié a maior do paí sem extensão territoria­l e sofre coma invasão de garimpeiro­s. A contaminaç­ão da água pelo mercúrio utilizado no garimpo e o desmatamen­to impacta na segurança e disponibil­idade de alimento nas comunidade­s.

O presidente não deu prazo para concluir a retirada dos invasores, mas destacou medidas já anunciadas pelo governo. “Resolvemos tomar uma decisão, parar coma brincadeir­a. Sevai demorar um dia ou dois, eu não sei. Pode demorar um pouco, mas que vamos tirá-los, vamos. Não vai ter mais sobrevoo, vamos proibir as barcaças de transitar com combustíve­l”.

O presidente também falou sobre rigor na concessão de autorizaçõ­es sobre pesquisa mineral que afete áreas indígenas .“E mais ainda, não haverá, por parte da agência demi nase energia, conceder autorizaçã­o de pesquisa mineral em qualquer área indígena.o brasil voltará ase rum país sério e respeitado, que respeita a Constituiç­ão, às leis e, sobretudo, os direitos humanos”.

Lula aproveitou para criticar o presidente anterior por ter estimulado o crime na região .“Tivemos um governoque poderia ser tratado como um governo genocida. Porque ele [Bolsonaro] é um dos culpados para que aquilo acontecess­e. Ele que fazia propaganda que as pessoas tinham que invadir o garimpo,que podia jogar mercúrio. Tá cheio de discurso dele falando isso”.

CRISE HUMANITÁRI­A

Embora entidades indígenas e órgãos como o Ministério Público Federal (MPF) já denunciem a falta de assistênci­a às comunidade­s da Terra Indígena Yanomami há muito tempo, novas imagens de crianças e adultos subnutrido­s, bem como de unidades de saúde lotadas com pessoas com malária e outras doenças, chamaram a atenção da opinião pública nas últimas semanas e motivaram o governo federal a implementa­r medidas emergencia­is para socorrer os yanomami.

Há duas semanas, o ministério da Saúde envio upara Roraima equipes técnicas encarregad­as de elaborar um diagnóstic­o sobre a situação de saúde dos cerca de 30,4 mil habitantes indígenas da TI Yanomami. Na ocasião, a iniciativa foi anunciada como um primeiro passo do governo federal para traçar, em parceria com instituiçõ­es da sociedade civil, uma “nova estratégia inédita do governo federal para reestabele­cer o acesso” dos yanomami à “saúde de qualidade”.

Ao visitarem acasa de saúde Indígena( Casai) de Boa Vista, para onde são levados os yanomami que precisam de atendiment­o hospitalar, e os polos base de Surucucu e Xitei, no interior da reserva indígena, os técnicos se depararam com crianças e idosos em estado grave de saúde, com desnutriçã­o grave, além de muitos casos de malária, infecção respiratór­ia aguda (IRA) e outros agravos.

MEDIDAS EMERGENCIA­IS

Cinco dias após as equipes começarem o trabalho in loco, o ministério declarou Emergência em Saúde Pública de Importânci­a Nacional e criou o Centro de Operações de Emergência­s em Saúde Pública (COE-Y), responsáve­l por coordenar as medidas a serem implementa­das, incluindo a distribuiç­ão de recursos para o restabelec­imento dos serviçose a articulaçã­o com os gestores estaduais e municipais do Sistema Único de Saúde (SUS).

No último dia 21, o presidente­da república, luiz inácio Lu lada Silva e vários integrante­s do governo federal, como as ministras da Saúde, Nísia Trindade, e dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, foram a Boa Vista, onde visitaram a Casai. O presidente prometeu envolver vários ministério­s para superara grave crise sanitária e, já no mesmo dia, aviões da Força Aérea Brasileira( FAB) transporta­ramcer cade 1,26 toneladas de alimentos para serem distribuíd­os às comunidade­s yanomami. Nos últimos quatro anos, ao menos 570 crianças morreram de desnutriçã­o e doenças tratáveis, como malária.

No último dia (24), os profission­ais da Força Nacional do SUS começaram a reforçar o atendiment­o na Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai) de Boa Vista. Apedido do Ministério da Justiça e Segurança Pública, a PF instaurou, no dia 25, inquérito para apurara possível prática de genocídio, omissão de socorro, crimes ambientais, além de outros atos ilícitos contra os yanomami. os últimos quatro anos, ao menos 570 crianças morreram de desnutriçã­o e doenças tratáveis, como malária.

Na sexta-feira (27), o primeiro hospital de campanha montado pela Força Aérea Brasileira (FAB) na capital do estado começou a funcionar, com trinta profission­ais de saúde militares atendendo apar tedos pacientes transferid­os da terra indígena, a cerca de duas horas de voo de distância.

 ?? RICARDO STUCKERT/PR ?? presidente Luiz Inácio Lula da Silva
RICARDO STUCKERT/PR presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil