Saúde monitora 180 pacientes expostos a ambientes contaminados por superfungo
Eles passam por exames para vigilância, prevenção e controle de possível infecção pelo superfungo
Com a identificação de mais um surto de Candida auris em Pernambuco (o primeiro ocorreu em 2022), a Secretariaestadualdesaúde (SES) informa que monitora 180 pacientes que foram expostos a ambientes por onde passaramastrêspessoascom diagnóstico confirmado do superfungo este mês.
A Candida auris é um fungoemergentequerepresenta uma grave ameaça à saúde global e foi identificado, pela primeira vez, como causador de doença em humanos em 2009, no Japão. É um superfungo que preocupa porque algumas cepas de Candida auris são resistentes a todas as três principais classes de fármacos antifúngicos.
Para reforçar a investigação, as ações de prevenção e controle da disseminação de Candida auris, Pernambuco anuncia a criação de um comitê técnico com a participação de gestores da SES, além derepresentantesdaagência Pernambucanadevigilância Sanitária (Apevisa), do Laboratório de Saúde Pública de Pernambuco(lacen-pe)eda Sociedadepernambucanade Infectologia.
Os três pacientes com diagnóstico do superfungo (todos são do sexo masculino), segundo a SES, estão comquadrodesaúdeestável. Entenda os perfis, de acordo com informações da pasta:
• Paciente de 48 anos está internadonohospitalmiguel Arraes,empaulista,nogranderecife.aunidadeédarede pública de Pernambuco. Ele teve a confirmação de Candida auris no dia 11 de maio.
• Paciente de 77 anos está nohospitaldotricentenário, localizado em Olinda, no Grande Recife. A unidade é da rede pública de Pernambuco. A confirmação do superfundo Candida auris foi dada no dia 14 de maio.
•Pacientede66anoseestá internado no Real Hospital Português(rhp),daredeparticular do Recife. Ele recebe assistência para tratamento de doença renal crônica e deve receber alta em breve para retornar às sessões de hemodiáliseemoutraunidadedesaúde,comisolamento. A reportagem do JC entrou em contato com a assessoria de comunicação do RHP, que informou que não irá se pronunciarsobreocasoeque todaadivulgaçãocontinuará sendo feita pela SES.
VIGILÂNCIA
“Agora, fazemos o monitoramento de 180 pessoas que passaram pelas mesmas áreas dos hospitais percorridas pelos três pacientes com diagnóstico de Candida auris. Esses 180 também são pacientes das unidades de saúde que estiveram no mesmo ambiente ou tiveram contato com as mesmas superfícies”, informa a sanitarista Karla Baêta, diretora-geral da Apevisa.
É importante explicar que esses 180 pacientes, de acordo com Karla, não têm atualmente diagnóstico de Candida auris, mas passam pelo monitoramento para vigilância, prevenção e controle de uma possível infecção pelo superfungo.
“Estão sendo realizadas coletas de cultura com swab. O protocolo pede que sejam feitos três testes, com intervalo de 72 horas entre eles. No terceiro resultado negativo, o paciente não precisa mais ser monitorado e é liberado”, explica Karla.
Os profissionais de saúde que tiveram contato com os três casos confirmados não precisam passar por essa vigilância porque, de acordo com a diretora-geral da Apevisa, eles seguem os protocolos de proteção individual e coletiva.
Sobre os casos confirmados de Candida auris este ano,empernambuco,asanitarista diz que os três pacientes estão colonizados pelo superfungo,enãoinfectados.
“Eles não têm sinais de doença infecciosa pela Candidaauris,esimsintomasdas doenças ou condições que levaram ao internamento, como uma quadro de doença renal crônica ou sequelas neurológicas por AVC (acidente vascular cerebral).”
Ospacientescomcandida auris podem não apresentar sinais relacionados à infecção pelo superfungo, mas ter quadro sugestivo de colonização. A diferença entre ambas as condições é que a colonização indica que o paciente está com o fungo, mas não apresenta infecção - e esta ocorre quando há presença de Candida auris na corrente sanguínea.
HOSPITAL MIGUEL ARRAES
Após confirmar o caso de superfungo Candida auris em paciente de 48 anos, o Hospital Miguel Arraes, em Paulista (Grande Recife), precisou suspender novos atendimentos. Dessa forma, a unidade tem recebido apenas pacientes que seguem a classificação de caso de urgência.
“O paciente com Candida auris que está no Miguel Arraes circula por quase dois meses no hospital, entre admissão, alta e readmissão. Por isso, não há uma área específica a ser isolada, já que foram vários ambientes pelos quais ele deve ter passado. Então, a conduta foi suspender os novos atendimentos no hospital”, explica Karla Baêta.
MAIS DE 20 MORTES EM 2022
Em Pernambuco, os primeiros casos de Candida auris reconhecidos oficialmente aconteceram em janeiro de 2022: um homem de 67 anos e uma mulher de 70 anos, internados no Hospital da Restauração, no Derby, área central do Recife. Dos 48 casos do superfungo Candida auris em Pernambuco confirmados em 2022, 21 foram a óbito. “Nenhum deles faleceu em função da Candida auris. Contudo, o fungo é um microrganismo oportunista que agrava sintomas de doenças de base, especialmente em pessoas imunossuprimidas (aquelas que possuem algum tipo de deficiência imunológica)”, esclarece Karla Baêta.
O surto de 2022 levou o governo de Pernambuco a reforçar ações. “Há nove meses que monitoramos o Hospital da Restauração, onde houve casos no ano passado, e não há confirmação de pacientes colonizados ou infectados por Candida auris atualmente nessa unidade de saúde”, garante.
Além do Recife, a cidade de Salvador já registrou dois surtos provocados pelo superfungo em hospitais: um em 2020; outro em 2021.
SEPTICEMIA
O infectologista Flávio de Queiroz Telles Filho, coordenador do Comitê de Micologia da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explica que a Candida auris ocorre como infecção hospitalar, que pode causar casos graves de septicemia (condição de resposta exagerada a uma infecção, seja por bactérias, fungos ou vírus) ou apenas colonizar a pele de pacientes. “Mas ela facilmente se mantém dentro de hospitais onde é detectada. É muito difícil de ser erradicada”, frisa.
O maior problema relacionado ao superfungo Candida auris, de acordo com o infectologista Filipe Prohaska, é que esse agente infeccioso é multirresistente a diversos medicamentosantifúngicos. “É um micro-organismo exclusivamente hospitalar”, diz o médico, que se preocupa com o potencial agressivo desse fungo.