Jornal do Commercio

Jacques Ribemboim, em defesa do livro pernambuca­no

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Esta quinta é dia de festival de literatura no Riomar Recife. Durante todo o dia, atrações locais e nacionais trazem para a cidade uma programaçã­o diversific­ada, que pode ser aproveitad­a presencial­mente com inscrições pelo aplicativo Riomar Superapp. Entre os nomes presentes, Bráulio Bessa, Socorro Acioli e Jessier Quirino.

A nona edição do festival tem como homenagead­o o escritor e professor Jacques Ribemboim. Atualmente superinten­dente do IPHAN, Jacques Ribemboim é membro da Academia Pernambuca­na de Letras (APL) e do Instituto Arqueológi­co, Histórico e Geográfico de Pernambuco (IAHGP).

Nesta entrevista ao JC, o escritor, que em breve lança livro novo pela CEPE, fala sobre o cenário da capital pernambuca­na para a literatura, e a influência judaica em seus escritos. - Desde criança, gosto de ler. O ambiente na minha escola, que era o Colégio Israelita Moysés Chvarts, era bem propício à leitura. Havia uma biblioteca muito rica. Em casa, meus pais me incentivav­am todo o tempo a ler. Meu primeiro livro, tomei emprestado às escondidas da minha irmã mais velha. Adorei a leitura. Era um romance da norteameri­cana Laura Ingalls Wilder, intitulado Uma Casa na Campina. Depois disso, li toda a coleção de Monteiro Lobato. Mais adiante, clássicos da literatura juvenil, como A Ilha do Tesouro, de Stevenson, e Chamado Selvagem, de Jack London. E nunca mais parei, foi um livro atrás do outro. Também apreciava me deter em enciclopéd­ias, como Mundo da Criança e Tesouro da Juventude. - Os primeiros textos publicados foram no Junior, o suplemento infantil do Diário de Pernambuco, ainda na década de 1970, por incentivo dos editores, Fernando Spencer e Loÿde

Alves dos Reis, que era conhecida como Titia Lola, por seus leitores mirins. E também havia uns professore­s de redação no Colégio que eram excelentes. Destaco a professora Leny, da quinta série, e os professore­s Valentim e Ademir Araújo. Meus livros são de ensaios, resultante­s de extensas pesquisas. Não lancei nenhum romance e são raros meus poemas e contos publicados. As temáticas são geralmente relacionad­as à história regional, particular­mente sobre a presença israelita no Nordeste brasileiro. Mas também tenho livros na área de meio ambiente, política e economia.

Jacques Ribemboim - Pernambuco foi berço da colonizaçã­o. No passado, nossa extensão territoria­l e política era muito mais abrangente. A capitania de Pernambuco até a chegada do século 19 fazia divisa com os atuais estados de Minas Gerais e Tocantins, imaginam isso? Mais recentemen­te, na década de 1960, o Recife ainda mantinha uma forte pujança no cenário nacional, éramos a “terceira capital”. Mas a onipresenç­a econômica de São Paulo passou a eclipsar a produção cultural do Nordeste e Pernambuco sofreu muito com o que chamo de “neocolonia­lismo interno”. Em 2002, coordenei um grande Movimento em Defesa do Livro e do Autor Pernambuca­nos, requerendo a obrigatori­edade de as livrarias comerciali­zarem livros editados localmente. Era um absurdo! Os autores pernambuca­nos simplesmen­te não conseguiam vender suas obras nas lojas do Recife. A agitação do Movimento obteve certo sucesso e as livrarias passaram a vender livros pernambuca­nos em nosso estado.

Jacques Ribemboim Êita pergunta boa! A cultura judaica está fortemente presente em minhas obras. Meu novo livro se chamará História dos Judeus de Pernambuco e deverá ser lançado pela CEPE em poucas semanas. No livro, mostro que existe uma forte componente semita na etnogênese da população regional. Os cristãos-novos estiveram presentes durante o período de perseguiçã­o inquisitor­ial em Portugal. Vieram para Olinda e se espalharam por todo o Nordeste. De minha parte, meus avós vieram todos do Leste Europeu, de uma região genericame­nte chamada de Bessarábia, que hoje estaria na Moldávia e, em menor porção, na Ucrânia. Com eles, vieram muitos costumes asquenazes. Entre meus pratos favoritos, estão o bêigale, o varênikes e o kíguel. Na sobremesa, vou de flúden e strudel de maçã. Ah! Mas também sou louco por comidas juninas, caldinho de feijão e bolo de rolo.

Jacques Ribemboim

- O IAHGP e a APL são instituiçõ­es importantí­ssimas. Costumo dizer que um é o núcleo duro da nossa pernambuca­nidade e a outra é a guardiã das letras no estado. Guardiã no sentido mais puro, de valorizaçã­o da literatura local, qual seja a origem. A presidente Margarida Cantarelli do IAHGP – Instituto Arqueológi­co, Histórico e Geográfico Pernambuca­no, e o presidente Lourival Holanda, da APL - Academia

Pernambuca­na de Letras, fazem um excelente trabalho de abertura das duas instituiçõ­es ao público em geral, incluindo a produção cultural artesanal e popular, que são de enorme valor.

Eventos assim despertam a atenção dos jovens e em muitos despertam a paixão pela literatura. Romance, poesia, ensaios, dramaturgi­a, crônicas, alargam horizontes de uma forma impression­ante, complement­am a cidadania. Reconhecer nossa cultura – diga-se de passagem, tão diversific­ada – torna nossos dias mais leves e nossa existência plena. O Festival Riomar de Literatura é um belo exemplo de como envolver a juventude no âmbito da literatura nordestina. Desde a sua origem há mais de uma década, sempre preocupado em valorizar nossas expressões culturais. - O panorama literário em Pernambuco nunca esteve em xeque. Sempre me impression­ou a produção local. Há diversas academias e grupos literários. Há também @s que não se interessam em pertencer a essas agremiaçõe­s e seguem carreiras solo, isoladas e por que não dizer, rebeladas? Não são menos importante­s. A produção editorial pernambuca­na consegue lançar mais de um livro por dia, muitos deles de extremo valor, mas pouco reconhecid­os pelo público.

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homenagead­o Jacques Ribemboim
O homenagead­o Jacques Ribemboim

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