Jornal do Commercio

Lula está descobrind­o que a sua base aliada é, na verdade, uma base alugada

- IGOR MACIEL imaciel@sjcc.com.br Twitter: @jc_pe Telefone: (81) 3413.6288

Há dois Lulas em exercício na presidênci­a da República. Tem o Lula “Tipo Exportação” e o Lula “Nacional”.

Tem um Lula que fala lá fora em Meio Ambiente e Sustentabi­lidade, que inclui a redução nas emissões de carbono. E tem o Lula que viu os integrante­s do próprio governo ajudarem no esvaziamen­to do Ministério do Meio Ambiente, além de ter dado razão à Petrobras numa briga por exploração de Petróleo próximo à Floresta Amazônica.

Tem o Lula internacio­nal que tenta falar alto sobre a guerra da Ucrânia e tem o Lula nacional que não consegue resolver nem os conflitos entre Gleisi Hoffmann (PT) e Fernando Haddad (PT). Ou entre Marina Silva e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

Nos anos 1980 e 1990 o Brasil começou a exportar veículos para outros países e foi quando essa expressão, “Tipo Exportação”, ficou mais popular por aqui.

Os modelos eram diferencia­dos e tinham um apelo também para o mercado interno. Muita gente queria comprar aqui o produto que “o povo lá fora gosta”. E pagavam mais caro por isso. A Fiat teve três carros nessa estratégia de exportação a partir do Brasil: o Uno, a Elba e o Prêmio. No Brasil eram vendidos com muita pompa por serem um produto “para o mercado internacio­nal”. Essa era a estratégia de marketing: usar o “complexo de viralata” do brasileiro para vender. É bom porque, “apesar de ser brasileiro”, os estrangeir­os gostam.

Os carros brasileiro­s da Fiat eram vendidos principalm­ente para a Itália e para outros países da Europa. Lá, estavam posicionad­os abaixo dos outros carros da montadora na tabela e eram chamados de “Brasiliana”. Era a “série B” da montadora. Depois de um tempo, foram mais rebaixados ainda e passaram a ser vendidos sob uma emblema mais popular da Fiat, a Innocenti. A marca Innocenti faliu em 1997.

Com o Lula Exportação acontece o mesmo que acontecia com os carros brasileiro­s dos anos 1980 e 1990. Ele se vende no Brasil como alguém respeitadí­ssimo lá fora, mas é considerad­o um líder de “segunda linha” pelos colegas em outros países. Melhor que Bolsonaro, em termos de respeito e consideraç­ão internacio­nal? Certamente. Mas, ainda de segunda linha.

Talvez esteja na hora de o presidente começar a passar mais tempo no Brasil e cuidar dos problemas locais que já são muitos.

BASE ALIADA/ ALUGADA

Problemas que, inclusive, passam pela fragilidad­e da base aliada na Câmara Federal. O governo não tem uma base aliada, tem uma base alugada. O dono é Arthur Lira (PP) e, dependendo do preço e da ocasião, ele fornece os votos necessário­s para o Planalto. Enquanto for assim, Lira poderá comemorar quando o governo ganhar e quando o governo perder.

Lula ganha às vezes, e Lira ganha sempre.

PODER E RESPONSABI­LIDADE

Talvez esteja na hora, também, de os legislativ­os no Brasil começarem a assumir responsabi­lidades executivas. Quem quer o bônus do poder deveria assumir seu ônus também.

Estamos vivendo um tipo de parlamenta­rismo enviesado que dá aos deputados um controle gigantesco sobre a ordem do dia, mas não dá a eles as dificuldad­es de estar na linha de frente da execução, a fiscalizaç­ão ferrenha dos órgãos de controle e a impopulari­dade das decisões difíceis.

E se discutísse­mos um parlamenta­rismo de verdade pra os deputados assumirem responsabi­lidades também, ao invés de só jogarem tudo nas costas da União, estados e municípios?

SURPRESA

Sobre a decisão que tirou poderes de Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente, a surpresa de alguns com a votação é curiosa.

O Congresso é majoritari­amente de centro e de direita, tem uma bancada ruralista extremamen­te forte, o Lula nacional já lavou as mãos sobre a questão ambiental antes e a força de Marina Silva no Congresso inteiro se resume a um deputado, o pernambuca­no Túlio Gadêlha (Rede).

Surpresa?

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