Jornal do Commercio

O impacto de uma possível saída de Marina Silva no cenário internacio­nal

O presidente Lula manifestou intenção de o Brasil sediar a COP-30 e não pode se dar ao luxo de perder seu ativo mais importante, a ministra Marina Silva.

- FABÍOLA GÓIS Correspond­ente da Rádio Jornal em Washington, DC

Não, o presidente Lula não pode deixara ministra Marina Silva sair do governo! A frase é direta e simples assim. Sua saída teria consequênc­ias catastrófi­cas para a imagem do Brasil no cenário internacio­nal depois de quatro anos de um governo ineficient­e e infeliz, o de Jair Bolsonaro. E não só em relação ao meio ambiente, mas à estratégia do Itamaraty em desenvolve­r uma política externa para tentar retornar o país à posição de liderança global.

Diferentem­ente do início do primeiro governo Lula, quando chefiou a pasta de 2003 a 2008 e era uma só uma voz importante no brasil, marina Silvas e transformo­u em um ícone mundial quando o assunto é agenda socioambie­ntal, como o desenvolvi­mento de baixas emissões de carbono e investimen­to em energia limpa. Esses temas não estavam tão em moda no início dos anos 2000.

No contexto global, Marina se insere entre os líderes que mais se engajam nos temas, como o Enviado Especial para o Clima dos Estados Unidos, John Kerry, e a Secretária do Departamen­to do Interior do Governo Joe Biden, Deb Haaland, pasta que cuida da conservaçã­o do meio ambiente nos Estados Unidos. Haaland faz história a ose tornara primeira indígena americana a servir como secretária de gabinete d apresi dên ciados estados unidos e é amiga de Marina Silva.

A Amazônia é uma palavra quase sagrada entre os líderes que se preocupam em combater os efeitos das mudanças climáticas. Os Estados Unidos – e a Europa – sabem o quando está custando os efeitos da Revolução Industrial deles, que provocam desequilíb­rio de ecossistem­as, aqueciment­o global e descongela­mento de geleiras. Cidades inteiras são dizimadas pela seca, enquantopa­íses inteiros correm o risco de desaparece­r por causa do aumento do nível do mar, inclusive vizinhos nossos do Caribe.

Quando o presidente Lula anunciou Marina Silva como ministra do Meio Ambiente, os olhos desses líderes internacio­nais brilharam. E as mãos se voluntaria­ram para a ajudar o combate ao desmatamen­to da Floresta Amazônica. Tanto é verdade que a Alemanha e a Noruega anunciaram o restabelec­imento Fundo Amazônia, criado em 2008, durante o segundo mandato de Lula, coma finalidade de captar recursos para investimen­tos em prevenção, monitorame­nto, conservaçã­o, combate ao desmatamen­to e promoção de iniciativa­s sustentáve­is na

Amazônia Legal. E mais, países como os Estados Unidos e o Reino Unido se juntaram à iniciativa e anunciaram aportes de $500 milhões cada um. O fundo, gerido pelo BNDES, acumula R$ 5,4 bilhões, com R$ 1,8 bilhão já contratado.

O que aconteceri­a se Marina Silva deixasse o governo? Simplesmen­te esses recursos poderiam ser suspensos novamente, como ocorreu em 2019, e não chegaria àqueles mais interessa dosem protegê-los, como o governo federal e local, as organizaçõ­es governamen­tais sérias e, principalm­ente, os povos indígenas, verdadeiro­s protetores da floresta e ameaçados de extinção da sua maneira de viver.

E não só o Fundo Amazônia. O Brasil também perderia a chance de assinar com a União Europeia um acordo de livre comércio, no âmbito do mercosul, porque a agenda ambiental está sendo levada a sério pela Inglaterra, França e Alemanha. Rei Charles, recém-empossado no trono inglês, é um defensor da preservaçã­o do meio ambiente, o presidente francês, Em manu elma cron, lidera pacote de medidas para transição ecológica, e o primeiro-ministro da alemanha, olafscholz, estabelece­u ametade proibira venda de carros à combustão a partir de 2030. O Brasil não pode dar a desculpa de que os produtores protecioni­stas nesses países querem para melar o acordo.

Agora imagine se Marina Silva deixasse o governo por pressão para liberar licenciame­nto para de exploração de petróleo pela Petrobrás na foz do Rio Amazonas? Seria catapultar­a imagem de que o Brasil é um país que não respeita o meio ambiente, independen­temente de quem o lidera. Um parecer técnico do ibama desaconsel­hou a liberação da obra no local, e a licença foi negada no dia 17 de maio. A região é de alta relevância biológica e há temor com o risco de acidentes que podem espalhar petróleo pela região. Segundo técnicos do Ibama, as correntes marítimas são muito diferentes das observadas em outros locais da costa brasileira e poderiam espalhar o óleo agrandes distâncias num curto espaço de tempo. Ponto final.

Marina Silva não é apegada a cargos. Em uma entrevista no passado, ela chegou a dizer: “eu perco a cabeça, mas não perco o juízo”. Sábia ministra. elas abeque o brasil só voltara liderara agenda ambiental pelo exemplo.

O presidente lula manifestou­intenção de o brasil sediar a COP-30 e não pode se dar ao luxo de perder seu ativo mais importante, a ministra Marina Silva.

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BRUNO SPADA AGÊNCIA CÂMARA DE NOTÍCIAS Marina Silva: “eu perco a cabeça, mas não perco o juízo”

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