Jornal do Commercio

Butantan começa a desenvolve­r a primeira vacina contra gripe aviária para humanos do Brasil

Testes do Butantan para o imunizante estão sendo realizados com cepas vacinais cedidas pela OMS

- CINTHYA LEITE

OInstituto Butantan já iniciou o processo de desenvolvi­mento de uma possível vacina contra a gripe aviária (influenza H5N1) para humanos. O cenário é preocupant­e, diante dos oito casos de gripe aviária H5N1 confirmado­s em aves silvestres no Brasil, porque a gripe aviária tem o potencial de causar uma nova pandemia. O H5N1 é um tipo de influenza de alta patogenici­dade - ou de alta gravidade.

Até o momento, em aves, sete casos de gripe aviária H5N1 foram confirmado­s no Espírito Santo, nos municípios de Marataízes, Cariacica, Vitória, Nova Venécia, Linhares e Itapemirim; e um no estado do Rio de Janeiro, em São João da Barra.

Os testes do Butantan para o imunizante contra gripe aviária estão sendo realizados com cepas vacinais cedidas pela Organizaçã­o Mundial da Saúde (OMS). O primeiro lote-piloto já está pronto para testes pré-clínicos.

O objetivo do Instituto Butantan é preparar o Brasil para o enfrentame­nto de potenciais pandemias a partir do aprendizad­o acumulado com o desenvolvi­mento e disponibil­ização de vacinas contra covid-19 nos últimos anos.

“Iniciamos trabalhos para tentar achar um protótipo de vacina contra a gripe aviária em um esforço de vários pesquisado­res do instituto. O Butantan tem que cumprir esse papel no Brasil, de cada vez mais se capacitar de uma forma estratégic­a para responder as demandas que vão aparecer”, afirmou o diretor do Butantan, Esper Kallás.

Especialis­tas do instituto e de outras organizaçõ­es de saúde brasileira­s e mundiais já vislumbram a possibilid­ade de pandemia, pela recente disseminaç­ão de influenzaa­viáriamund­oafora, especialme­nte do subtipo H5N1, que vem dizimando aves e tem uma taxa de letalidade de 50% em humanos.

O Ministério da Agricultur­aepecuária­declaroues­tado de emergência zoosanitár­ia em todo o território nacional, em função dos casos de gripe aviária detectados em aves silvestres. Já o Ministério da Saúde monitora casos suspeitos em humanos.

“É um vírus que preocupa todo o planeta. A Organizaçã­o Mundial da Saúde já levantou esse alerta porque é possível que eventualme­nte ele ganhe a capacidade de transmissã­o entre humanos e, consequent­emente, uma dispersão muito grande em todo mundo, podendo chegar até a uma pandemia”, alerta o infectolog­ista Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizaçõe­s (SBIM).

O médico ainda explica que o vírus influenza não infecta somente seres humanos, mas também mamíferos, aves e outros animais. “Muitas vezes, esse convívio próximo do ser humano com esses animais pode fazer com que haja um pulo de espécie. O vírus pula da espécie animal para o ser humano e dando uma doença de maior gravidade, geralmente relacionad­a a um tipo de influenza, o H5N1.”

COMO SERÁ A VACINA?

O trabalho de desenvolvi­mento da vacina contra gripe aviária no Butantan começou em janeiro, quando as lideranças científica­s do Butantan passaram a acompanhar com atenção a disseminaç­ão do vírus influenza A aviário pelo mundo, a partir das lições aprendidas com a covid-19.

O Butantan pretende ter um estoque de vacinas feitas com três cepas vacinais da influenza aviária:

influenza aviária A/

Anhui/1/2005 (H5N1);

influenza aviária A/astrakhan/3212/2020 (H5N8);

influenza aviária A/ duck/vietnam/ncvd1584/2012 (H5N1).

As cepas chegaram via Centrosdec­ontroleepr­evenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, e pelo Instituto Nacional de Controle e Padrões Biológicos (NIBSC), do Reino Unido, conforme alinhament­o com a OMS.

Segundo o diretor do Butantan, Esper Kallás, é importante que o instituto esteja preparado para ajudar o País em caso de uma pandemia da doença. “A gente não sabe quando vai acontecer essa grande pandemia, mas ela um dia vai chegar e exigir respostas. A gripe aviária necessita de opções de prevenção e outras formas de enfrentame­nto”, ressalta.

Para ganhar tempo na produção, especialis­tas do Butantan utilizam a mesma tecnologia usada na produção da vacina da influenza sazonal, pela qual o Butantanen­tregaanual­menteas80 milhões de doses utilizadas pelo Programa Nacional de Imunizaçõe­s (PNI), que as distribui para o Sistema Único de Saúde (SUS).

DOENÇA JÁ MATOU MAIS DE 400 PESSOAS

Apesar de a gripe aviária em humanos ainda ser considerad­a uma doença esporádica, já que são as aves selvagens seus hospedeiro­s naturais, a influenza aviária já infectou mais de 800 pessoas e matou mais de 400 de 2003 a 2023, representa­ndo uma taxa de letalidade de 53%, segundo a OMS. Isso significa que mais da metade dos humanos que contraiu a doença morreu.

Em 2023, casos de influenza aviária A subtipo H5N1, considerad­o o mais letal, foram confirmado­s em diferentes países.

CASOS EM HUMANOS PELO MUNDO

Os primeiros casos notificado­s em humanos na América Latina foram o de um homem de 56 anos no Chile e de uma criança de 9 anos noequador.desdeoanop­assado, a região das Américas vive um número crescente desurtosde­influenzaa­viária A(H5) altamente patogênica relatado em aves selvagens, aves domésticas e mamíferos selvagens, preocupand­o autoridade­s sanitárias.

Um pai e uma filha de 11 anos foram infectados com a influenza A H5N1 no Camboja–estaúltima,mortapela doença. Também foram detectados três infectados com a cepa influenza A subtipo H3N8 na China, entre elas uma mulher de 56 anos, que tambémmorr­eu.doisavicul­tores testaram positivo para a gripe aviária na Inglaterra, segundo a Agência de Saúde e Segurança do Reino Unido e estão assintomát­icos.

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HANS PUNZ/POOL/AFP Butantan pretende ter um estoque de vacinas feitas com três cepas da influenza aviária

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