Jornal do Commercio

Governo Lula anuncia medidas para estimular a compra de carros populares na contramão da crise climática

A base da proposta é o corte de impostos para ampliar o acesso a carros populares, que continuarã­o caríssimos para a maioria da população

- ROBERTA SOARES

Como esperado e temido pelos defensores da mobilidade urbana sustentáve­l, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai dar mais um estímulo à indústria automobilí­stica. Nesta quinta-feira (25/5), anunciou um plano para reduzir o preço dos carros populares novos.

Em anúncio no Palácio do Planalto, em Brasília, após reunião entre Lula e os representa­ntes do setor automotivo, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) divulgou que a principal medida será a redução de tributos para veículos de até R$ 120 mil, com a redução do IPI e do Pis/cofins.

O governo federal ainda vai anunciar quantas faixas de redução serão feitas, mas as reduções nos preços finais dos veículos poderão chegar a 10,96%. A lógica do governo é que os descontos sejam maiores para os carros mais baratos.

O objetivo do pacote de estímulo à indústria automobilí­stica é reduzir os valores iniciais de modelos compactos com motor 1.0 para valores entre R$ 50 mil e R$ 60 mil. Atualmente, o automóvel mais barato vendido no Brasil é o Renault Kwid na versão Zen, que custa R$ 69 mil. Os preços dos carros têm sido alvo de críticas do presidente Lula, inclusive publicamen­te.

O pacote foi anunciado por Geraldo Alckmin, que também é ministro do Desenvolvi­mento, Indústria e Comércio, e foi o responsáve­l pelo desenho do programa, cujos detalhe, segundo o jornal Folha de São Paulo, foram acertados ainda na quarta-feira (25), durante reunião entre Lula, Alckmin e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

PACOTE FEDERAL TEM DISFARCE DE SUSTENTABI­LIDADE

Segundo Alckmin, o desconto que irá variar de 1,5% a 10,96%, terá como base três fatores, entre eles um ligado à sustentabi­lidade - numa clara tentativa do governo de revestir o pacote com caracterís­ticas sustentáve­is e, assim, apaziguar as críticas das entidades que criticam a indústria do carro:

1) O valor atual do veículo: quanto mais barato o carro, maior será o desconto tributário;

2) A emissão de poluentes: quanto mais limpo for o motor e o processo produtivo, maior o desconto;

3) A cadeia de produção: quanto maior o percentual de peças e acessórios produzidos no Brasil, maior o desconto.

“Hoje, o carro mais barato é quase R$ 70 mil. Queremos reduzir esse valor. Quanto mais acessível, maior será o desconto do IPI, Pis-cofins. O segundo critério é premiar e estimular a eficiência energética, quem polui menos”, afirmou o vice-presidente. Mesmo assim, o carro mais barato ficaria acima de R$ 50 mil, valor alto para a maioria da população.

Também de acordo com Alckmin, o Ministério da Fazenda terá um prazo de 15 dias para adequar a decisão às regras fiscais, calculando a perda de arrecadaçã­o e informando qual será a compensaçã­o no orçamento.

Em seguida, o governo editará uma medida provisória e um decreto para regulament­ar o tema. As medidas serão anunciadas integralme­nte em junho.

ANFAVEA PREVÊ CARRO POPULAR ABAIXO DE R$ 60 MIL

Ao G1, o presidente da Associação Nacional dos Fabricante­s de Veículos Automotore­s (Anfavea), Márcio de Lima Leite, afirmou que, com o pacote de estímulo, os carros novos deverão voltar a custar menos de R$ 60 mil nas concession­árias.

“Na questão do preço, cada montadora tem sua política. Mas pelos números que vêm sendo apresentad­os, é muito possível termos preços abaixo de R$ 60 mil. Hoje, com as reduções tributária­s que estão em discussão e o esforço conjunto de todo setor, é bem possível que tenhamos. Mas isso é uma questão que cada montadora, que cada fabricante, tem a sua política”, declarou.

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GUGA MATOS/JC IMAGEM Governo Lula anuncia corte de impostos para ampliar acesso a carros populares e, pelo pacote, valor pode cair até 10,96%. Anfavea fala em carros populares abaixo de R$ 60 mil, o que ainda seria caro para o brasileiro

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