Entidades que defendem a mobilidade urbana sustentável criticam proposta do governo Lula para o carro popular
Pacote de estímulo à indústria automobilística está sendo anunciado pelo presidente Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin
do presidenteluladeestimulara indústria automobilística do Brasil recebeu duras críticasdeentidadesquelutam por uma mobilidade urbana sustentável, focada no transporte público coletivo e nos modais não motorizados.
No documento, o Coalizão Triplozero afirma que a decisão é um retrocesso sob a visão da mobilidade urbana sustentávele,principalmentedacrise climáticaqueoplanetaenfrenta, além de não ser condizente com a imagem que o presidentelulavemconstruindoparao mundo.
Externamente,quercolocar o Brasil na vanguarda da discussão climática, mas internamente lança uma política nacional de estímulo à indústria automobilística. CONFIRA o posicionamento na íntegra:
BRASIL APOSTA NO RETROCESSO AO PLANEJAR POLÍTICA DE ESTÍMULO AO AUTOMÓVEL
A notícia de que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estaria para lançar no dia 25 de maio de 2023 (quando se comemora o Dia da Indústria) um plano de incentivo à retomada do setor automotivo, com a redução dos valores dos carros populares, preocupa as principais entidadesdefensorasdamobilidadeurbanasustentávelcom inclusão e justiça social.
O anúncio é um retrocesso paraocenárioatualaindamais grave do que foi a ação semelhante realizada após a crise de 2008, pois hoje a sociedade se vê obrigada a defender as causas climáticas com ações eficientes de curto, médio e longo prazo. Lançar um pacote de ações para socorrer a indústria automobilística será um retrocesso nacional sob a ótica da mobilidade urbana sustentável e o país perderá a chance de, finalmente, ser protagonista com a narrativa da proteção climática.
Éfundamentalconsiderara contradição de ter um discurso amplo internacionalmente sobre o clima, enquanto as políticas internas caminham numa direção completamente díspar, com um pacote estimulante ao transporte individual, que prevê a ampliação das linhas de crédito e reduções tributárias para o setor fabril, entre outras ações.
Sabemos que pela marcante desigualdade de nosso país existem bens de consumo que são caros e excludentes, mas precisamos ponderar, qual desses bens devemos investir recursospúblicosparaampliar seuuso?quaisbenefíciosemalefícios isso traria?
O automóvel é o maior poluidordasnossascidades.não é possível apoiar esse setor industrial e ignorar seus impactos negativos na vida de todos. Esse é um erro de grandes consequências, que se repete.
Osmaioresprejudicadospelosexcessosdousodecarrosão os mais pobres: a maioria dos mortos no trânsito são pobres e negros. Os números recentes do DATASUS do Ministério da Saúde já confirmaram que as mortes no trânsito cresceram pelosegundoanoconsecutivo, com 33.813 vítimas em 2021.
Um número que representa um crescimento de 3,5% em relação a 2020, quando o País teve 32.716 mortes. Os bairros mais atravessados por vias rápidas, inseguras, viadutos e sem tratamento urbanístico para pedestres e ciclistas com segurança, são os periféricos. A maioria dos mortos pela poluição do ar são os mais pobres.
O Brasil já optou por soluções do tipo, e paga um alto preço até hoje, com o colapso do sistema de transporte público coletivo brasileiro, que culmina na crise urbana que enfrentamos diariamente em nossas cidades.
É ISSO QUE O BRASIL DO SÉCULO 21 QUER?
O foco do governo, se realmentebuscaumfuturoequitativo e verde, deve ser no transportepúblico,namobilidadea pé e por bicicleta. Precisamos de um sistema de transporte com triplo zero: zero emissões, zero mortes e zero tarifa.
Para isso, é urgente garantir subsídio público para expansão, qualificação e integração dos sistemas de transporte público; implantação de infraestruturas seguras, bem conectadaseconfortáveispara o pedestre e o ciclista; além de espaçospúblicosdequalidade e verdes nas cidades brasileiras. Se queremos fomentar a indústria e geração de empregos no Brasil, são esses setores industriais que devemos promover, os que envolvem o transporte coletivo e a produção de bicicletas.
Uma política nacional precisa garantir financiamento ao transporte público coletivo. Semofinanciamentosocialdo setor, será a população pobre quem mais sentirá. É preciso entenderamobilidadeurbana enquanto direito social e fundamental do cidadão, centrada no transporte público de passageiros e nos modos ativos, ao invés de eleger o carro como centralidade da escolha pública da Política de Mobilidadeurbanaparaonossopaís.
São os pobres que mais sofrem com a crise climática, comapoluiçãoprovocadapelo transporte individual, com a baixa qualidade do transporte coletivo e com a falta de adaptação das cidades aos efeitos do clima.
É urgente melhorar a experiência da população com o transporte público para, só assim,reduziroestigmaqueos ônibus e trens adquiriram no País, mesmo sendo as formas maiseficientesejustasdeapropriação das nossas cidades.
E isso só poderá ser feito com a garantia de investimentos para operação, de gestões compartilhadas, controle social e a implementação de um Sistema Único de Mobilidade (SUM), conforme demandado pela sociedade civil. O debate amadureceunasociedadenão precisamos mais de políticas contraditóriasquesóampliam os problemas ambientais e, consequentemente, as desigualdades sociais e raciais.
O orçamento federal é limitado, destinar recursos para o transporte coletivo compete diretamente recursos que poderiam ir para uma mobilidade mais sustentável, e assim trazer muito mais benefícios para o deslocamento e a vida de todos.
COALIZÃO TRIPLO ZERO
∙Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor ∙Inesc ∙Movimento Passe Livre ∙Tarifa Zero BH ∙Observatório da Mobilidade de Salvador
∙União de Ciclistas do Brasil
∙Rede Nossas ∙Casa Fluminense ∙Observatório dos Trens ∙Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento
∙Fundação Rosa Luxemburgo