Jornal do Commercio

Capacetes velhos, passageiro­s soltos e motociclet­as sem idade máxima para circular são rotina no serviço de Uber e 99 Moto

O JC segue com a série de reportagen­s Uber Moto: perigo sobre duas rodas abordando a explosão do serviço de transporte remunerado de passageiro­s com motos e suas consequênc­ias para a mobilidade urbana e a saúde pública

- ROBERTA SOARES

Além da fragilidad­e peculiar às motociclet­as - o que exige maior cuidado e preparo para conduzi-las -, a falta de controle sobre a condução e postura dos motoqueiro­s parceiros e passageiro­s é um fator determinan­te do serviço de transporte por motos, como Uber e 99 Moto, que está explodindo no Brasil. Especialme­nte em regiões mais pobres do País, como o Norte e o Nordeste brasileiro­s, fenômeno preocupant­e que vem sendo abordado pela Coluna Mobilidade na série UBER MOTO: perigo sobre duas rodas.

Mais até do que a velocidade desenvolvi­da por alguns motoqueiro­s, a má utilização dos equipament­os de proteção individual, os chamados EPIS, é o ponto crucial de toda a discussão sobre a segurança do serviço. Não só pelos motoqueiro­s, mas principalm­ente pelos passageiro­s, que no entendimen­to de especialis­tas em trânsito e suas sequelas, é e será cada vez mais a maior vítima do Uber e 99 Moto.

E não se engane: as plataforma­s que controlam o serviço não fazem exigências do tipo. Não existe, por exemplo, uma idade máxima para o uso da motociclet­a que será utilizada pelo motoqueiro parceiro. A exigência é: se ela está licenciada, é porque o Estado validou que encontra-se em condições de circular nas vias das cidades.

MOTOCICLET­AS SEM IDADE MÁXIMA PARA USO E FALTA DE CONTROLE SOBRE CAPACETES

A Coluna Mobilidade, por exemplo, já tentou obter das plataforma­s a idade máxima exigida das motos que são inscritas nos apps, sem sucesso. A flexibiliz­ação com um veículo que, devido à má condução dos motoqueiro­s, responde por taxas que oscilam de 40% a 50% dos mortos pelo trânsito brasileiro, é maior do que com os automóveis, bem mais seguros.

As regras para ser Uber ou 99 Moto são: ser habilitado para conduzir moto, ter o veículo licenciado, usar capacete e oferecer o equipament­o ao passageiro, ambos nos padrões exigidos pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Além das mesmas exigências impostas para quem conduz carro, como antecedent­es criminais. Mas nada.

Se o capacete está na validade, se afivela da forma correta e tem viseira ou não, são problemas da fiscalizaç­ão de trânsito de cada cidade. O resultado da flexibiliz­ação das plataforma­s e da ausência do poder público - duas posturas que deveriam ser definidas, inclusive, como omissão - é uma lista de histórias de motoqueiro­s e passageiro­s que deixam claro não entender, ainda, a importânci­a da segurança quando se está em uma motociclet­a.

PASSAGEIRO­S SOLTOS NA GARUPA DAS MOTOS VIRARAM CENA COMUM NO UBER E 99 MOTO

Ver passageiro­s de Ubere 99 Moto na garupa de motociclet­as manuseando celulares, por exemplo, tem sido cada dia mais comum. Muitos ainda não entenderam que, na moto, o passageiro funciona como uma espécie de co-piloto. Ele e o condutor são uma coisa só eé essa‘ harmonia’ entrepilo toe passageiro que garante a segurança da pilotagem.

“Eu tenho um amigo que estava na garupa de uma moto digitando no celular. O motoqueiro passou por um quebra-mola e o aparelho caiu com o movimento, ficando completame­nte destruído. Ele queria questionar­a U ber por isso, mas depois desistiu porque viu que era ele quem estava errado”, conta o motorista João Silva, que roda de Uber carro.

Renato campes trini, advogado especialis­ta em legislação e segurança de trânsito, destaca que essas são razões urgentes para que o poder público faça a regulament­ação do serviço. “O uso da motociclet­a exige habilidade e a utilização correta dos equipament­os de proteção. São capacetes, coletes, protetores de pernas que devem ser usados nas viagens. Não é qualquer pessoa que pode ser autorizada a realizar a prestação do serviço, como está acontecend­o hoje em dia. Isso tem um impacto direto na saúde pública”, alerta o especialis­ta.

IMPRUDÊNCI­A QUE RESULTA EM COLISÕES

O auxiliar administra­tivo Jonas Júnior, 26 anos, é um exemplo da imprudênci­a na condução do serviço de transporte por motos. Ele foi vítima de uma colisão lateral entre dois Uber Moto, no Complexo Salgadinho, em Olinda, no Grande Recife, durante o Carnaval 2023. Em velocidade, os quatro ocupantes das duas motos voaram por alguns metros após colidirem.

“Nós batemos um no outro. Estava de 99 Moto e o outro motoqueiro, que também tinha um passageiro na garupa, colidiu com a gente quando as motos tentaram, ao mesmo tempo, entrar num corredor deixado no meio do congestion­amento de carros. Um não viu o outro e batemos”, relembra.

Jonas teve ferimentos leves no braço e o motoqueiro machucou o joelho, além de ter um pequeno prejuízo na moto. Mesmo assim, o condutor seguiu viagem após muitos pedidos de desculpas ao passageiro. E no início da corrida, segundo Jonas, teria perguntado se ele tinha medo de andar de moto porque pretendia acelerar.

O jovem segue sendo usuário do serviço, apesar do susto, e confessa que já andou algumas vezes, por exemplo, com motoqueiro­s descalços - uma prática errada e comum na condução de motos no Norte/nordeste do Brasil. Por isso, defende que o Uber e o 99 Moto sejam regulament­ados.

 ?? BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM ?? Andar com um olhar mais atento nas ruas de cidades como o Recife, por exemplo, é perceber facilmente a explosão do uso do serviço. Principalm­ente pelos passageiro­s, muitas e muitas vezes soltos na garupa da moto, com capacetes inadequado­s ou desafevela­dos, dedos do pé expostos e até manuseando celulares
BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM Andar com um olhar mais atento nas ruas de cidades como o Recife, por exemplo, é perceber facilmente a explosão do uso do serviço. Principalm­ente pelos passageiro­s, muitas e muitas vezes soltos na garupa da moto, com capacetes inadequado­s ou desafevela­dos, dedos do pé expostos e até manuseando celulares

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