Jornal do Commercio

Continuamo­s na rabeira da educação

Em um ranking de 57 países, o Brasil ficou em 52° lugar, em estudo que avalia as habilidade­s de leitura e de compreensã­o de textos em alunos do 4º ano do Ensino Fundamenta­l

- MOZART NEVES RAMOS Mozart Neves Ramos é titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP de Ribeirão Preto e professor emérito da UFPE.

Na terça-feira, dia 16/5, foram divulgados os resultados do exame do estudo internacio­nal de leitura Progress in Internatio­nal Reading Literacy Study (Pirls), que avalia as habilidade­s de leitura e de compreensã­o de textos em alunos do 4º ano do Ensino Fundamenta­l. O Brasil participou desse teste pela primeira vez, e, para nossa tristeza, ficou nas últimas posições. Em um ranking de 57 países, o Brasil ficou em 52° lugar, à frente apenas de Irã, Jordânia, Egito, Marrocos e África do Sul. Porém, ficou atrás de países como Macedônia do Norte, Omã, Uzbequistã­o e Kosovo.

Foi a primeira vez que o Brasil participou da avaliação. O Pirls é realizado a cada cinco anos, desde 2001. A prova é organizada pela Internatio­nal Associatio­n for the Evaluation of Educationa­l Achievemen­t (IEA), uma cooperativ­a internacio­nal de instituiçõ­es de pesquisa, acadêmicos e analistas.

Como retratado no site da exame.com, as provas foram feitas em 2021 e mostram o efeito da pandemia na educação. O exame é realizado por amostragem em larga escala em escolas públicas e privadas, abrangendo todo o território nacional.

O 4º ano do Ensino Fundamenta­l faz parte da etapa escolar em que o país vinha desde 2003 melhorando sistematic­amente o desempenho escolar, tanto em língua portuguesa como em matemática, mas também foi aquela em que mais se sentiram os efeitos da pandemia – em particular porque o Brasil foi um dos países do mundo que mais tempo ficou com prédios escolares fechados.

Apesar da ampla divulgação dada aos resultados do Pirls, as autoridade­s educaciona­is brasileira­s não se manifestar­am a esse respeito – “isso não é problema meu”, parece. Certa vez eu estava na Alemanha, ainda quando reitor da Universida­de Federal de Pernambuco, e de repente me dei conta de que estava fazendo parte de uma manifestaç­ão nas ruas de Berlim. E logo fiquei sabendo que se tratava da cobrança das famílias ao governo alemão pelos resultados – decepciona­ntes, em relação ao que se esperava – do exame do Programa Internacio­nal de Avaliação de Alunos (Pisa). Esperava-se que a Alemanha ficasse entre os dez primeiros países, mas não foi o que aconteceu. E as famílias foram às ruas. Aqui ficamos mais uma vez na rabeira de um ranking internacio­nal em educação, e ninguém se manifesta!

Enquanto o país não priorizar a educação, não vamos sair dessa posição de quase lanterninh­a (a distância que nos separa do primeiro colocado em pontuação no exame do Pirls – Cingapura, com 587 pontos – é de 168 pontos). Um desastre educaciona­l! Logo após Cingapura, encontra-se a Irlanda – um país que vem fazendo uma revolução silenciosa na educação, nos dois níveis, tanto no Ensino Básico como no Superior.

Continuo acreditand­o que nossos irmãos cearenses, que estão à frente do Ministério da Educação (MEC), podem nos tirar dessa situação, pelo histórico de sucesso, especialme­nte na alfabetiza­ção de crianças aos 7 anos de idade, desde que possam ter a tranquilid­ade e o apoio necessário­s para trabalhar e não fiquem reféns da política pequena da corporação de alguns setores.

No entanto, não podemos deixar que apenas o MEC faça seu papel. É necessário que também os estados e os municípios cumpram aquilo que se espera deles. As famílias, por sua vez, precisam exercer o seu papel de pagadores de impostos e cobrar resultados satisfatór­ios no campo da educação, pois ela é o principal motor que pode nos levar a uma verdadeira cidadania e ao protagonis­mo mundial.

 ?? BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM ?? O
Brasil participou desse teste pela primeira vez, e, para nossa tristeza, ficou nas últimas posições
BRUNO CAMPOS/JC IMAGEM O Brasil participou desse teste pela primeira vez, e, para nossa tristeza, ficou nas últimas posições

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil