Jornal do Commercio

Visão embaçada de Lula para ditadura da Venezuela é capítulo que o presidente não faz questão de esconder

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Quando o estudante começa a ter os primeiros contatos com a língua portuguesa, ele logo sente que está diante de um processo de aprendizag­em que vai exigir muita leitura, escrita com rigor e conhecimen­to de algumas técnicas que serão empregadas para além da sala de aula. E quando chega o educador, carregando uma gramática debaixo dos braços, tira o pincel - ou seria, ainda, o giz - e escreve: elementos da narrativa.

Pronto. Toda a sala estará sendo apresentad­a aos principais aspectos do que pode ser caracteriz­ado como narrativa: as personagen­s, o narrador ou o foco narrativo, os principais acontecime­ntos, o tempo em que aquele fato se deu, o espaço, o modo e causa. Agora, apenas para efeito de imaginação, pense comigo. O que um educador coerente diria do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), nesta segunda-feira (29)?

“Você sabe a narrativa que se construiu contra a Venezuela, da antidemocr­acia, do autoritari­smo, sabe? Então eu acho que cabe à Venezuela mostrar a sua narrativa para que possa efetivamen­te fazer as pessoas mudar de opinião. Eu vou em lugar em que as pessoas nem sabem onde fica a Venezuela, mas sabe que a Venezuela tem problema da democracia, que o governo não sei das quantas. Então é preciso que você construa a sua narrativa.” O que acabemos de ler é parte do discurso de boas-vindas feito pelo presidente do Brasil ao presidente venezuelan­o, Nicolás Maduro.

Caso o petista tivesse parado por aí, ainda que intoleráve­l, alguém poderia dizer: “olha, o presidente do Brasil não deveria fazer discursos de improviso”. Pois pode acreditar, Lula ainda teve a pachorra de dizer que a imprensa e alguns políticos são preconceit­uosos com o que se passa na Venezuela. “O preconceit­o continua, ainda. O preconceit­o contra a Venezuela é muito grande. Quantas críticas a gente sofreu aqui durante a campanha por ser amigo da Venezuela.”

Com tantos assessores de que dispõe um presidente da República, será que ninguém quis apresentar a Lula o relatório por Marta Valiñas, chefe de uma missão especial da Organizaçã­o das Nações Unidas (ONU), após viagem ao país bolivarian­o? “Nossas investigaç­ões e análises mostram que o Estado venezuelan­o conta com os serviços de inteligênc­ia e seus agentes para reprimir a dissidênci­a no país. Ao fazer isso, graves crimes e violações dos direitos humanos estão sendo cometidos, incluindo atos de tortura e violência sexual. Essas práticas devem parar imediatame­nte, e os responsáve­is devem ser investigad­os e processado­s de acordo com a lei.”

“É um absurdo”, bradou a oposição. “São estratégia­s de aproximaçã­o”, disse um líder governista. Mas todos sabemos que Lula, quando o assunto é incensar violadores de direitos humanos, ele costumeira­mente tem ligado o “dane-se!”. Tem sido assim com seu “grande e estimado amigo,” Daniel Ortega, presidente da Nicarágua. Foi também assim, ontem, com Maduro. Lula nem de longe vive a coerência que cobra de seus opositores. O presidente brasileiro virou um passador de pano para ditadores e ditaduras.

OS AVIÕES SECRETOS E OS VOOS CLANDESTIN­OS DA COMITIVA DE MADURO

Quem desse uma olhadela nesta segunda-feira (29), na pista da Base Aérea de Brasília, viria duas aeronaves que cortaram os céus do Brasil, carregadas de mistérios. O A319, prefixo YV-2984, que transporto­u Nicolás Maduro e o Embraer 190, prefixo YV-2944 são “alvos de sanções” pelo governo dos Estados Unidos, supostamen­te porque serviram para transporte de dinheiro de origem duvidosa, conforme relatório de serviços de inteligênc­ia e da Agência de Controle de Ativos Estrangeir­os. Na prática, se um desses aviões que trouxe a comitiva do governo da Venezuela ao Brasil, entrar no espaço aéreo dos Estados Unidos, poderá ser intercepta­do. A Força Aérea Brasileira (FAB) não se manifestou.

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