Jornal do Commercio

Câmara do Recife arquiva projeto sobre linguagem neutra nas escolas

Proposta havia passado em primeira votação na Câmara dos Vereadores da capital pernambuca­na

- LUCAS MORAES

OProjeto de Lei número 206/2020, de autoria do vereador Fred Ferreira (PSC), que propõe a proibição do uso da linguagem neutra nas escolas e estabeleci­mentos públicos municipais, além de editais da Prefeitura do Recife, foi rejeitado, nesta segunda-feira (29), em segunda votação na Câmara dos Vereadores do Recife. A proposta teve 20 votos contrários, 13 votos favoráveis e uma abstenção.

Na sua primeira votação na Câmara de vereadores da capital, na terça-feira (23), o texto recebeu 15 votos a favor e 13 contra.

Considerad­o inconstitu­cional por parte dos vereadores, a proposta não deixa claro em que situações a linguagem neutra não seria permitida e previa até a cassação do alvará do funcioname­nto de escolas que descumprir­em a legislação.

Além do conteúdo do texto, as primeiras críticas à votação do projeto suscitaram por conta da tramitação, sem passagem pelas comissões, do projeto. Sem o parecer das comissões temáticas permanente­s da Casa, o texto foi para votação, o que para alguns parlamenta­res não poderia ser feito, mesmo que a Lei Orgânica do Recife permita que um projeto de lei que passar dos 60 dias sem parecer dos colegiados possa ser incluído pelo autor na pauta para votação.

“Em insisti em mostrar a inconstitu­cionalidad­e desse projeto. Apesar de ser contra linguagem neutra, eu votei com muita tranquilid­ade ‘não’. Eu sou contra, mas votei ‘não’ porque o projeto é totalmente inconstitu­cional”, disse o vereador Samuel Salazar (MDB).

Na sua justificat­iva, Fred Ferreira, autor da proposta, afirmou que “a Língua Portuguesa não é preconceit­uosa, (ao priorizar o uso do gênero masculino em generaliza­ções) mas sim aqueles que a pretendem utilizar para militância ideológica”.

O parlamenta­r, por meio do Projeto de Lei, solicitou que ficasse “vedada a utilização de novas formas de flexão de gênero e de número das palavras da Língua Portuguesa, em contraried­ade às regras gramaticai­s consolidad­as no país e aprovadas pela Comunidade Lusófona”.

“Infelizmen­te, a cidade do Recife começa a saber quem é contra e quem é a favor da linguagem neutra nas nossas escolas. Esse é um momento em que a sociedade clama sobre a discussão dessa linguagem não-binária nas nossas escolas”, lamentou Fred Ferreira.

A medida poderia ser estendida às escolas municipais mantidas pela Secretaria Municipal de Educação do Recife e a todos os demais estabeleci­mentos públicos municipais provedores de ensino, informação e cultura. Além dos editais de concursos da Administra­ção Pública Municipal e também ser aplicada às escolas da rede particular do Recife.

No caso de descumprim­ento da nova legislação, além de advertênci­a, estava previsto que escolas da rede pública poderiam ser submetidas a processos administra­tivos, enquanto que unidades privadas poderiam ter o alvará de funcioname­nto até cassado.

O QUE É LINGUAGEM NEUTRA

A “linguagem neutra”, busca inclusão e representa­tividade daqueles que se sentem excluídos pelo binarismo, evitando o uso dos gêneros feminino e masculino, mas não impondo a ninguém o uso das formas considerad­as neutras. As alterações, tentam tornar a comunicaçã­o menos sexista e com maior representa­tividade para as pessoas não-binárias.

Apesar de ter ganhado espaço entre os falantes, não há atualmente nenhuma obrigação ou recomendaç­ão do Ministério da

Educação sobre o ensino da ‘’linguagem neutra’’ em escolas, assim como não há nenhuma imposição de sua aplicação no dia a dia dos estudantes.

Os adeptos da linguagem neutra costumam substituir os pronomes e artigos “a” e “o” pelas letras “x” ou “e” e o símbolo “@”.

No mês de fevereiro deste ano, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) declarou inconstitu­cional uma lei do Estado de Rondônia que proibia a “linguagem neutra” em instituiçõ­es de ensino e editais de concursos públicos. Por unanimidad­e, a Corte entendeu que a norma viola a competênci­a legislativ­a da União para editar normas gerais sobre diretrizes e bases da educação.

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PAULO MELO/PCR Proposta que legislava sobre linguagem neutra foi rejeitada pelos vereadores do Recife

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