Sobe para seis o número de pacientes com Candida auris em Pernambuco
Segundo a Anvisa, são atualmente três surtos - cada um representado por uma unidade de saúde
Na noite de ontem, a Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES-PE) divulgou a confirmação de mais dois casos do superfungo Candida auris, que tem intrigado especialistas em todo o mundo. É um microrganismo resistente a medicamentos e responsável por infecções hospitalares. Por isso, é um dos que mais ameaçam a saúde pública no mundo.
Os dois novos pacientes diagnosticados ontem têm 70 anos (mulher) e 51 anos (homem). Eles estão internados, respectivamente, nos hospitais Miguel Arraes (HMA), em Paulista, e Tricentenário, em Olinda. Ambos ficam no Grande Recife.
Com a atualização, sobe para seis o número de pessoas diagnosticadas este ano com Candida auris em Pernambuco. São pacientes do Hospital Miguel Arraes, do Tricentenário e do Real Hospital Português (este último no bairro de Paissandu, área central do Recife). Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), são atualmente três surtos - cada um representado por uma unidade de saúde.
Segundo a SES-PE, os dois pacientes com diagnósticos confirmados ontem deram entrada nos hospitais por causas não relacionadas à Candida auris e não apresentam repercussões clínicas decorrentes do superfungo.
“O homem (de 51 anos) possui histórico de AVC (acidente vascular cerebral) e quadro convulsivo, com longo período de permanência hospitalar. Ele foi admitido na unidade em outubro de 2016. É importante destacar que esse paciente possui quadro de alta clínica, porém segue hospitalizado devido ao seu contexto social”, informa, em nota, a secretaria.
Já a mulher, de 70 anos, deu entrada no Hospital Miguel Arraes no dia 14 deste mês, devido a uma lesão no pé infeccionada. Como ela teve contato com paciente colonizado por Candida auris, precisou seguir o protocolo de vigilância e passou por exames.
O diagnóstico de Candida auris da paciente foi dado apenas após a alta hospitalar, que ocorreu no último dia 23 de maio. Para o exame, foi realizado swab de vigilância (procedimento feito em casos de contactante de um caso positivo para Candida auris).
Em nota, a SES-PE ressalta que, mesmo após a alta hospitalar, o paciente pode permanecer colonizado por cerca de três a seis meses. “No momento da saída da unidade, o paciente recebe um sumário de alta relatando o histórico clínico e o diagnóstico positivo. Nesse caso, o paciente não precisa ficar isolado e pode realizar atividades regulares, seguindo as medidas de cuidado e prevenção de rotina, como higienização das mãos, higiene pessoal e limpeza adequada do ambiente utilizando hipoclorito de sódio”, informa a pasta.
Caso o paciente precise procurar um serviço de saúde, é preciso apresentar o documento de alta com o histórico clínico.
SINTOMAS
O superfungo Candida auris pode causar infecção de corrente sanguínea e outras infecções invasivas. Ele pode ser fatal, principalmente em pacientes imunodeprimidos ou com doenças crônicas.
O infectologista Danylo Palmeira, presidente da Sociedade Pernambucana de Infectologia (SPEI), explica que a Candida auris ocorre como infecção hospitalar. “Não há diagnóstico clínico baseado em sinais e sintomas de Candida auris”, diz.
As infecções por Candida auris, segundo Danylo, estão relacionadas ao uso de dispositivos chamados invasivos, como um cateter venoso central, uma sonda vesical e um ventilador mecânico. “São casos em que há um maior risco de ocorrência de infecção hospitalar, incluindo por Candida auris”, explica Danylo.
Ele frisa que o superfungo Candida auris se mantém facilmente nos hospitais onde há pacientes colonizados ou infectados. “É um fungo que, no ambiente hospitalar, consegue sobreviver sem estar no organismo humano.” Ou seja, a Candida auris pode estar em superfícies ou equipamentos da unidade de saúde. Por isso, é muito difícil de ser erradicada.
A transmissão do superfungo Candida auris ocorre em ambiente hospitalar, diretamente de equipamentos, superfícies e materiais de assistência ao paciente com Candida auris (como estetoscópios e termômetros, além de outros), mas nada impede que essa transmissão também aconteça pelas mãos dos profissionais de saúde. Por isso, a higienização das mãos precisa ser respeitada.
Quando tem alta da unidade de saúde, o paciente pode seguir para casa, já que é um superfungo de ambiente hospitalar (ocorre dentro de hospital). “Não é na comunidade (pelas ruas, em casa, na feira, no supermercado...) que uma pessoa vai ser colonizada por Candida auris. E o paciente que foi diagnosticado com o superfungo, foi controlado e teve alta, não vai transmitir. No entanto, quando ele precisar ir a um serviço de emergência ou qualquer outra unidade de saúde, ele precisa sinalizar que já teve cultura positiva para Candida auris, pois cuidados precisam ser seguidos, pelo menos, por dois anos”, orienta Danylo.