Cigarro eletrônico: o dispositivo que ilude, mas faz muito mal à saúde
Tanto os cigarros eletrônicos como os convencionais de tabaco apresentam riscos para a saúde
Este Dia Mundial sem Tabaco (31 de maio) desponta com um alertasobredispositivoscomo o cigarro eletrônico (dispositivo também chamado de vape e de e-cigarretes), que são tão prejudiciais quanto o cigarro tradicional. Uma lista imensa de doenças está relacionada ao hábito de fumar, seja cigarro eletrônico ou o convencional de tabaco, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca).
Fazem parte desse grupo vários tipos tumores malignos, como câncer de pulmão, fígado, estômago, pâncreas, rins, ureter, colon e reto, bexiga,ovários,colodoútero,cavidadenasaleseiosparanasais, cavidadeoral,faringe,laringe, esôfago e leucemia mieloide aguda.
Entre os mais jovens, o cigarro eletrônico (vape) tem sido motivo de preocupação. Esse dispositivo passa a ideia de que não faz mal. No entanto, é um perigo.
Existem diversos tipos de cigarros eletrônicos em uso, também conhecidos como Sistemaseletrônicosdeadministração de Nicotina (ENDS, em inglês) ou Sistemas Eletrônicos sem Nicotina (ENNDS, em inglês). Em ambos os casos, o usuário inala aerossóis gerados pelo aquecimento de umlíquidoquepodeconterou nãonicotina,alémdeaditivos, sabores e produtos químicos tóxicos à saúde.
O QUE FAZ MAIS MAL: VAPE OU CIGARRO?
Ambossãocigarros.ambos fazem muito mal. Em outras palavras: tanto os cigarros eletrônicos como os cigarros convencionais de tabaco apresentam riscos para a saúde. A abordagem mais segura é não usá-los.
Jovens têm preferido os vapes por acreditarem erroneamentequesãomenosdanosos à saúde. Diferentemente da versão convencional do cigarro, o eletrônico tem sabores e aromas que mascaram o teor nocivodoproduto,oquetorna os riscos invisíveis.
Deacordocomumapesquisa desenvolvida pelo Inca, o cigarro eletrônico (vape) aumenta mais de três vezes o risco de experimentação do cigarro convencional e mais de quatro vezes o risco de uso do cigarro. Além disso, o levantamento reforça ainda queovapeelevaaschancesde iniciar o uso do cigarro tradicionalparaaquelesquenunca fumaram.
“Há cerca de 30 anos, o cigarro convencional era visto como sinônimo de status. Isso não tem sido diferente com o cigarro eletrônico, principalmente entre os mais jovens. Apesar de na última década o Brasil ter diminuído 40% o número de fumantes, não devemos fechar os olhos para oproblemaqueéocigarroeletrônico. É um cigarro com um outro formato e que faz parte da narrativa atual”, comenta a oncologista Mariana Laloni, do Grupo Oncoclínicas.
Aproximadamente 10% da populaçãobrasileiraacimade 18 anos fumam. Ou seja, o vícioafetamaisde20milhõesde pessoas no País.
“Quando falamos do cigarro eletrônico, o Ibope Inteligência aponta que o problema dobrou em apenas um ano, passando de 0,3% para 0,6%dapopulaçãonobrasil”, explicaaoncologistamariana Laloni. Dentro desse cenário, especialistasestimamquecerca de 600 mil pessoas fazem uso de vape.
Apesar de proibidos desde 2009pelaresoluçãodediretoria Colegiada nº 46 da Anvisa, os cigarros eletrônicos atraem cada vez mais usuários.
POR QUE NÃO FUMAR VAPE?
“Os vapes ou e-cigarretes passaram a ser mais socialmente aceitos em diversos ambientes, além de serem mais atrativos por causa da tecnologia. Mas esses cigarros eletrônicos fazem tão mal quanto o cigarro tradicional”, reforça.
A médica ainda alerta que os cigarros eletrônicos possuem várias substâncias tóxicas que, quando combinadas, acabam mascarando os efeitos prejudiciais à saúde. “Contudo, é importante lembrar que essas substâncias existem e podem causar enfisema pulmonar, doenças respiratóriaseatémesmocâncer”, alerta Mariana.
O aditivo de aromatizantes, como mentol, chocolate e chiclete, entre outros, é usado para atrair um maior público.
ALÉM DA NICOTINA
Quanto à fumaça liberada pelos vapes, é possível encontrar elementos que vão além da nicotina, como chumbo, propilenoglicol, glicerol, acetona, sódio, alumínio, ferro, entre outros.
Além de as substâncias presentes no cigarro eletrônico serem mais viciantes, algumas pesquisas sobre o tema apontamqueessedispositivo, assim como o convencional, pode afetar não só o sistema respiratório, como também desregular alguns genes do organismo.
Um estudo realizado pelo professorahmadbesaratinia, da Universidade do Sul da Califórnia (EUA), mostrou que esse impacto ocorreu nos genes mitocondriais e chegou a interromper vias moleculares quefazempartedaimunidade e resposta inflamatória.
Ou seja, os elementos que compõem os dispositivos podem futuramente desencadear doenças autoimunes e atrapalhar na recuperação de outros distúrbios do corpo.
“Na tentativa de deixar o tabagismo, é preocupante que muitos usuários ainda usem os cigarros eletrônicos. Essa apelação pode torná-los usuários duplos e fazer com que o vício ocorra em ambas as frentes. Por isso, é preciso saber pedir e aceitar ajuda”, diz Mariana Laloni.
É POSSÍVEL PARAR?
“O fumante precisa transformar seus hábitos e estilo de vida. De duas a 12 semanas sem cigarro, há a melhora da função pulmonar e da circulação. Ao longo de 9 meses sem cigarro, a tosse e falta de ar diminuem. Em 10 anos, a mortalidade por câncer de pulmão chega a ser a metade da de um fumante. É possível superar o vício e apostar em uma nova vida sem o cigarro, seja ele eletrônico ou tradicional”, sublinha a oncologista.
A médica acrescenta que parar de fumar é a forma mais eficaz de prevenir o câncer de pulmão e diversos outros tumores, além de doenças cardíacas, doença pulmonar obstrutiva crônica, pneumonia, AVC (acidente vascular cerebral) e complicações severasdecorrentesdeinfecções respiratórias.
“Deixar o hábito de lado é dar uma segunda chance aos pulmões. Lá na frente, as pessoas que abandonaram esse vício irão se deparar com diversos benefícios ao organismo, como um menor risco de desenvolver vários tipos de câncer e ainda a recuperação de sequelas adquiridas pelo tabagismo. Devemos alertar a população, principalmente os mais jovens, sobre os riscos que o cigarro tradicionaleeletrônicopodem causar”, conclui.