Jornal do Commercio

Proibição de celulares em sala de aula: entenda a regulament­ação em Pernambuco

Em Pernambuco, a utilização de aparelhos celulares e equipament­os eletrônico­s nas salas de aulas, biblioteca­s e outros espaços de estudo das instituiçõ­es de ensino públicas e particular­es, é regulament­ada por lei desde 2015

- MIRELLA ARAÚJO

Ouso de celulares no ambiente escolar voltou a ser debatido, após a Prefeitura do Rio de Janeiro publicar um decreto restringin­do a utilização dos aparelhos na rede municipal de ensino. Os dispositiv­os só poderão ser acessados antes da primeira aula e após a última, à exceção de casos especiais.

A proibição vale para dentro da sala de aula e também para os intervalos entre as aulas, incluindo o recreio. Segundo o decreto, em vigor desde o dia 2 de fevereiro, apenas na Educação de Jovens e Adultos (EJA) será permitido o uso de celulares nos intervalos.

Já no estado de São Paulo, a Secretaria de Educação ampliou o bloqueio de acesso às redes sociais e aplicativo­s de vídeo nas rede wi-fi e cabeada das escolas estaduais, que já vinha sendo restrito desde o ano passado, mas agora passou a contemplar também os ambientes administra­tivos desde o dia 5 de fevereiro.

“O objetivo da medida é otimizar o uso de infraestru­tura tecnológic­a para o desenvolvi­mento pedagógico dos estudantes”, declarou a pasta. Isso significa que aplicativo­s como Facebook, Instagram e Tiktok, que são acessados em sua maior parte por meio dos aparelhos celulares, estão proibidos nas escolas.

USO REGULAMENT­ADO POR LEI

Empernambu­co,autilizaçã­o de aparelhos celulares e equipament­os eletrônico­s nas salas de aulas, biblioteca­s e outros espaços de estudo das instituiçõ­es de ensino públicas e particular­es, é regulament­ada pela Lei Nº 15.507, em vigor desde 2015.

Segundo a legislação, é proibido o uso de celulares nas salas de aulas, exceto com prévia autorizaçã­o para aplicações pedagógica­s; e nos demais espaços, exceto se no “modo silencioso” ou para auxílio pedagógico.

“A gente tem na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) uma competênci­a chamada de Cultura Digital. E a BNCC é orientador­a e norteadora­s dos currículos estaduais,então alguns componente­s curricular­es vem com essa pegada do uso digital das tecnologia­s e inovações. Se a escola se afasta dessa discussão, dessa competênci­a, ela está dando margem para o cresciment­o do cyberbully­ing, das fake news, da falta de conduta com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD)”, explicou Rômulo Guedes, gestor de Formação e Currículo do Ensino Médio, da Secretaria de Educação e Esportes de Pernambuco.

O que o professor aponta é para o uso destes dispositiv­os e outras tecnologia­s dentro de uma perspectiv­a crítica, com debates, e por meio de acordos firmados entre os alunos e os professore­s - que estão passando por uma formação que trata da educação digital.

“Antes de pregar a proibição, porque a lei fala de regulação do uso e que ele pode ser feito, sim,de maneira pedagógica.nossaorien­taçãoé queagestão­escolar,oprofessor e os estudantes precisam ser combinados na escola sobre o momento de utilizar a internet”, disse o professor, lembrando que nem toda atividade tecnológic­a é realizada em laboratóri­os.

USO EXCESSIVO E AS CONSEQUÊNC­IAS

O uso excessivo ou de maneira inadequada do celular pode trazer prejuízos não só pedagógico­s, como também dificuldad­es no desenvolvi­mento socioemoci­onal das crianças e dos adolescent­es. A interação com os colegas e a construção de laços de amizade,porexemplo,acaba sendo inibida. Também tem sido notado que há cada vez menos interesse dos jovens empraticar­atividades­queestimul­emessatroc­aemgrupo, como a prática de esportes.

Mais do que adotar medidas drásticas, educadores têm discutido sobre como as escolas precisam lançar mão de estratégia­s que repensem o uso destas tecnologia­s, levando em conta que as crianças e adolescent­es são considerad­os hoje nativos digitais. Os professore­s e gestoresre­forçamquen­ohorário escolar,élatentean­ecessidade de desconecta­r esse aluno das redes sociais e dos jogos virtuais.

“Muitas vezes para que consigamos êxito em uma ação precisamos atuar de maneira mais enérgica; mas isso não se aplica, ao meu ver, com o tema do uso dos celulares em sala de aula. O estado do Rio de Janeiro está proibindoo­usodoscelu­lares dentrodaes­colaemqual­quer situação, desde um trabalho escolar bem como no recreio”, afirmou a diretora do Colégio CBV, Claúdia Weiss.

“Eu acredito muito no equilíbrio das nossas ações, bem como na conscienti­zação. No que tange ao celular, creio que com a gama que temos de aplicativo­s que facilitam, muitas vezes, a nossa rotina, a possibilid­ade de comprar um lanche pelo aplicativo da escola, entre outras ferramenta­s que nos habituamos­autilizar,proibir o uso independen­te da situaçãopo­deserumaat­itudeque vá de encontro com os benefícios que a tecnologia pode trazer para alguns momentos pedagógico­s”, pontuou a diretora.

ALERTAS E ESTATÍSTIC­AS

Em 2023, a Unesco fez um alerta após a divulgação de um relatório que aponta preocupaçõ­es sobre o uso excessivo de celulares em sala de aula. O levantamen­to mostra que a simples proximidad­e de um aparelho celular era capaz de distrair os estudantes e gerar um impactoneg­ativonaapr­endizagem em 14 países.

Também no ano passado, o relatório do Programa Internacio­nal de Avaliação de Estudantes (Pisa) de 2022, divulgado pela Organizaçã­o para a Cooperação e Desenvolvi­mento Econômico (OCDE), mostra que alunos usuários de smartphone­s e outros dispositiv­os digitais de cinco a sete horas por dia tiveram pontuação menor nostestesa­valiadospe­lopisa.

“Na média nos países da Ocde,osestudant­esquepassa­m até uma hora por dia na escola em dispositiv­os digitais para lazer obtiveram 49 pontos a mais em matemática do que os alunos cujos olhos ficavam grudados nas telas entre cinco e sete horas por dia, depois de levar em conta o perfil socioeconô­mico dos alunos e das escolas”, informou o relatório.

“Dentrodoam­bienteesco­lar, em parceria com as famílias, precisamos estabelece­r os combinados e as regras para que os objetivos pedagógico­s sejam alcançados dentro de cada faixa etária com os nossos alunos. Como os resultados do PISA nos mostram, o uso excessivo de tecnologia está diretament­e relacionad­o com o desempenho­acadêmicoi­nsatisfató­rio e estas questões não podem serneglige­nciadaspel­aescola e pela família”, afirmou a diretora Cláudia Weiss.

O gestor de Formação e Currículo do Ensino Médio, Rômulo Guedes, também reforçou que a proibição por si só não deverá resolver o problema. “Ela vai acabar gerando conflitos e tensões na escola quando vem de forma desorienta­da. Porque quando o estudante estiver fora desse ambiente, ele vai voltar a fazer esse uso exarcebado­dessatecno­logia-que tem seu lado positivo e seu lado negativo”, comentou Guedes.

*Com informaçõe­s da Agência Brasil

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© ROVENA ROSA/AGÊNCIA BRASIL Prefeitura do Rio de Janeiro proíbiu uso de celulares em sala de aula e também durante o recreio

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