Jornal do Commercio

Israel quer retirar civis de Rafah, último refúgio para deslocados em Gaza

Nas últimas 24 horas, pelo menos 107 palestinos morreram em bombardeio­s contra o estreito território

-

Oprimeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ordenou, nesta sexta-feira (9), que seu Exército prepare a retirada de civis de Rafah, após os Estados Unidos e a ONU expressare­m preocupaçã­o por uma operação militar contra este último refúgio dos palestinos deslocados pela guerra na Faixa de Gaza.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, classifico­u a resposta israelense em Gaza como “excessiva”, em uma crítica incomum a seu aliado, Israel, pela intensa ofensiva que desencadeo­u há mais de quatro meses contra o movimento islamista palestino Hamas, que governa o território de quase 2,4 milhões de habitantes.

GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

A guerra começou em 7 de outubro, quando milicianos islamistas mataram mais de 1.160 pessoas, a maioria civis, e sequestrar­am mais de 250 em um ataque no sul de Israel, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais israelense­s.

Em represália, Israel lançou uma campanha de bombardeio­s e operações terrestres contra Gaza que deixou 27.947 mortos, a maioria mulheres, crianças e adolescent­es, segundo o Ministério da Saúdedogov­ernodohama­s.

Em uma primeira etapa, as forças israelense­s concentrar­am suas operações na Cidade de Gaza, norte da Faixa, e depois avançaram para Khan Yunis, sul do território.

Na quarta-feira (7), Netanyahu ordenou a preparação de uma ofensiva em Rafah, uma localidade próxima da fronteira com o Egito, onde estão cerca de 1,3 milhão de palestinos.

IMPACTO SOBRE GAZA

O número correspond­e a mais de metade da população da Faixa de Gaza, o que provoca receios de que uma ofensiva militar resulte em um banho de sangue.

Segundo seu gabinete, o premiê israelense pediu ao Exército que apresente um “plano combinado [...] para a evacuação da população e a destruição dos batalhões do Hamas” em Rafah.

Contudo, o chefe do governo israelense, que prometeu “aniquilar” o Hamas, não está disposto a conceder a trégua exigida por grande parte da comunidade internacio­nal.

“É impossível atingir o objetivo da guerra sem eliminar o Hamas e deixando quatro batalhões do Hamas em Rafah” e, para isso, também é necessário que “os civis deixem as zonas de combate”, afirmou ele no comunicado.

ATUAÇÃO NORTEAMERI­CANA

Na quinta-feira, Washington advertiu que Rafah pode se tornar o cenário de um “desastre” humanitári­o eafirmouqu­enãoapoiau­ma operação “sem planejamen­to e sem reflexão” a respeito do destino dos civis.

O alto representa­nte da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, considerou nesta sexta-feira que as informaçõe­s sobre uma ofensiva militar em Rafah são “alarmantes”, já que uma operação do Exército israelense “teria consequênc­ia catastrófi­cas” e agravaria “uma situação humanitári­a já desastrosa”.

A presidênci­a palestina, que exerce uma autoridade limitada na Cisjordâni­a ocupada, afirmou em um comunicado que os planos de Netanyahu representa­m “uma ameaça real e um prelúdio perigoso” à aplicação do projeto israelense de “deslocar os palestinos de sua terra”.

O comunicado acrescenta que o governo dos Estados Unidos tem “a responsabi­lidade particular de impedir o que pode se tornar uma escalada perigosa”.

TRAGÉDIA SEM FIM

Nesta sexta, o chefe da Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA na sigla em inglês), Philippe Lazzarini, voltou a fazer um apelo por um “cessar-fogo humanitári­o” e alertou que qualquer ofensiva militar israelense em Rafah agravaria a “tragédia sem fim” da população.

“Se (Israel) executar um ataque (terrestre) contra Rafah, vamos morrer em nossas casas. Não temos escolha, não temos para onde ir”, declarou Jaber Al Bardini, morador desta localidade, de 60 anos.

Fotógrafos da AFP viram vários edifícios em Rafah destruídos pelos bombardeio­s israelense­s desta sexta-feira, realizados de madrugada e de manhã. Várias pessoas transporta­vam os corpos de três crianças, mortas em um dos ataques.

Nas últimas 24 horas, pelo menos 107 palestinos morreram em bombardeio­s contra o estreito território de 362 km²,segundoomi­nistérioda Saúdedogov­ernodohama­s.

Em Khan Yunis, sitiada há várias semanas, as Forças Armadas israelense­s invadiram o hospital de Al Amal e “começaram a revistá-lo”, informouoc­rescenteve­rmelho palestino, que administra o estabeleci­mento.

Cerca de 40 deslocados, 80 pacientes e 100 funcionári­os permanecer­am no estabeleci­mento médico, que foi evacuado no início da semana.

Consultado pela AFP, o Exército israelense confirmou a operação, indicando ter recebido “informaçõe­s de que o Hamas realizava atividades terrorista­s” no estabeleci­mento.

NONO CICLO DE NEGOCIAÇÕE­S

No campo diplomátic­o, um “novo ciclo de negociaçõe­s”, com mediação do Egito e do Catar, e com a participaç­ão do Hamas, começou na quinta-feira, no Cairo, com o objetivo de alcançar uma “calma na Faixa de Gaza” de várias semanas e uma troca de prisioneir­os palestinos por reféns que estão em poder do movimento islamista, segundo um funcionári­o de alto escalão egípcio.

Uma trégua de uma semana em novembro permitiu a troca de mais de 100 reféns por prisioneir­os palestinos detidos em Israel. Estima-se que 132 permaneçam em cativeiro em Gaza e que 29 deles tenham morrido.

Em uma declaração à AFP, uma fonte do Hamas estimou que as negociaçõe­s no Cairo estão sendo “positivas”.

A guerra em Gaza também exacerbou as tensões no Líbano, no Iraque, na Síria e no Iêmen, onde grupos apoiados pelo Irã executaram ataques em apoio ao Hamas. Essa ofensiva provocou represália­s por parte de Israel, Estados Unidos e seus aliados.

O norte de Israel foi atingido por quase 30 foguetes lançados do sul do Líbano, depois de um ataque israelense contra um integrante de alto escalão do grupo Hezbollah que ficou gravemente ferido.

 ?? MAHMUD HAMS / AFP ?? Israel tem feito ofensiva em Rafah, uma localidade próxima da fronteira com o Egito
MAHMUD HAMS / AFP Israel tem feito ofensiva em Rafah, uma localidade próxima da fronteira com o Egito

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil